Em Pinheiros, 130 famílias sem-terra lutam para não serem despejadas na pandemia de terras reivindicadas pela Suzano
Considerada uma vitória parcial pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a reunião que aconteceria nesta terça-feira (8) com a Polícia Militar (PM) para preparação do despejo das cerca de 130 famílias do Acampamento Fidel Castro, em Pinheiros, extremo norte do Estado, foi cancelada.
A decisão ocorreu após outra reunião na segunda-feira (7), que contou com presença do Governo do Estado, Defensoria Pública Estadual (DPES), MST, da deputada estadual Iriny Lopes (PT) e do deputado federal Helder Salomão (PT) junto à Secretaria de Direitos Humanos da Câmara, a qual preside. A empresa de celulose Suzano (ex-Fibria e ex-Aracruz Celulose), que conquistou na Justiça a reintegração de posse, não compareceu.
A reintegração do local onde está o acampamento, que o MST alega ser área devoluta, estava marcada para o dia 16 de dezembro. A Suzano justificou a ausência no último encontro e pediu uma reunião para a próxima sexta-feira (11). Dado o curto prazo até a data prevista para o despejo, há expectativa de que este possa ser adiado. “Nossa avaliação é de que o despejo não é bom para ninguém. Nem para o Estado, nem para a Justiça, nem para a PM que executa, nem para o município, e muito menos para nós do movimento e para as famílias, por conta do transtorno do processo de violências física e psicológica”, diz Marco Carolino, membro da coordenação do MST.
Para ele, o conflito deveria ser resolvido não com um despejo em meio à pandemia, mas com uma solução entre as partes, que envolveria uma resposta para a situação econômica e social das famílias acampadas por meio da democratização das terras. “O Estado brasileiro tem uma dívida com a população pobre. As terras estão concentradas nas mãos de grandes proprietários e empresas brasileiras e multinacionais”.
No Espírito Santo, ressalta Carolino, assim como na Bahia e outros estados, a indústria de celulose, representada pela Suzano, concentra grande parte das terras, enquanto os governos estadual e federal se omitem na tarefa de promover reforma agrária no campo. O dirigente aponta que além do Acampamento Fidel Castro, onde as famílias praticam agricultura familiar para subsistência e comercialização, há outras áreas ocupadas ameaçadas de despejo por ações da Suzano.
O Acampamento Fidel Castro existe desde 2016, tendo sofrido dois despejos e estando na atual localização desde outubro de 2019. São cerca de 50 hectares localizados à beira da BR-101 Norte. A reintegração de posse foi emitida em novembro do ano passado, porém só agora, mais de um ano depois, houve agendamento por parte da PM para cumprimento da ordem judicial. O MST, junto com diversas outras entidades e movimentos sociais, participa a nível estadual e nacional da Campanha Despejo Zero, que busca deter esse tipo de ação, especialmente durante o momento de pandemia do coronavírus, em que as famílias estão ainda mais vulneráveis.