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‘Possibilidade de crime de mando não pode ser descartada’

Em ofício a Casagrande, Cáritas e a CPDH cobram investigação da morte da ativista Luciana Antonini em Anchieta

“A versão de asfixia por afogamento, veiculada pela imprensa, não pode desconsiderar a possibilidade do óbito se configurar crime de mando, com conotação política”. É o que dizem a Comissão da Promoção da Dignidade da Pessoa Humana (CPDH) e a Cáritas Brasileira Regional Espírito Santo sobre a morte da ativista, ambientalista, socióloga e mestra em geografia, Luciana Antonini, ocorrida em 17 de outubro na Praia da Ponta dos Castelhanos, em Anchieta, sul do Estado. 

A afirmação consta em ofício protocolado na tarde desta terça-feira (3) ao governador Renato Casagrande (PSB), no qual reivindicam a investigação da morte. As entidades também protocolaram documento no Ministério Público do Espírito Santo (MPES), solicitando o acompanhamento do caso.

Segundo a CPDH e a Cáritas, a possibilidade de crime de mando é plausível diante da atuação de Luciana Antonini em defesa do meio ambiente. Apontam, também, que o ocorrido pode ser enquadrado como caso de feminicídi e “cobram uma atitude de investigação isenta e diligente, considerando as circunstâncias que envolvem o óbito da ativista, por afogamento e asfixia, com sinais de violência”.

Na ocasião da morte de Luciana, Heloísa Dias, do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e que atua como ponto focal da RBMA no Espírito Santo, também sinalizou para a possibilidade de crime de mando, motivado pela atuação da ativista em defesa do meio ambiente. 

Luciana atuou na RBMA e na Cáritas, organização da Igreja Católica que se dedica a causas humanitárias e que a homenageou durante o Ato Contra a Violência às Mulheres, realizado em 22 de outubro, na praça da Vila Samarco, em Anchieta, quando foi lida uma nota de pesar. “Toda forma de violência nos atinge brutalmente. É inegável a tristeza desde que recebemos a notícia da morte de Luciana Antonini. Novamente aconteceu, assim como tem ocorrido com tantas mulheres. Repudiamos toda forma de violência, mas o que parece não haver limite é a violência contra a mulher”.
Manifestação em Anchieta. Foto: Cáritas Regional Espírito Santo

A Cáritas recordou que Luciana atuou como voluntária na organização de 2016 a 2019, contribuindo nas reflexões para elaboração de projetos e das ações nas quais a Cáritas atua, como convivência com biomas; mudanças climáticas; economia popular solidária; gestão de resíduos sólidos com ênfase nos catadores; população em situação de rua; migrantes, refugiados e apátridas; criança, adolescência e juventudes; povos e comunidades tradicionais; segurança alimentar e nutricional; e mulheres e equidade de gênero.

A Cáritas reafirmou “seu comprometimento em defesa da pessoa em vulnerabilidade”, e reforçou que “não aceitamos esse crime como mera estatística. É preciso manter a memória acesa, legado de Luciana, na defesa de projetos que combatam todo tipo de violência, seja ela contra pessoas, animais ou ao meio ambiente, e acreditamos que nosso maior empenho deve ser no combate à violência contra a mulher”.

À esquerda, Rafael Kofler, coordenador da Cáritas Regional, fala sobre trajetória de Luciana na organização. Foto: Cáritas Regional Espírito Santo.

‘Bomba de efeito lento e devastador’

Um grupo de cerca de 50 geógrafos que estudaram com Luciana na Universidade de São Paulo (USP) também afirmaram, em nota, que a notícia de seu falecimento “caiu entre os amigos e contemporâneos como uma bomba de efeito lento e devastador”. De acordo com eles, ” interrompeu-se, ali, um projeto de vida voltado ao Coletivo, à justiça social e ambiental, à igualdade de direitos”. O grupo deseja que “sua morte não tenha sido mais uma na triste estatística de violência contra a mulher”.

Deputadas se manifestam
A deputada estadual Janete de Sá (PMN) anunciou na sessão ordinária de 20 de outubro que a Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa encaminharia ao governador Renato Casagrande e ao secretário estadual de Segurança Pública e Defesa Social, Alexandre Ramalho, um pedido de “investigação profunda” sobre o assassinato da ativista. 
Em suas redes sociais, a deputada estadual Iriny Lopes se mostrou “extremamente chocada com o brutal assassinato da ambientalista e socióloga Luciana Antonini”. Segundo a parlamentar, “além de feminicidio, é preciso investigar se a execução não está relacionada à sua atuação, já que era ambientalista e militante de direitos humanos”. Disse ainda que “o aumento de feminicídios está relacionado ao desmonte das políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres pelo governo federal”.
Afogamento
Em mensagem encaminhada para Século Diário, o tio de Luciana, Ronaldo Câmara, afirmou que “a morte da sobrinha se deu por afogamento”. Ele aponta que “ela foi tomar banho de mar, mas a ressaca jogou seu corpo contra as pedras da calçada, que provavelmente a fez desmaiar e causou o afogamento por asfixia”. 

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