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Mulheres repudiam declarações de Hudson Leal sobre participação na política

Deputado disse que “mulheres não têm muito interesse de participar da política” e “a gente tem que apelar para que elas trabalhem”

As declarações do deputado estadual Hudson Leal (Republicanos), na sessão do dia oito de dezembro da Assembleia Legislativa, provocaram reações do Movimento de Mulheres. Em nota, mulheres organizadas em diversos partidos políticos, movimentos e organizações sociais, repudiaram o fato de o parlamentar ter dito que “as mulheres não têm muito interesse de participar da política” e que “a gente tem que apelar para que elas trabalhem”. Na sequência, recordam, Hudson Leal se manifestou contrário às cotas de gênero nas eleições.

De acordo com a nota, as declarações “representam uma afronta às conquistas históricas das mulheres para garantir o aumento da representação e protagonismo das mulheres na política”. O grupo recorda que o direito ao voto foi conquistado pelas mulheres no Brasil apenas na década de 1930, fruto da luta das feministas sufragistas, e desde então, elas sempre estiveram subrepresentadas nos espaços de poder político. 

“O sistema político e partidário é constituído para manutenção dos poderes masculino, branco, heteronormativo, rico e não jovem. É resultado de dois sistemas altamente opressores e exploradores que são o patriarcalismo e o capitalismo racista, que tiram as mulheres dos espaços de poder, em especial as negras e pobres. Sempre nos destinaram apenas o espaço de cuidados da vida nas famílias, empregos de baixo salários, e na política apenas o lugar de eleitoras, mesmo assim tardiamente”, ressaltam.
A nota rememora também o fato de que as cotas de mulheres candidatas surgiram em 1995 para contribuir com a ruptura dos “sistemas que não valorizam a vida das mulheres nem outras formas de vida”. Como resultado destas lutas, as eleições municipais de 2020 tiveram, pela primeira vez, um número de candidaturas negras maior que o de candidaturas brancas, sendo 49,95% e 48,03%, respectivamente, segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Além disso, destaca que as candidaturas de mulheres apresentaram um ligeiro aumento em relação ao pleito anterior. Compuseram 33,3% do total de candidaturas às prefeituras e Câmaras, “embora esse percentual ainda permaneça muito próximo ao mínimo de 30% estipulado pelas cotas de gênero e a representatividade permaneça baixa na política institucional”. 

As declarações de Hudson Leal foram feitas após denúncias realizadas nas eleições de Vila Velha de que quatro partidos políticos teriam utilizado candidaturas de mulheres para “cumprir a cota”. Diante disso, a nota afirma ser antiga a prática dos partidos “conservadores e de direita” de apresentarem candidaturas laranjas de homens e mulheres, não sendo criminalizados por isso. 
“Não aceitamos que as mulheres candidatas sejam criminalizadas por erros de seus partidos. Sobre candidaturas laranjas, os partidos políticos é que devem ser penalizados, pois são os partidos que filiam estas pessoas, aprovam suas candidaturas para as disputas eleitorais e montam as chapas nas quais concorrem”, diz a nota. E acrescenta: “entendemos que os partidos políticos devem assumir a responsabilidade de colocar mulheres na chapa de candidaturas proporcionais e prover a elas condições de fazer a disputa eleitoral. Proporcionar as condições necessárias a estas mulheres de formação política e feminista, participação nas decisões partidárias ao longo do período entre eleições, e no período das eleições, além de orientações básicas sobre como organizar um grupo de apoio e fazer campanha eleitoral”. 
De acordo com as autoras da nota, a ação das mulheres na política deve ser orientada para combater as desigualdades e injustiças sociais e de gênero, as relações patriarcais e raciais, a lesbofobia, transfobia e bifobia, a falta de cuidados com o meio ambiente e as formas de vida, bem como promover a defesa de políticas públicas para enfrentar os problemas concretos que afetam a vida das mulheres no âmbito de seu município. “É preciso compromisso com a eleição de mulheres que representam um projeto político que rompa com o mito de uma democracia racial, com o patrimonialismo e com a misoginia na política”, defendem. 
Assinam o documento o Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes), a Marcha Mundial das Mulheres, membros da executiva municipal do PT de Vila Velha, executiva municipal da Rede Sustentabilidade de Vila Velha e o diretório municipal do Psol de Vila Velha.

Deputado se manifesta

Em nota enviada a Século Diário, o deputado manifestou “muita tristeza” em relação à nota de repúdio. “Absurdamente estamos vivenciando tempos bárbaros, de exacerbação da violência, do individualismo, de ataques aos mais diversos tipos de direitos e de negação de valores fundamentais. Como cidadão e político sempre direcionei meus discursos com total respeito a todos, independentemente de gênero, raça, religião ou orientação sexual”, apontou.

Hudson Leal afirma que, na sessão plenária do dia 8 de dezembro, fez “denúncias gravíssimas no que diz respeito ao sistema de cotas de gênero utilizado para as eleições proporcionais. No município de Vila Velha, alvo de minha queixa, diversas mulheres foram utilizas como laranjas por partidos políticos e não obtiveram nenhum voto, também houve caso de marido e mulher concorrendo em chapas opostas. Com tal situação fica claro que alguns partidos, para cumprirem o sistema de cotas, utilizam mulheres para preencher essas lacunas”.

O deputado “esclarece que em momento algum de minha fala fiz oposição a este sistema de cotas, mas acredito que o mesmo deva ser revisto para que não ocorram prejuízos a candidatos(as), independentemente da proporção do gênero. Lembro ainda que em 2016, a chapa PSL e PMB, montada por mim, elegeu duas mulheres como vereadoras: Dona Arlete e Patrícia Crisântemo, e neste ano nos orgulhamos por eleger Lari Camponesa – Republicanos Rio Novo do Sul – a primeira vereadora transexual do Estado. Sempre tratadas com muito respeito e igualdade”.

Além disso, se manifesta “a favor não somente das cotas para a disputa eleitoral, mas também de que existam cotas para vagas no legislativo. Devemos, neste momento, reunir forças para questionar este fato ocorrido em Vila Velha”, finalizou.

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