O Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) dá início na segunda-feira (5) à Jornada de Lutas dos Atingidos e Atingidas “Vale com a justiça nas mãos: 5 anos sem reparação na bacia do rio Doce”. A programação, completamente virtual, segue até o dia cinco de novembro. Nessa data, completam cinco anos do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, que ocasionou mortes de moradores da região e jogou rejeitos tóxicos de minério no Rio Doce, causando danos ambientais, sociais, econômicos e culturais ao longo da bacia.
“Nesses cinco anos não houve reparações e a justiça está conivente com as empresas”, diz o militante do MAB, Heider Boza. Segundo ele, os programas socioeconômicos avançaram pouco, muitas pessoas e comunidades não foram reconhecidas como atingidas. De acordo com o militante do MAB tem pescadores da Grande Vitória que não foram reconhecidos, mas deveriam ser, como os de Jacaraípe e Manguinhos, na Serra, que pescavam no norte do Estado. “Vitória também tem pescadores que pescavam no norte e foram reconhecidos. Nossa luta é para que todos sejam, que todos atingidos tenham o mesmo direito”, diz.
Heider denuncia, ainda, que a Fundação Renova quer voltar atrás no reconhecimento de Conceição da Barra e São Mateus como áreas atingidas. Para isso, manifestou seu desejo ao Comitê Interfederativo (CIF), responsável pela fiscalização das ações de reparação da Renova, mas que ainda não se pronunciou.
A jornada será transmitida pelo Facebook e pelo YouTube do MAB. A primeira atividade será às 10h. Trata-se de um seminário com o ex-relator da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre resíduos tóxicos, Baskut Tuncak. De acordo com o militante do MAB, Baskut irá apresentar o relatório e recomendações feitas diante das consequências do rompimento da barragem. No mesmo dia, às 19h, acontecerá a live de lançamento da jornada, com o deputado federal e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, Helder Salomão (PT), além de atingidos pelo crime e pessoas que, segundo Heider, contribuíram para as lutas do MAB, como o padre Kelder Brandão.
A programação do dia oito contará, às 18h30, com o Encontro Online dos Atingidos e Atingidas do Rio Doce: justiça só com organização popular e luta por direitos. “É uma plenária virtual fechada de balanço das ações feitas pela Renova, pelo MAB, as consequências do rompimento da barragem, e nosso papel enquanto movimento”, explica Heider, afirmando que as conclusões da plenária serão divulgadas posteriormente.
Em 30 de outubro faz parte da programação a inauguração da Casa Solidária, uma residência feita pelos próprios atingidos para mostrar que unidos são mais rápidos do que a Renova. A Fundação, ressalta Heider, ainda não concluiu o reassentamento das comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu de Cima, em Mariana; e Gesteira, em Barra Longa. “Já se passaram cinco anos e até hoje as famílias vivem de aluguel. Falamos: ‘vamos fazer uma casa para mostrar que unidos somos rápidos do que a Renova’. E fizemos”, diz Heider. De acordo com ele, a casa, em Mariana, será doada a uma família atingida.
Também haverá na jornada uma atividade feita especificamente por mulheres, que será o Ato Político Cultural das Mulheres Atingidas em Defesa da Vida, em 31 de outubro, às 14h. “Queremos dar visibilidade ao protagonismo das mulheres na luta e mostrar que o crime atingiu de maneira muito particular as mulheres, que sentiram muito mais dificuldades de serem reconhecidas enquanto atingidas”, diz a militante do MAB, Juliana Stein Nicoli.
No dia três de novembro será o Ato Internacional: violação dos direitos dos atingidos por barragens no mundo. Em cinco de novembro, quando o rompimento da barragem completa cinco anos, haverá intervenções ao longo da bacia do Rio Doce, com faixas e projeções em prédios.