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Protesto pede políticas de combate à violência contra a mulher em Anchieta

Grupo de mulheres divulgou carta em que denunciam as estatísticas no município e Estado

O Ato Contra a Violência às Mulheres realizado na tarde desta quinta-feira (22) na praça da Vila Samarco, em Anchieta, sul do Estado, divulgou uma carta política e reivindicatória intitulada “Queremos a cidade de Anchieta segura para as mulheres”. O protesto, segundo o documento, busca “denunciar que há muitas mulheres vítimas de diversas violências nesse município e que estamos lutando pelo fim da opressão machista”.

A carta destaca que as mulheres estão cansadas de ver “cotidianamente as próprias vítimas serem humilhadas e culpabilizadas porque sofreram violência doméstica, sexual, agressões verbais, assédios, homicídios e feminicídios”. Segundo as manifestantes “a luta das mulheres pela sua emancipação no Brasil, no Espírito Santo e em Anchieta, não nos permite ficar caladas. Os dados estatísticos comprovam que nossa organização é fundamental em nosso município e no Espírito Santo”. 

Foto: Cáritas Regional Espírito Santo

Dados apontados no documento apontam que, no Espírito Santo, 89 mulheres foram assassinadas em 2019, sendo 33 casos de feminicídio. Este ano, de janeiro ao inicio deste mês, 70 mulheres foram assassinadas, sendo 17 casos por feminicídio. De janeiro a agosto de 2020 já foram registradas 12.526 ocorrências de violência doméstica e familiar. Em Anchieta, a Secretaria de Estado de Segurança Pública informa que, neste ano, duas mulheres foram assassinadas e, até setembro, já foram registradas 209 ocorrências de violência doméstica e familiar.

“O fenômeno da violência contra as mulheres ainda constitui uma das principais formas de violação dos direitos humanos das mulheres, atingindo-as em seus direitos à vida, à saúde, à integridade física, entre outras dimensões. Nossa sociedade ainda mata, estupra e violenta de diferentes formas as mulheres, isso autorizado por uma perspectiva patriarcal e machista ainda vigente em nossa vida”, ressalta a carta. 

O documento denuncia a falta de políticas públicas de combate à violência contra a mulher no município. “Queremos uma cidade que respeite as mulheres e que esteja preparada para efetivar políticas públicas que considerem essa realidade de desigualdades e violência que vivemos no cotidiano, tanto na cidade como no campo”.
Diante dessa realidade, as mulheres apresentaram reivindicações como apoio à formação mais humanizada dos agentes de saúde; reabertura do Núcleo de Atendimento à Mulher de Anchieta (Nuama) com uma equipe multidisciplinar para atender às demandas específicas das mulheres vítimas de violência; instituição de um Serviço de Responsabilização e Educação do Agressor; identificar e coibir os problemas de violência nas escolas a partir do diálogo com a comunidade educacional e a sociedade civil; e promoção do acesso das mulheres ao programa de crédito fundiário no meio rural e nas comunidades tradicionais.

Ativista é homenageada

Durante a manifestação, a ambientalista, ativista, socióloga e mestra em geografia Luciana Antonini, cujo corpo foi encontrado nesse sábado (17) na Praia da Ponta dos Castelhanos, foi homenageada. A Cáritas Brasileira Regional do Espírito Santo, organização da Igreja Católica que atua em causas humanitárias e a qual Luciana já se dedicou, leu uma nota de pesar. “Toda forma de violência nos atinge brutalmente. É inegável a tristeza desde que recebemos a notícia da morte de Luciana Antonini. Novamente aconteceu, assim como tem ocorrido com tantas mulheres. Repudiamos toda forma de violência, mas o que parece não haver limite é a violência contra a mulher”. 

A Cáritas recorda que Luciana atuou como voluntária na organização de 2016 a 2019, contribuindo nas reflexões para elaboração de projetos e nas reflexões das ações nas quais a Cáritas atua, como convivência com biomas; mudanças climáticas; economia popular solidária; gestão de resíduos sólidos com ênfase nos catadores; população em situação de rua; migrantes, refugiados e apátridas; criança, adolescência e juventudes; povos e comunidades tradicionais; segurança alimentar e nutricional; e mulheres e equidade de gênero.
Rafael Kofler, coordenador da Cáritas, falou sobre a trajetória de Luciana. Foto: Cáritas Regional 

Segundo a Cáritas, a organização “reafirma seu comprometimento em defesa da pessoa em vulnerabilidade”, e reforça que “não aceitamos esse crime como mera estatística. É preciso manter a memória acesa, legado de Luciana, na defesa de projetos que combatam todo tipo de violência, seja ela contra pessoas, animais ou ao meio ambiente, e acreditamos que nosso maior empenho deve ser no combate à violência contra a mulher”. 

‘Bomba de efeito lento e devastador’

Um grupo de cerca de 50 geógrafos que estudaram com Luciana na Universidade de São Paulo (USP) afirmam, em nota, que a notícia de seu falecimento “caiu entre os amigos e contemporâneos como uma bomba de efeito lento e devastador”. De acordo com eles, ” interrompeu-se, ali, um projeto de vida voltado ao Coletivo, à justiça social e ambiental, à igualdade de direitos”. O grupo deseja que “sua morte não tenha sido mais uma na triste estatística de violência contra a mulher”. 
Deputadas se manifestam
A deputada estadual Janete de Sá (PMN) anunciou na sessão ordinária dessa terça-feira (20) que a Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa irá encaminhar ao governador Renato Casagrande e ao secretário estadual de Segurança Pública e Defesa Social, Alexandre Ramalho, um pedido de “investigação profunda” sobre o assassinato da ativista. Janete de Sá afirma que a cidade de Anchieta “ficou consternada por não conseguir entender a razão para um crime desse”. 
Em suas redes sociais, a deputada estadual Iriny Lopes afirmou estar “extremamente chocada com o brutal assassinato da ambientalista e socióloga Luciana Antonini”. Segundo a parlamentar, “além de feminicidio, é preciso investigar se a execução não está relacionada à sua atuação, já que era ambientalista e militante de direitos humanos”. Disse ainda que “o aumento de feminicídios está relacionado ao desmonte das políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres pelo governo federal”.
Afogamento
Em mensagem encaminhada para Século Diário, o tio de Luciana, Ronaldo Câmara, afirmou que “a morte da sobrinha se deu por afogamento”. Ele aponta que “ela foi tomar banho de mar, mas a ressaca jogou seu corpo contra as pedras da calçada, que provavelmente a fez desmaiar e causou o afogamento por asfixia”. Ronaldo cita um laudo e diz que, para ele, Luciana “sempre será uma menina adorável, brincalhona, inteligente culta, com uma formação acadêmica invejável, alegre com alma cigana que morou em diversas cidades do Brasil e do exterior”.

A Polícia Civil ainda investiga o caso, ainda sem informações oficiais.

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