Já é o quinto incêndio em um mês. Agricultores pedem ajuda ao MP e à polícia e fazem “vakinha” para cobrir prejuízos
A família Berger está triste e amedrontada. A propriedade de quatro hectares que possuem em Laranja da Terra, na região sudoeste serrana, com certificação orgânica desde 2011, teve quase toda plantação e sistema de irrigação destruídos, salvando-se apenas a área de residência. Foi o quinto incêndio em pouco mais de um mês, todos devidamente registrados por Boletins de Ocorrência (B.O) na polícia, sob acusação de terem sido criminosos, com focos implantados no local, já que a área possui uma barreira verde para isolamento e proteção do plantio orgânico.
A família recebeu visita do Ministério Público Estadual (MPES) na última quarta-feira (21) e pede medidas de proteção policial diante das ameaças. A suspeita é de que os ataques possam envolver os interesses de construção de uma estrada e uma ponte na região rural em que vivem. A família informou à polícia ter conhecimento de grupos de WhatsApp do município com comentários contrários à paralisação do asfaltamento na região.
Entre os entraves da obra está uma propriedade privada onde seria feito um trevo, em que o proprietário questiona o baixo valor da desapropriação, e a construção de uma ponte na área da família Berger, cuja obra afetou a nascente que abastece a propriedade, localizada em Área de Preservação Permanente (APP), conforme registrado em laudo em outubro do ano passado, após visita técnica do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf). Segundo o laudo, não houve escavação com máquinas, mas foi registrada retirada de árvores e vegetação no entorno da nascente. A família também registrou o aterro de um poço artesiano pelas obras.
Sobre a questão da estrada, o próprio prefeito de Laranja da Terra, Josafá Storch (MDB), candidato à reeleição, foi até o local e fez um vídeo, inclusive em cima da ponte, apelando ao Executivo estadual, responsável pela obra, ao poder judiciário e aos proprietários para que cheguem a um acordo.
A família entende que o vídeo do prefeito coloca ainda mais pressão sobre eles, que não se opõem ao asfaltamento, apenas querem preservar os recursos hídricos necessários à sobrevivência. “Quem não tem acordo são eles. A gente concordou em doar uma parte, fazer uma caixa seca, mas eles não entram em acordo. Se doar, queremos documento que registre que estamos doando”, afirma Maria.
Enquanto aguarda as decisões legais e se vê sem capacidade de produzir e gerar renda, a família Berger deu início a uma vakinha online apelando à solidariedade para ajudar a recuperar as perdas, que envolvem a colheita que era esperada e também boa parte do sistema de irrigação, cuja reposição totaliza mais de R$ 20 mil.
Com os materiais, ainda levariam mais de um ano para conseguir recuperar condição de produção próxima ao que tinham antes do incêndio.