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À flor da pele

De acordo com um estudo recente, apenas 31% dos homens lavavam as mãos ao usar o banheiro

As novelas americanas, que duram anos e passam nos horários menos nobres, ou seja, à tarde, levam o estranho nome de ópera do sabonete, porque eram mantidas pelos comerciais de sabonete. Melhor dizer no singular, pois eram comerciais de apenas um sabonete, e as novelas foram criadas com o fim específico de divulgar e motivar as pessoas a usar essa grande novidade do mercado – o sabonete. Quer dizer, a televisão nos States já entrava em todas as casas, mas o uso diário do sabonete veio muito depois.

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De volta ao passado: em 1937 havia uma novela de rádio para promover um sabonete – muito popular, a novela resistiu até 2009, sendo o programa de mais longa duração na história do rádio. O programa não pertencia à emissora, mas ao fabricante do sabonete, que lançou mais de 20 novelas de rádio e televisão, com o fim específico de ensinar os americanos a usarem sabonetes para o banho e a lavagem das mãos, principalmente os homens. De acordo com um estudo não muito antigo, apenas 31% dos homens lavavam as mãos ao usar o banheiro. Num tempo sem pesquisas, conheci uma pessoa que jamais aceitava um aperto de mãos masculino.

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Isso não quer dizer que o sabonete e o sabão não existiam, mas eram pouco usados. Em suas viagens à China e Índia, Marco Polo ficou pasmo em ver que as pessoas tomavam banho frequentemente, em oposição aos europeus. O historiador francês Jules Michelet descreveu a Idade Média na Europa como “Os mil anos sem banho”. Por isso os leques eram moda: ninguém aguentava o cecê. O que não nos surpreende, porque os portugueses que aqui chegaram nos primórdios do genocídio indígena, ficaram também surpresos com o costume dos silvícolas de se banharem diariamente. Aprendemos com eles.

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O mercado de higiene pessoal nos States hoje alcança os cem bilhões de dólares, mais às vezes nos empurrando produtos totalmente desnecessários – óleos essenciais, hidratantes, amaciantes, limpeza, conservação… a lista é longa. Lembro dos anúncios do sabonete Lux com as estrelas mais famosas de Hollywood: nove entre dez estrelas de cinema usam Lux”. Apareciam em todas as revistas, no Brasil e no mundo todo – a gente acreditava e queria usar também. A Lever faturou anos em cima da novidade, sem pagar nem um centavo a nenhuma dessas faces famosas, de pele impecável, porque nenhuma delas pensou em reclamar ou exigir compensação.

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A gente se debatia sobre qual comprar: Lever ou Gessy? Sem saber que eram farinha do mesmo saco. Na atual conjuntura, dizem que as filas nas pias dos banheiros masculinos estão cada dia mais longas. O sabonete virou produto essencial, e aprendemos como lavar as mãos do jeito certo,- 20 segundos, ou cante o parabéns-pra-você duas vezes. Um hábito que com certeza veio para ficar. Eu canto três vezes, seguro morreu de velho. Perguntaram a Einstein porque não usava creme de barbear: “Usar dois sabonetes? Muito complicado”.

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