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Coletivos vão inaugurar centros culturais em Guarapari e Aracruz

Lei Aldir Blanc impulsionam Sinestesia e Forno Mental (foto) a alcançarem sonho de ter espaços próprios

O ano de 2020 foi dos mais difíceis para muitos artistas e produtores culturais, já que a recomendação de não-aglomeração por conta da pandemia de Covid-19 paralisou as atividades presenciais e obrigou o setor a se reinventar. Uma das conquistas importantes foi a Lei Aldir Blanc, que descentralizou recursos da cultura de forma emergencial, alcançando os diversos estados e municípios brasileiros. É a partir dela que dois coletivos capixabas tomaram impulso para criar espaços culturais próprios, desejo antigo de ambos.

O coletivo Sinestesia, atuante desde 2014 em Guarapari, na Grande Vitória, e o Forno Mental, que existe como coletivo desde 2017 em Aracruz, no norte do Estado, estão nos preparativos para terem sedes próprias, onde pretendem desenvolver atividades diversas e fomentar a cena cultural local de suas cidades, ambas de porte médio e localizadas no litoral capixaba.

“A proposta de um centro cultural gerido de forma independente tem a potência de criar ainda mais integração entre os diversos agentes difusos na cidade, proporcionando ao morador de Guarapari a chance de viver de forma mais frequente opções artísticas e culturais que fogem daquilo que está dado pelo circuito engessado, pelo mercado e pelas instituições formais”, explica Bruno de Deus e Magnago, integrante do Sinestesia.

A Casa Sinestésica, que vai funcionar no bairro de Itapebussu em Guarapari, vem da inspiração de coletivos de Vitória como o Expurgação e o Assédio Coletivo, que tiveram espaços próprios que permitiram reuniões e encontros de artistas e expressões culturais. 

Nicolly Credi-Dio, uma das integrantes do Sinestesia, considera que esses espaços potencializam o desenvolvimento da cena cultural. “Nós queremos que a Casa Sinestésica seja um ponto de fruição cultural e materialize o espírito do coletivo: a união de diversas linguagens artísticas e a sustentabilidade do fazedor de cultura”, diz. Por isso, entre as propostas está a promoção de eventos com mais autonomia, possibilitando a ampliação da frequência das atividades do coletivo, incluindo a geração de renda por meio da comercialização da produção dos artistas e projetos sociais e culturais.

Com vários cômodos e área externa, a Casa Sinestésica pretende também trabalhar com formato co-working, com parcerias para sublocação de salas para atividades profissionais, reuniões e eventos culturais. Os interessados podem procurar o coletivo por meio de suas redes sociais no Instagram e Facebook.

Com cinco anos de atividade, mas atuando como Forno Mental desde 2017, o coletivo de Aracruz surgiu com a união de forças de vários artistas ligados ao hip-hop, como MCs, grafiteiros, dançarinos, DJs e produtores culturais. “A ideia de ter um espaço cultural veio a partir do momento que a gente começou a adquiri notoriedade pelo trabalho e foi fazendo aquisição de equipamentos, o que gerou a necessidade de ter um lugar para guardá-los e também para receber as pessoas, com a possibilidade de hospedagem e também de realização de oficinas e outras atividades”, conta Eduardo França, o Sasquate, um dos fundadores do Forno Mental.

A casa dos integrantes do coletivo sempre acabou servindo de alguma maneira para essas atividades, mas com os recursos da lei emergencial e também de outros projetos, o coletivo decidiu investir no fomento do Espaço Cultural Casa do Forno, no bairro Segato. “É um bairro de periferia, que precisa de atenção do poder público. A gente vê a necessidade de ficar exatamente ali, dentro da periferia levando aqui que está faltando e está a nosso alcance levar. O bairro carece de infraestrutura, mas isso a gente não sabe fazer. A gente saber fazer cultura e pode fazer essas atividades ali”, diz Sasquate.

Entre as ações vislumbradas estão a realização de oficinas, exposições, cineclubes e também de uma novidade do coletivo que é a criação de uma batucada, que ensaiará nas ruas mas terá o espaço cultural como referência para encontro e guarda de instrumentos.

Tanto o Sinestesia como o Forno Mental surgem da união de vários agentes culturais locais, que ganham potência ao atuar conjuntamente. Dialogam com outros artistas, grupos e coletivos políticos e culturais, sendo que suas existências se entrecruzam com esses outros movimentos, todos cientes da cena diversa e fértil da cultura nos municípios, embora também saibam bem das dificuldades dada a falta de apoio público e privado.

Seus fazeres culturais e coletivos apontam também para a necessidade de reivindicar e disputar as políticas públicas. O Sinestesia participou da fundação do Fórum Municipal de Cultura e militou ativamente para a formação do Conselho Municipal de Políticas Culturais, só criado a partir do impulso da Lei Aldir Blanc, cujos recursos o coletivo também vem fiscalizando e cobrando a aplicação em favor dos fazedores de cultura locais. O Forno Mental pretende também usar sua sede para oficinas de elaboração de projetos culturais, sobretudo com foco nos editais estaduais, para trazer mais recursos para projetos a serem realizados no município.

Apesar de ansiosos para fazer do sonho realidade, os coletivos sabem que o momento é de muita cautela devido à pandemia e sabem que serão necessários cuidados especiais. O Sinestesia vai utilizar o início do ano para limpeza e reforma do local, a começar pro um mutirão no próximo dia 9 de janeiro. A expectativa é que a inauguração ocorra entre o fim de janeiro e o início de fevereiro. O Espaço Cultural Casa do Forno definiu data para inauguração em Aracruz, mas informa que as novidades serão divulgadas em suas redes no Facebook e Instagram.

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