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Casagrande critica posição político-ideológica de Bolsonaro contra vacina chinesa

Presidente disse que não comprará Coronavac horas depois de acordo celebrado entre ministro Pazuello e governadores

Leonardo Sá/Agência Brasil

“Salvar vidas e libertar os brasileiros do coronavírus são objetivos que devem unir todos nós. Adquirir as vacinas, que primeiro estiverem à disposição, deve ser a meta primordial. Nesse contexto não há espaço para discussão sobre assuntos eleitorais ou ideológicos”. 

Com essas palavras, o governador Renato Casagrande (PSB) fez publicação na rede social Twitter na manhã desta quarta-feira (21), em implícita referência à postagem do presidente da República, Jair Bolsonaro feita em suas redes sociais, negando que o Brasil irá utilizar a Coronavac, vacina chinesa contra a Covid-19. 


A negativa de Bolsonaro ocorreu horas depois do anúncio feito pelo Ministério da Saúde da compra de 46 milhões de doses da Coronavac. A notícia foi dada em reunião realizada nessa terça-feira (20) do ministro Eduardo Pazuello com os governadores, incluindo o capixaba, onde foi celebrado um acordo entre o ministério, o governo de São Paulo e o Instituto Butantan
O acordo inclui a transferência de tecnologia por parte da empresa chinesa Sinovac, para que o instituto brasileiro possa fabricar o imunizante em instalações próprias, que estão sendo alvo de reforma e ampliação por parte do governo de João Dória (PSDB) – antigo parceiro político de Bolsonaro e hoje um de seus maiores rivais – por meio de investimentos da ordem de R$ 160 milhões. Com isso, seria possível imunizar de forma igualitária a população brasileira em todos os estados, notícia comemorado pelos governadores. 
O secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, também twittou de forma semelhante a Casagrande: “Quando a gente pensa que vai…precisamos de unidade nacional e acertar como país! Seguiremos resistindo e tratando de criar pontes para encontrar saídas para o Brasil e para a crise derivada da pandemia!”
A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e integrante do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), que assessora o governo do Estado no enfrentamento à pandemia, também desaprovou a guerra ideológica de Bolsonaro. “A pessoa no comando do Brasil é atrasada, não se importa com as vidas, não sabe o que é ciência. Nunca apresentou nenhum projeto de interesse nacional como deputado. Está no comando da maior crise do Século XXI. Não se importa com os brasileiros, mas em agradar seus seguidores”, criticou.

Guerra política

As declarações do presidente da República contra a transferência de tecnologia pela Sinovac tiveram início em uma publicação em suas redes sociais. Conforme noticiou o jornal Folha de S. Paulo, ao responder ao comentário de um jovem de 17 anos que disse querer ter “um futuro, mas sem interferência da ditadura chinesa”, Bolsonaro teria dito, com letras maiúsculas, que “não será comprada”. 
Após mais mensagens de internautas e o crescimento da polêmica nas redes sociais, segundo a reportagem, Bolsonaro disparou para seus ministros e aliados no Congresso. “Alerto que não compraremos uma só dose de vacina da China, bem como o meu governo não mantém qualquer diálogo com João Dória na questão da Covid-19. PR Jair Bolsonaro”, diz a mensagem, segundo divulgou a deputada Bia Kicis (PSL-DF) em uma rede social.
Horas depois, em nova postagem, Bolsonaro novamente criticou o que chama de “vacina chinesa de João Doria”, afirmando que “não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem”, que “qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população, deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa”, que “o povo brasileiro não será cobaia de ninguém”, e que “diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina”.

A Folha destacou a contradição da atual postura de Bolsonaro em relação à vacina chinesa – país com o qual trava guerra ideológica por ser adversário dos Estados Unidos – alegando não haver comprovação científica de sua eficácia, visto que a defesa do medicamento cloroquina foi feita ardorosamente, seguindo a posição do presidente Donald Trump. 

“Diferentemente do que fez durante toda a pandemia em relação à hidroxicloroquina, para a vacina, Bolsonaro tem defendido a necessidade de comprovação científica para a aplicação das doses”, ressaltou o jornal, enfatizando outra contradição de Bolsonaro nesse aspecto, já que ele mesmo sancionou uma lei no início do ano que, depois de aprovada no Congresso Nacional, estabelece que “para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, poderão ser adotadas” medidas como “determinação de realização compulsória de “vacinação e outras medidas profiláticas”.
Corrida mundial por todas as vacinas
A Coronavc é uma das nove vacinas em desenvolvimento no mundo para imunizar a população contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2) e integra o rol de vacinas do consórcio Covax, organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo a Agência Brasil, o fundo espera captar US$ 18 bilhões com o investimento de 80 países considerados autofinanciáveis, como o Brasil, para fornecer as vacinas para estes e mais 92 países que não teriam condições de fabricar ou comprar as doses.

Com a adesão, o país vai investir cerca de R$ 2,5 bilhões e espera adquirir um portfólio que, até então, tem nove vacinas em desenvolvimento, para garantir a proteção de 10% da população até o final de 2021.
Em paralelo, o Brasil tem estabelecido acordos bilaterais, em que contratou a transferência de tecnologias não só da chinesa Coronavac, feita entre o governo de São Paulo e o Instituto Butantan, mas também britânica, com a Universidade de Oxford e demais desenvolvedores da AstraZeneca. 
Para a professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) Cristiana Toscano, que integra o Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização (SAGE) da Organização Mundial da Saúde (OMS), os dois acordos dão boas alternativas de imunização ao país, mas alerta que é preciso se apressar no planejamento para preparar os mais de 30 mil postos de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS).

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