O retorno das aulas presenciais na Universidade de Vila Velha (UVV), previsto para o próximo dia 14 de setembro, é questionado pelo Centro Acadêmico de Ciências Biológicas (CACB) da instituição de ensino. Uma pesquisa feita entre os alunos do curso, como apontam os estudantes, mostra que 68,6% do corpo discente não é favorável ao retorno das atividades presenciais. Além disso, 86,3% afirmaram que não se sentem seguros em voltar a frequentar presencialmente as aulas.
“Portanto, observa-se que mesmo que haja uma porcentagem que se apresenta favorável ao retorno presencial, a maioria, inclusive os indivíduos favoráveis, sentem-se inseguros a retornar presencialmente, dessa forma, a universidade se dispõe contrária ao posicionamento do corpo estudantil, e coloca seus alunos e funcionários em uma posição de insegurança e, principalmente, de vulnerabilidade”, diz o Centro.
A pesquisa aponta ainda que 72,5% dos alunos não estão inseridos no grupo de risco. No entanto, 78,4% convivem com alguém que esteja. Para o Centro Acadêmico, retomar as atividades seria expor também “27,5% dos alunos que estão inseridos no grupo de risco, bem como as pessoas com quem estes convivem”. O CACB destaca que retomar as atividades presenciais compreende não apenas o espaço universitário, mas principalmente o espaço externo.
Essa afirmação é baseada no fato de que a pesquisa mostrou que 62,7% dos estudantes utilizam transporte público. Diante disso, o Centro Acadêmico salienta que cerca de 30% dos infectados pela Covid-19 no Espírito Santo passaram mais de 30 minutos dentro de ônibus, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). O CACB também destaca que 49% dos alunos demoram em média de 10 a 30 minutos para chegar à instituição, e 21% demoram mais de uma hora, “estando mais tempo expostos a possível contaminação, além de ser um potencial empecilho para a dinâmica de aulas teóricas remotas e práticas presenciais”.
Medidas de segurança são contestadas
Em comunicado divulgado em seu site, a UVV confirma a retomada das aulas presenciais com base na autorização do Governo Renato Casagrande (PSB), anunciada na semana passada. Segundo a UVV, foi desenvolvido um protocolo sanitário, feito “por uma equipe multidisciplinar, composta por membros da área da Saúde, Biossegurança, Segurança do Trabalho e Infraestrutura da UVV”. Entretanto, o Centro Acadêmico de Ciências Biológicas questiona a eficácia do protocolo.
“Apesar de algumas medidas serem importantes, não são suficientes para certificar a segurança dos alunos e funcionários. A obrigatoriedade do uso de máscara, não havendo o fornecimento, não é capaz de averiguar a segurança em si. Portanto, reivindica-se que, além do fornecimento de álcool em gel, a instituição forneça as máscaras para todos os estudantes e funcionários, bem como, o fornecimento individual de um ‘kit-higiene’ que inclua álcool em gel, máscara, sabão, detergente e cloro, levando em consideração os fatores externos apresentados previamente”, diz o CACB.
Os estudantes afirmam, ainda, que “a aferição de temperatura, ao contrário do que a universidade sugere e realiza, não é uma medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pois, além de não haver respaldo científico, a prática sozinha não é eficiente para impedir a propagação do vírus. Isso porque indivíduos infectados podem estar na fase de incubação da doença e não apresentarem sintomas, sendo capazes de transmitir o vírus, sendo uma medida que requer um investimento para um retorno ineficaz”.
Eles reivindicam que haja a testagem periódica de todos os alunos e funcionários. “Ademais, considerando a porcentagem de alunos que utilizam o transporte coletivo público, reivindica-se que haja o fornecimento de meio de transporte não apenas para os alunos, mas também funcionários que utilizam do transporte público para locomoção”.
Entre as outras medidas de segurança contempladas no protocolo, que está disponível no site da instituição de ensino, estão liberação das catracas para evitar contato com superfícies; a utilização de tapete sanitizante; sinalizações para garantir isolamento social; rodízio dos alunos para que uma parte assista a aula presencialmente, e outra, virtualmente, evitando aglomeração.
Aulas opcionais
Segundo a UVV, será permitido aos discentes escolher entre assistir às aulas presencialmente ou permanecer no formato telepresencial, com aulas transmitidas ao vivo. “Essa opção será possível graças aos recentes investimentos tecnológicos realizados pela Instituição, que permitirão que professores transmitam as aulas ao vivo, garantindo que tanto o aluno presencial quanto o telepresencial possam acompanhar o mesmo conteúdo em tempo real”, afirma.
A necessidade de ir até a UVV para transmitir as aulas ao vivo foi questionada pelos professores. Eles estão trabalhando dessa forma desde o dia 10 de agosto e criticaram a obrigatoriedade de deslocamento até a instituição, aumentando os riscos de contaminação por Covid-19. A UVV, acrescentam, também não dá garantias de iniciativas de prevenção no ambiente de trabalho.
Os docentes recordaram que, no primeiro semestre, eles tiveram que se adaptar para dar aulas virtuais em suas próprias casas. Essa metodologia de trabalho, defendem, deve ser mantida no segundo semestre, não somente para evitar a quebra do isolamento ao ter que se deslocar para o trabalho, mas também porque muitos investiram seu próprio dinheiro na compra de equipamentos necessários para dar as aulas virtuais.