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Estudo britânico mostra que escolas foram três vezes mais perigosas que hospitais

“ES deveria liderar estados a priorizarem vacinação dos profissionais da Educação”, sugere epidemiologista

Divulgação/Governo de SP

O Espírito Santo poderia liderar os governadores brasileiros para incluírem os profissionais de Educação entre os grupos definidos para as três primeiras fases do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. 

A sugestão é da epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel, que integra o comitê nacional de definição dos públicos prioritários da campanha de imunização e o Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), que assessora o governo do Estado na tomada de decisões para enfrentamento da pandemia provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). 


“Seria importante um comprometimento do Estado, já que estamos numa organização melhor no cenário nacional. Poderíamos conversar com outros governadores no sentido de colocar os professores numa etapa anterior de vacinação”, diz.

Até o momento, o Plano Nacional estabelece prioridade para: trabalhadores de saúde, pessoas com 75 anos ou mais, pessoas de 60 anos ou mais institucionalizadas, população indígena aldeada, povos e comunidades tradicionais ribeirinhas. No segundo grupo, pessoas de 60 a 74 anos (o maior grupo); e no terceiro, pessoas com comorbidades.

Os trabalhadores da Educação aparecem logo após, seguidos de pessoas com deficiência permanente severa; trabalhadores das Forças de Segurança e Salvamento; funcionários do sistema de privação de liberdade; e população privada de liberdade – não determinando se essa é a sequência temporal prevista para as etapas seguintes de vacinação. 
A epidemiologista entende que, com a intenção de autorizar as aulas presenciais na primeira semana de fevereiro nas escolas estaduais e municipais, a imunização dos profissionais de educação é fundamental para garantir a segurança desse público.

Três vezes mais perigo

A medida, que é reivindicada há meses pela comunidade escolar, ganha ainda mais força com a publicação do estudo britânico mostrando que as escolas do foram três vezes mais responsáveis pelos surtos de Covid-19 no Reino Unido que os hospitais.

“Mesmo com protocolos de biossegurança não há como controlar o cumprimento deles dentro das escolas da mesma forma que acontece em ambientes controlados como hospitais”, explica Ethel.

O estudo confronta a afirmação das secretarias estaduais de Saúde e Educação (Sesa e Sedu), de que as escolas são pouco perigosas para a transmissão do novo coronavírus. “Aqui não tivemos parâmetros suficientes para essa afirmação, porque não houve retorno total das pessoas, pouquíssimas foram às salas de aula [a partir de outubro, quando houve a autorização]. No Reino Unido, como voltou integralmente, as escolas foram um importante lugar de disseminação da doença, o que adiciona uma preocupação a esse momento que nós estamos no Brasil”, expõe a especialista. 
Segundo pico

As projeções matemáticas do NIEE, ressalta, não mostram fevereiro de 2021 como um mês mais favorável ao controle da pandemia que meses anteriores já enfrentados. Ao contrário. A estimativa é de mais mil mortes em janeiro e um número próximo disso no próximo mês, condição semelhante à que enfrentamos no primeiro pico da pandemia, alcançado em meados de junho de 2020. Durante todo aquele mês, foram registrados 1.019 óbitos pela doença.

Hoje, os dados oficiais da Sesa indicam um Índice de Transmissão (Rt) de 0,74. Porém, o número real pode ser maior. “Está havendo muito represamento de testes, o que gera um atraso na divulgação dos resultados pelo Lacen [Laboratório Central]”, explica. Em algumas microrregiões capixabas, o Rt está maior que 1, complementa. “Precisaria que os testes estivessem todos não represados, pra tomar uma decisão com um pouco mais de segurança”, pondera.

Também nesta quinta-feira (7), o Brasil registrou um duplo recorde, com 1.841 mortes e 94.547 novos casos. No Espírito Santo, o Painel Covid-19 confirmou 34 óbitos e 1.646 casos nas últimas 24 horas, totalizando, respectivamente, 5.265 e 258.941 até o momento.

10% mais doses
A inclusão dos profissionais de Educação representa o acréscimo de aproximadamente 100 a 110 mil pessoas, segundo dados dos sindicatos dos trabalhadores do setor nas redes privada e pública. Considerando a previsão de 1 milhão a 1,1 milhão de capixabas integrando os três grupos prioritários estabelecidos no Plano Nacional, conforme declarações do governador Renato Casagrande (PSB), a priorização da Educação representa cerca de 10% a mais de vacinas para essa primeira etapa.

Não é um acréscimo extraordinário, e sim bastante viável, avalia Ethel. A medida, associada à imunização dos grupos já priorizadas e à manutenção do direito de escolha por parte das famílias sobre enviar ou não os estudantes, pode trazer a segurança reivindicada pela comunidade escolar para o retorno das aulas presenciais.

Ethel explica que, nesse contexto, as famílias que já tiverem pessoas imunizadas devido à idade, comorbidades ou atuação como profissionais de saúde, por exemplo, podem se sentir seguras para enviar para a escola as crianças e adolescentes. Já nas famílias em que houver pessoas não imunizadas, trazendo sensação de insegurança, deve ser dado o direito de manter o ensino remoto.

A epidemiologista lembra ainda que, mesmo quando a vacinação começar, será preciso manter o uso de máscaras, álcool 70% e o distanciamento social. “Nós só vamos poder mudar isso quando tivermos imunidade coletiva, com um número grande de pessoas vacinadas, pois isso reduz a circulação do vírus, rompendo a cadeia de transmissão, baixando o Rt para próximo de zero e reduzindo o número de novos casos, casos graves e mortes. Provavelmente isso só vai acontecer no segundo semestre. 2021 ainda vai ser um ano difícil”, adverte.

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