O freio de arrumação ocorrido na noite dessa terça-feira (1) na executiva do Republicanos da Serra, afastando aliados do prefeito Audifax Barcelos (Rede), é a consumação de um acerto formalizado ainda no início de 2019. Pelo acordo, desde aquela época o deputado Alexandre Xambinho (PL) seria o legítimo representante do bloco do presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, e do deputado federal Amaro Neto no maior colégio eleitoral do Estado.
A estratégia entra na engrenagem estabelecida pelo trio que comanda o Republicanos no Espírito Santo, formado por Amaro, Erick e o diretor-geral da Assembleia, Roberto Carneiro, que joga para ampliar o cacife eleitoral nas eleições municipais, tendo, no entanto, o olhar voltado para o objetivo principal: ganhar envergadura para a sucessão do governador Renato Casagrande em 2022.
É parte de um projeto de alcançar a hegemonia do poder político no Estado, demarcando áreas no espectro da reeleição do presidente Jair Bolsonaro. A movimentação do Republicanos se encaixa no âmbito da nacionalização das eleições e serve também para demonstrar maior nível de organização dos partidos de direita no Espírito Santo. Estão ancorados principalmente em sofismas utilizados nos anúncios sobre as reformas promovidas pelo presidente, com o apoio da grande mídia, uma das colunas da economia de desmanche do Estado brasileiro introduzida pelo ministro Paulo Guedes.
Diante da ausência de uma ideologia firmada em conceitos voltados para a maioria da sociedade, as siglas se misturam por meio de alinhamentos inexplicáveis, um dos mais recentes o que resultou na retirada de direitos da classe trabalhadora. Ocorreu durante a votação das reformas trabalhista e previdenciária e colocou no mesmo cesto, em estados e municípios, partidos considerados de esquerda, como o PSB, junto a outros da base do governo, que assumem posições opostas na esfera nacional.
O governador Renato Casagrande, por exemplo, secretário-geral do PSB, que foi contra a reforma da Previdência, seguiu o projeto do governo federal e alterou a legislação de aposentadoria de servidores públicos do Estado. Para isso, contou com o apoio de deputados da oposição e conseguiu fortalecer alianças que, mais adiante, desaguaram no controle do PSL, ex-sigla do presidente da República.
Esse movimento gerou repúdio dos bolsonaristas, de todo equivocado, considerando que tanto pela postura de seus integrantes quanto pelos projetos que defendem, o conteúdo político-partidário do PSL se mantém inalterado, com destaque para o autoritarismo e a visão distorcida da democracia.
Ou seja, mudaram os anéis, mas os dedos são os mesmos, no dito popular, o que significa que a expulsão do deputado Capitão Assumção e de outros oposicionistas ao governo do Estado altera muito pouco a configuração político-ideológica da sigla. De outro lado, fortalece programas e projetos à direita, na esfera de poder conduzida pelo governo Bolsonaro, ampliando a área de influência de setores comprometidos com uma política ligada a interesses da elite financeira.
O Republicanos embarca nessa onda, a exemplo do PSL, PP, PTC, Pros e PL, entre outros, o que abre espaço para reintroduzir no mercado políticos reprovados, como o ex-senador Magno Malta e o conhecido ex-deputado carioca Roberto Jefferson, aquele do Mensalão. Ressuscitado por Bolsonaro, chega ao Espírito Santo pelas mãos do pretendente à Prefeitura de Cariacica, o Subtenente Assis, e de Assumção, que terá o controle do partido em Vitória.
O avanço da direita no Estado contrasta com a desarticulação dos partidos progressistas, que se perdem na falta de um sistema de articulação efetivo e de uma comunicação mais objetiva. Resulta na construção de um cenário negativo para o conjunto da sociedade, que, sem opções confiáveis, terá que se contentar com o menos pior na hora da escolher o voto em 15 de novembro.