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Atingido pelo crime da Samarco/Vale-BHP será vereador em São Mateus

Líder de pescadores e povos de manguezal em Campo Grande, Adeci da Sena foi eleito no último domingo

Divulgação

Na comunidade de Campo Grande, litoral sul de São Mateus, o pescador tradicional Adeci Sena se prepara para um novo desafio. No último domingo (15) ele foi eleito vereador do município do norte capixaba, com 573 votos, conseguindo a última vaga na Casa de Leis municipal com a votação obtida pelo partido Cidadania, ao todo 573.

Nascido na região no Natal de 1962, ele chegou a morar em Aracruz com os pais, mas voltou em 1975 a Campo Grande. De lá pra cá, muita coisa mudou. A região, além de sofrer com a extração de petróleo e gás no entorno, foi impactada pela lama de rejeitos de mineração resultantes do rompimento da barragem da Samarco/Vale-BHP em Minas Gerais, que contaminou o Rio Doce e chegou até o litoral capixaba.

O vento e as correntes marítimas levaram rejeitos pelo mar até São Mateus, adentrando também os rios e região de manguezais. A luta para que essas comunidades fossem reconhecidas como atingidas, porém, não foi fácil. Só em março de 2017, um ano e quatro meses depois do crime e depois de muitas lutas e reivindicações, é que os pescadores e marisqueiros da região foram reconhecidos como impactados pela Fundação Renova, responsável por gerenciar os auxílios e indenizações das empresas.

“A gente representa os atingidos de São Mateus, principalmente pescadores artesanais e caranguejeiros, os povos tradicionais dos manguezais, que são parte da nossa cultura. A gente lutou muito para reconhecer nossos territórios como atingidos, na época faltava apoio parlamentar, não tivemos apoio de vereadores, deputados, prefeito. Foi na briga da associação representando que conseguimos avançar”, relata o vereador eleito, que quer levar a situação dos atingidos para ser pensada com mais atenção pela Câmara e prefeitura.

O processo de organização levou ao acordo para implementação de 42 programas da Fundação Renova, com destaque para áreas como cultura, esporte, lazer, turismo, saúde, educação e pesca. Mas ainda falta implementá-los plenamente, e a presença de uma liderança na representação institucional pode ser um fator de colaboração para cobrar a Fundação Renova, que tem sido questionada por atingidos em diversas regiões.

Divulgação

Adeci já havia sido candidato a vereador em 2004 e 2012. “Em 2016 desisti. Mas em 2020, vendo o sofrimento do povo, lancei a candidatura representando os povos tradicionais. Foi uma campanha pé no chão, sem dinheiro, construí através do trabalho que vinha sendo feito com os povos tradicionais dos manguezais”, conta. Além de Campo Grande, ele contou com apoio em regiões adjacentes como Barra Nova, Nativo e Urussuquara, e também na região central do município.

“Meu foco mesmo é representar o município com qualidade. Estar presente quando tiver algo que for trazer benefício para o município de São Mateus e região, não só em relação aos povos tradicionais, mas de toda população”, explica Adeci.

Sobre Campo Grande e arredores, o futuro vereador considera que falta um olhar mais atencioso e mais investimentos públicos, especialmente em saúde, educação e renda. Embora representantes da região já tenham ocupada cadeira na Câmara, Adeci da Sena considera que não havia atenção para a questão da pesca, que é a fonte de renda da maioria da população de sua comunidade.

A articulação ainda como candidato foi para tentar valorizar os pescadores artesanais. Segundo conta, ao aceitar fazer parte da coligação que reelegeu Daniel Santana (PSDB), o Daniel da Açaí, negociou o retorno da Secretaria de Aquicultura e Pesca, já que as pastas hoje estão ligadas à secretaria de Agricultura.

Segundo o vereador eleito, a promessa será cumprida e a secretaria será comandada pelos pescadores. Para construir as políticas, afirma que há pescadores capacitados, com formação técnica e superior e liderança na categoria para exercerem as atividades e comandar as políticas para essa população, que ele estima chegar a ser profissão de 7 mil pessoas no município. Com a contaminação do mar e alguns rios e mangues, Adeci enxerga como uma alternativa para a renda a implantação de tanques para aquicultura.

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