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Carreata reforça críticas ao retorno das aulas presenciais no Estado

Cerca de 300 carros passaram pelo Palácio Anchieta e Sedu. Entidades dizem que protocolo Covid-19 não é aplicável

comunidade escolar realizou uma carreata pelas ruas de Vitória na manhã desta quinta-feira (27), para se manifestar contra o retorno das aulas presenciais durante a pandemia do coronavírus. Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), Adriano Albertino, cerca de 300 carros saíram do Tancredão, na Ilha do Príncipe, onde foi a concentração. Houve uma pausa em frente ao Palácio Anchieta para a realização de um ato, e outra na Avenida Cezar Hilal, em frente à Secretaria Estadual de Educação (Sedu). 

A carreata foi realizada Sindiupes juntamente com a Associação de Pais de Alunos do Espírito Santo (Assopaes), União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação do Estado (Uncme-ES), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Adriano afirma que o protesto cumpriu seu propósito de mostrar o posicionamento contrário ao retorno das aulas e destaca a participação de outras entidades da sociedade civil, como o Movimento Negro Unificado (MNU), União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES). 

Ele acredita que a adesão à manifestação é uma vitória diante do pronunciamento feito pelo governador Renato Casagrande (PSB) e pelo secretário de Estado de Educação, Vitor de Angelo, nessa quarta-feira (26), quando anunciaram que a educação básica, que abrange a educação infantil, o ensino fundamental I e II e o ensino médio, ainda não tem previsão de retorno. “O governador sempre se pronuncia sobre esse assunto nas sextas-feiras, mas dessa vez foi na quarta, véspera da carreata, para desmobilizar”, aponta.
O diretor do Sindiupes tece críticas à portaria conjunta das secretarias de Estado da Saúde e da Educação (Sesa e Sedu) com o protocolo sanitário de retorno às aulas presenciais, publicada em oito de agosto. De acordo com ele, o protocolo não é aplicável. “Os donos de escolas privadas afirmam que podem aplicar, nós não respondemos por eles, mas respondemos pela escola pública, conhecemos a realidade, e reforçamos que o protocolo não é aplicável”, enfatiza. Adriano destaca que muitas escolas públicas não têm água, banheiros estruturados, sala com ventilação, entre outras exigências necessárias para a prevenção à Covid-19.
Ele salienta, ainda, que em uma sala de aula com 20, 30 alunos, não é possível fazer espaçamento de dois metros entre uma cadeira e outra, sendo a interação parte do processo ensino-aprendizagem. “Os alunos interagem entre si e com o professor. Involuntariamente, se tocam, se abraçam. O ser humano aprende um com o outro. Não tem como isolar dentro de uma sala de aula”, desabafa Adriano, que critica o governo Renato Casagrande por ouvir os donos de escolas privadas em detrimento dos trabalhadores do ensino público. 
Adriano lembra que o Sindiupes se retirou do Grupo de Trabalho (GT) no qual estavam sendo discutidas, entre outras questões, o protocolo sanitário de retorno das aulas presenciais. A saída, explica, se deu pelo fato de que o governo estava dando ampla voz para os donos de escolas privadas. “Mais de 80% dos estudantes do Espírito Santo são da rede pública de ensino, mas o governo quer ouvir os donos de escola. Não dá para estarmos à mercê de meia dúzia para decidir algo que impacta a vida de mais de 80%”, defende. 
Para o diretor do Sindiupes, apesar das dificuldades enfrentadas, a manutenção do ensino remoto é a melhor alternativa, mas não há iniciativas do Governo do Estado para desenvolver essa medida. “Não se criou condições de manter a virtualidade enquanto não cessa a pandemia”, critica. Para ele, o retorno presencial requer redução brusca de contaminações e testagem em massa na comunidade escolar.
Aulas presenciais no ensino superior
Nessa quarta-feira (26), a gestão de Renato Casagrande anunciou que está autorizado o retorno das aulas presenciais nas instituições de ensino superior públicas e privadas a partir do dia 14 de setembro, cabendo a cada escola e a cada estudante a decisão da data de retorno. Os anúncios foram feitos em coletiva de imprensa virtual realizada com a presença do governador Renato Casagrande; o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, Coronel Cerqueira; e os secretários de Estado de Educação e de Saúde, Vitor de Angelo e Nésio Fernandes, respectivamente. 
“A instituição pública ou privada que quiser retornar, pode retornar. Com protocolo: revezamento, medição de temperatura, isolamento dos grupos de risco. Quem não quiser retornar pode continuar com ensino à distância”, resumiu Casagrande. E os estudantes que não puderem retornar ou não se sentirem seguros para tal, terão como opção requerer o início ou a manutenção das aulas remotas ou trancar a matrícula.
O secretário Vitor de Ângelo destacou que o protocolo divulgado em oito de agosto estabelece normas para a obrigatoriedade da higienização das mãos, do uso de máscara, da medição de temperatura, do distanciamento social e do revezamento dos alunos, seja um revezamento físico, onde metade da turma vai à sala de aula por vez, podendo o rodízio ser diário, semanal ou de outra periodicidade. O revezamento também pode ser com parte da turma em aula presencial e outra, de forma síncrona, acompanhando a mesma aula de forma remota. 

O plano estabelece ainda a “corresponsabilização de todas as pessoas envolvidas”, não só o governo. “Responsabilização no sentido de apropriar-se do que está no documento de forma prática”, disse. 

O governador declarou entender que, com os protocolos, é mais difícil ocorrer a transmissão nas escolas do que em aglomerações nas ruas que estão acontecendo. “O risco é quase zero”, opinou.
O secretário Nésio Fernandes alegou que “a população que vai pra universidade é jovem e adulta” e que “os protocolos reduzem o risco”, por isso ainda não foi autorizada a retomada das aulas em toda a comunidade escolar, pois “a adesão a essas medidas é mais simples nessa idade [universitária]”.
Ainda sobre as decisões pessoais de retorno, Vitor de Angelo disse que o fato de a educação superior não ser obrigatória no Brasil “facilita” os arranjos que cada instituição poderá criar, para atender às necessidades de seus estudantes. “Não vejo dificuldades”, disse.

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