O subsecretário estadual de Saúde, Luiz Carlos Reblin, afirmou durante apresentação do Inquérito Escolar, na manhã desta segunda-feira (21), que não há razão para não retornar as aulas presenciais. Entretanto, para a doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, embora a reabertura das escolas deva ser prioridade, isso não pode acontecer sem que haja vacinação de professores e idosos. “Abrir escolas é prioridade, mas para isso professores e idosos, com os quais os estudantes convivem, teriam que ser vacinados primeiro, em um período curto, concentrando em janeiro e fevereiro “, aponta.
No Plano de Vacinação do Governo Federal, os trabalhadores da educação aparecem entre os grupos prioritários, mas depois dos trabalhadores da saúde; idosos; população indígena aldeada; povos e comunidades tradicionais ribeirinhas e quilombolas; e grupos com comorbidades. “A briga é para que os trabalhadores da educação estejam no primeiro grupo de vacinação”, diz Ethel.
Outra preocupação apontada pela infectologista é em relação ao grande número de assintomáticos entre os estudantes, que gira em torno de 60%, pois de acordo com ela, os protocolos de biossegurança buscam a febre como principal sinal de Covid-19.
“O protocolo não será suficiente para que essas pessoas não contaminem os outros”, ressalta
Ethel, que destaca, ainda, que não foram feitas melhorias nas escolas para retorno das aulas presenciais. “Foi adquirido álcool em gel, mas isso não basta. Tem que melhorar fluxo de ar, por exemplo, e fazer outras mudanças”, defende.
O integrante do coletivo de professores Educação pela Base, Antônio Barbosa, concorda com a afirmação de Ethel. De acordo com ele, as escolas passam constantemente por problemas como falta d’água, o que impossibilita a higienização.
Antônio relata que o protocolo sanitário feito para as escolas é insuficiente, por diversos motivos. Um deles é o fato de o estabelecimento de ensino não ser uma “ilha”, uma “bolha”, sendo impactado pelo que acontece no lado externo. “O adolescente lá fora está indo à rua, está procurando lazer, até porque o governo flexibilizou. Assim, eles podem trazer o vírus para a escolas, para os colegas, para os professores, que, inclusive, muitas vezes têm comorbidades”, destaca.
Antônio critica a mudança do protocolo que previa, em casos de municípios com risco moderado, suspensão das aulas presenciais. O integrante do Educação pela Base destaca outras questões que também tornam difícil a aplicação do protocolo, como a insuficiência de profissionais nas escolas.
Segundo ele, “entre o que está no protocolo e o que for colocado em prática, há uma grande distância”, já que não há, por exemplo, número de coordenadores suficientes para supervisionar se os alunos estão cumprindo o distanciamento social no horário do recreio.
O professor destaca, ainda, que isso se torna ainda mais difícil com a previsão de realização de mais de um horário de merenda, separando os estudantes em grupos. Outros momentos que Antônio considera críticos e que precisarão de fiscalização são a entrada e a saída dos estudantes. O educador salienta, ainda, que o Inquérito Escolar não mostra de fato a realidade da Covid-19 nas escolas, pois foi feito em um período no qual já havia retorno presencial, porém, com a possibilidade de o aluno optar por permanecer nas atividades remotas. “Com a obrigatoriedade do retorno e um número maior de alunos, aí vai se ter dimensão real do que é a contaminação nas escolas”, acredita.