Apoio do Estado para compra de equipamentos por professores e alunos é reivindicado em PLs de Majeski e Iriny
O PL nº 433/2020 é voltado aos profissionais da educação em atividade na rede pública estadual para a aquisição de computadores. Já o PL n° 455 foi protocolado por Majeski e Iriny Lopes (PT) e beneficia estudantes provenientes de famílias com renda igual ou inferior a um salário mínimo e meio.
O PL foi apresentado pelos dois parlamentares após uma reunião virtual realizada com representantes de coletivos estudantis no dia 19, quando uma das questões pontuadas pelos estudantes foi a necessidade de fazer um levantamento socioeconômico para identificar quem precisa de auxílio para aquisição de computadores ou tablets e internet.
“Essa é outra questão que vai ter que ser solucionada pelo governo. Como é que os alunos mais carentes vão conseguir algum tipo de acompanhamento, se nós sabemos que há um número considerável que não tem acesso às aulas, porque só tem um celular na casa ou nem isso?”, explana Majeski, acrescentando que durante a tramitação desse PL e as negociações para o auxílio a professores, podem ser acrescentadas soluções para a disponibilização de internet para os servidores e os alunos.
Em sua resposta, disse que, apesar de “extremamente relevante”, esse tipo de estudo “não constituiu nosso foco primeiro e principal” na estruturação do Programa EscoLAR, iniciado em abril. “O nosso primeiro foco foi implementar uma solução com tecnologia ou sem tecnologia, que permitisse a gente manter o processo de aprendizagem dos alunos”.
“O Programa EscoLAR não é um programa necessariamente que envolve tecnologia. Ele pode ter atividade pedagógicas não presenciais como a mediação de tecnologia ou sem a mediação de tecnologia. Essa questão não necessariamente passa pelo acesso à internet”, alegou.
“O que nós podemos fazer nesse momento, nós estamos fazendo”, disse. “Aqui na superintendência de Barra de São Francisco, por exemplo [cidade no noroeste do Estado de onde ele participava da coletiva], a maior parte das atividades remotas é sem mediação de tecnologia. E os indicadores, por incrível que pareça, são superiores aos da média do Estado, no monitoramento que a gente está fazendo, mostrando bem que a tecnologia é importante, mas é possível fazer um trabalho muito efetivo e organizado mesmo sem a mediação de tecnologia”, declarou.
‘Fora da realidade’
Para além da contradição explicitada pelo já alongado tempo de ensino remoto, Majeski levanta ainda a fragilidade do argumento de que há escolas com melhor desempenho que a média. “Qual é a possibilidade das escolas estarem fazendo um acompanhamento criterioso a ponto de falar que está havendo rendimento ou não? Posso até acreditar que algum tipo de avaliação ou acompanhamento há, mas boa parte não está conseguindo, não nesse nível que ele afirma”, expõe o presidente da Frente Parlamentar pela Educação.
A professora de História Camilla Ferreira Paulino, do coletivo Lute-ES, acusa Vitor de Angelo de alienação. “O secretário da educação vive fora da realidade. Fecha os olhos para a realidade escolar”, critica.
“Ele diz que os alunos podem pegar o material impresso, mas esquece que o acesso às escolas as vezes é muito complicado. Por exemplo, na escola aqui de Coqueiral de Aracruz, Primo Bitti, o ônibus só passa quando tem aula presencial. Então o aluno tem dificuldade para chegar na escola. Fora isso, é muito complicado para o professor corrigir esses exercícios, pois, ou ele tem que ir na escola pegar o material, se expondo ao risco, já que muitos não tem carro próprio, ou a equipe da direção da escola manda foto, muitas da vezes bem depois do lançamento da atividade original, e vira uma bagunça. Ou seja, o que o Vitor de Angelo diz que é uma alternativa, na verdade não funciona”, explica Camilla.
Omissão
Para Liu Katrini, professora integrante do coletivo Sindiupes pela Base, a omissão da Sedu é grave. “O secretário de Educação é totalmente omisso e nós professores temos dado um jeitinho. Os dados que ele apresenta são totalmente contraditórios, pois os professores da rede estadual afirmam que os alunos não estão retornando as atividades. Está havendo baixo aprendizado, e os próprios estudantes afirmam isso. Não houve planejamento e investimento para a implementação das atividades remotas”.
“Falar que estudantes estão aprendendo apenas pegando atividades impressas é um absurdo”, afirma a educadora. “Como eles tiram dúvidas que surgem e têm suas atividades corrigidas?
Precisaria sim de investir em meios tecnológicos, para que os estudantes pudessem ter contato com os professores”, reivindica.
O professor Vinicius Machado tem entendimento semelhante ao das colegas. “A Sedu e o governo lavam as mãos para a falta de acessibilidade e de exclusão de grande parte dos estudantes. Assim como no caso do protocolo sanitário da Sedu/Sesa, no que diz respeito às aulas remotas é ‘cada um por si’, estudantes e profissionais da educação que se virem”, repudia.
“Diversas entidades, coletivos e movimentos sociais deliberaram, em plenária da Frente Popular em Defesa do Direito à Educação, uma série de reivindicações sobre o tema do ensino remoto porque sabemos do problema da exclusão dos estudantes. Porém, a fala do Vitor de Angelo vai na direção contrária, mostra que o governo faz pouco caso e ignora a realidade da maioria dos estudantes”, pleiteia.
O deputado Sergio Majeski, que também é professor, compartilha da visão dos educadores. “Parece que ele [secretário Vitor de Angelo] vive numa realidade paralela”, metaforiza, citando outra incongruência aparente determinada pela Sedu.
Desistência compulsiva?
Por meio da portaria nº 092-R, publicada nesta sexta-feira (28), o gestor da Educação determina que “será considerado desistente da série/ano em que está matriculado em 2020” o aluno que, no período de julho a dezembro deste ano, “não manteve vínculo com a escola por meio do desenvolvimento das APNPs, seja em formato digital ou impresso”.
“Tenho que me inteirar do que exatamente ele está recomendando. É preciso saber: a Secretaria tem uma base de dados que diga que esses alunos não estão acompanhando as atividades remotas porque não quiseram acompanhar? Porque o cancelamento só seria plausível se tivesse dados concretos que provem isso. Como cancelar a matrícula de um aluno que não está fazendo as atividades porque não tem como acompanha-las?”, indaga o deputado.