Apesar das dificuldades financeiras, espaços da Coop-GV se comprometeram a não abrir antes que haja vacina contra Covid
Os doze centros culturais integrantes da Cooperativa de Espaços Culturais Independentes da Grande Vitória (Coop-GV) publicaram na noite dessa segunda-feira (24) uma carta aberta ao governo do Espírito Santo e à sociedade capixaba, na qual se comprometem a não voltar às atividades presenciais, apesar da sinalização do governo neste sentido a partir do início de setembro, para permitir eventos corporativos.
As atividades nestes espaços culturais independentes estão paralisadas há mais de cinco meses, gerando enormes dificuldades. Porém, segundo o grupo, “alinhados com nosso compromisso ético-estético e político, decidimos por não reabrir nossos espaços culturais, mesmo se houver a flexibilização por parte do Governo do Estado”, apontam sobre o avanço dos processos de reabertura mesmo antes de que haja vacina contra o coronavírus que dê garantias de não-transmissão.
Os espaços assinantes da carta afirmam que manterão seus locais fechados para o público e apenas atividades remotas como cursos e lives. “Entendemos que, mesmo seguindo todas as normas de higiene, não podemos garantir a segurança do público por diversos motivos, a exemplo do fato de termos que lidar com materiais que nem sempre poderão ser higienizados com álcool (como livros, objetos e obras de arte, vestuário), ou que não o serão com a frequência necessária”, apontam.
A carta pública critica a pressão que vem sendo feito para que os empreendimentos retomem as atividades apesar do índice ainda alto de contaminação e número de mortes. “Notamos que essa pressão decorre do equívoco recorrente de uma sociedade que prioriza o capital em detrimento de vidas e na qual as relações comerciais são sempre colocadas em primeiro lugar. Repudiamos, assim, todas as práticas cruéis de não proteção à vida realizadas em benefício de interesses financeiros; e nos comprometemos aqui, mesmo passando por sérias dificuldades financeiras, a não expor nossos trabalhadores e nem nosso público”, afirmam, considerando que o momento ainda é muito delicado em termos sanitários.
Por outro lado também pediram que o governo tome medidas para socorrer o setor cultural e em especial os espaços culturais, que são utilizados por grupos e coletivos com atividades de teatro, dança, música, artes visuais, audiovisual, literatura, circo, biblioteca, moda, design e outros. Na maioria das vezes, são essas atividades como shows, espetáculos, oficinas, cursos e capacitações que garantem o giro de recursos para manutenção dos custos como aluguel e contas de água, energia, telefone, internet e outros, necessários para manutenção dos espaços.
A nível nacional, durante a pandemia foi aprovada, sancionada e regulamentada a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, que vai resultar num investimento recorde no setor cultural, com R$ 3 bilhões destinados a alcançar todos estados e município do Brasil, incluindo mais de R$ 58 milhões para apoiar trabalhadores, espaços e projetos culturais no Espírito Santo. Os recursos são originários de verbas do fundo nacional de cultura e outras fontes federais, porém ainda não termina os trâmites burocráticos. Embora o repasse dos recursos pareça estar próximo, ainda serão necessários regulamentação a nível estadual e municipal e o cadastramento e aprovação dos beneficiados, o que ainda pode levar um tempo para que a verba chegue até a ponta, aos trabalhadores e espaços de arte e cultura.
Em anúncio do dia 14 de agosto, o governador Renato Casagrande (PSB) aponta que uma série de eventos corporativos e acadêmicos como palestras, seminários e congressos serão liberados mediante adoção de protocolos elaborados junto aos setores relacionados para garantir a não aglomeração, manutenção do distanciamento e uso de máscaras e produtos de higiene necessários. A abertura de museus já está permitida desde o início de agosto e, para setembro, o governo passará a permitir abertura de galerias, acervos culturais e bibliotecas, respeitando os protocolos. Teatros, salas de apresentações e auditórios poderão ser usados para atividades sem público, no qual artistas utilizem as estruturas para se apresentar e transmitir ou gravar suas obras. O governador pontuou que estas medidas de abertura dependem da evolução da pandemia no Estado e podem retroceder caso haja aumento dos casos de infecção.
A Frente Parlamentar de Proteção Econômica e Social do Empreendedorismo Capixaba, liderada pelo deputado estadual Alexandre Xambinho (PL), vinha cobrando junto a produtores culturais e empresários do setor a inclusão pelo governo do Estado da cultura nos estudos da Matriz de Risco da Covid-19 e agora pressiona pelo anúncio dos protocolos para o retorno das atividades. Em evento da Frente Parlamentar, o secretário estadual de Cultura, Fabrício Noronha, indicou que a previsão do governo é de que as confraternizações sociais, clubes, cerimoniais, condomínios, teatros, cinema e circo possam voltar a ser permitidas a partir de novembro, com público reduzido e protocolos estabelecidos. “O setor de entretenimento que inclui shows e festas, ainda precisa de maior atenção e ainda não temos uma previsão para reabertura”, explicou.