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Galeria OÁ estreia novo espaço para a arte contemporânea em Vitória

Com tons de preto, branco e cinza, exposição coletiva AR reúne 11 artistas e provoca reflexões sobre os tempos pandêmicos

Divulgação

Do lado de fora, as finas grades cobertas por folhas e flores de um bougainville anunciam um ponto acolhedor em meio ao movimento incessante da Avenida Cézar Hilal, importante ponto de passagem em Vitória. Uma placa anuncia com duas letras: OÁ. Esse é o nome de uma das mais destacadas galerias de arte contemporânea da capital capixaba, que vem ganhando projeção a nível nacional. Porém mais acima, outra placa, aparentemente perdida na fachada ou pretensiosamente semi-escondida diz com fontes diferentes a cada letra: fôLeGO. Um sinal de que a arte nem sempre é calmaria, pelo contrário, é provocação.

Esta segunda placa é obra do artista Fredone Fone, um dos 11 que compõem com obras a exposição coletiva presente no interior da galeria, que reúne também outros artistas do catálogo da OÁ, como Aline Moreno, Ana Helena Cazzani, Bel Barcellos, Maurício Parra, Raquel Garbelotti e Rick Rodrigues, e três estreantes, Edgar Racy, Renato Leal e Caroline Veilson, que realizam o primeiro trabalho junto à galeria, somando na composição

Algumas questões comuns tecem diálogos entre os artistas e suas obras expostas. Uma delas, visível desde a entrada no espaço, são as cores preto e branco predominantes, além de alguns tons de cinza. “A curadoria foi feita com base nessas cores como se fosse uma pausa, um ano de pausa. É muito interessante que há uma conversa entre os trabalhos e artistas que estão aqui. Tem muito texto e diferentes materiais e técnicas usadas nas obras”, explica a curadora Thais Hilal, que é diretora da OÁ. Em atividade desde 2007, a galeria que funcionava em Consolação, em anexo a sua residência, agora está em novo local.

Divulgação

O espaço com pé direito alto que abriga o escritório e a galeria da OÁ seria inaugurado em março deste ano, sendo surpreendido pelas medidas de distanciamento social que impediram o cronograma. A inauguração aconteceu então de forma virtual em agosto, com a exposição “éamesmasómudamas”, de artista Hilal Sami Hilal, preparada para SP-Arte, importante feira internacional de arte moderna e contemporânea na capital paulista que este ano aconteceu de forma virtual.

Agora, diante das atuais normas sanitárias, a OÁ inaugura sua segunda exposição buscando aliar a apresentação virtual pelo uso de suas redes com as visitas que podem ser feitas mediante agendamento prévio.

Não à toa, Fredone começa sua intervenção do lado de fora. Grafiteiro acostumado a ocupar as fachadas com ou sem permissão, o que contribui para seu desenvolvimento artístico, ele traz no interior da galeria uma série de quadros a partir de recortes-colagens digitais de matérias de jornais locais que criminalizam a prática do graffiti, aqui no Brasil também conhecido como picho.

Mas logo ao entrar pela porta, o que o visitante vai encontrar é o trabalho fotográfico de Zorzal, que fixa o olhar sobre o livro Ensaio sobre a Cegueira, do escritor português José Saramago, extraindo de seu texto frases que trazem analogias possíveis aos tempos atuais de pandemia. “Ensaio sobre a cegueira” é o nome da obra.

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Edgar Racy trouxe quadros construídos com resto de carvão e louças, levando a reflexões que vêm angustiado a maioria dos brasileiros nos últimos meses: a fome e as queimadas. Caroline Veilson usa como plataforma as páginas de um livro que fala sobre transmissão de doenças causadas por agentes patológicos. Bel Barcellos e Rick Rodrigues trabalham com bordados que refletem certa melancolia e solidão.

O desenho natural com o pó de minério tão familiar aos capixabas compõe a obra apresentada por Raquel Garbelotti, com duas caixas-quadros, emolduradas, que se mudadas de lado, tal como ampulhetas, refazem os traços deixados pelo minério. E por aí seguem as demais obras, entre branco, preto e cinza, entre o ar que, contraditoriamente, nos dá vida e nos adoece.

Com objetivo de comercializar obras de arte, as galerias, como outros setores, tiveram que se readequar aos momentos de pandemia. Segundo Thais Hilal, com a impossibilidade de expor os produtos de forma física, foi o momento de trabalhar e desenvolver as plataformas virtuais, a partir das quais foram surgindo novas possibilidades e articulações como o grupo p.art.ilha, que passou a reunir diversas galerias para ação conjunta durante a pandemia para promover o mercado da arte.

A preocupação inicial deu lugar a novas possibilidades. “Surpreendeu que houve um interesse muito grande em adquirir peças de arte, o mercado não parou. Diante da crise, muitos não tinham onde aplicar e a arte é um ativo financeiro muito potente para colecionadores. Acabou sendo um período bom para o mercado das artes, com um boom no mundo inteiro”, analisa.

Para além das questões financeiras, e pensando no papel da arte como promotora de provocações para pensar o contemporâneo, Thais Hilal reflete. “Tem pontos benéficos nessas história toda [da pandemia]. De pisar um pouco no freio e ver que tinha muita coisa errada, todo mundo passando por cima de tudo, o dinheiro como fator principal da vida, e a gente viu que não é isso. Se não tiver saúde, afeto, amigos, pode ter o maior dinheiro do mundo, que não vai preencher sua felicidade. As coisas mais necessárias não são tão palpáveis”.

O contato para visitas à Galeria OÁ pode ser feito pelos telefones (27) 3094-1177 e (27) 99944-5001 ou pelo email [email protected].


Fredone: de Serra Dourada para o mundo

Foto: Javier Ayarza   Filho de um pedreiro e de uma auxiliar de serviços gerais, Frederico começou a se interessar pelas artes aind


https://www.seculodiario.com.br/cultura/fredone-de-serra-dourada-para-o-mundo

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