Após reconhecer a presença de resíduo de pó e pelotas de minério de ferro na porção norte da praia de Camburi e aceitar fazer a limpeza da área, a Vale declarou que a presença de coloração escura na areia da praia é um fato “recorrente e natural”.
A versão da mineradora, no entanto, é contestado por Paulo Pedrosa, presidente da Associação dos Amigos da Praia de Camburi (AAPC), uma das entidades da sociedade civil mais ativas na luta pela despoluição da praia.
Ele conta que a presença de pó preto na areia é ainda maior desde o início da obra do aprofundamento do canal de Tubarão, em 2010, por conta da proximidade com a região do passivo ambiental. O passivo é o acúmulo de minério de ferro, na porção norte da praia, descartado pela Vale na década de 1970, que já se encontra em estado de decomposição e, quando revolto, faz com que a água adquira uma coloração alaranjada.
“Queremos o minério fora da praia, independente do que seja. Se está incomodando ou não, só quem pode falar somos nós que vivemos aqui, e nós queremos que o passivo seja retirado”, protesta Pedrosa.
Em 2011, ele encomendou um teste para a análise do pó de minério encontrado na região e a 5 km dela, na altura do Clube dos Oficiais. O laudo comprovou que o material encontrado é o mesmo e, além disso, foi indicada uma quantidade de 13 gramas de minério por cada quilo de areia, considerada muito grande por Pedrosa.
O vereador Serjão (PSB), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Vitória desde o ano passado, quer ter acesso a esse laudo. “Estamos reivindicando à AAPC que envie os documentos e as fontes dos estudos feitos por eles”. Ele se mostrou interessado, mas não quis se pronunciar sobre o caso, alegando que não foi dada entrada sobre o projeto na câmara.
A AAPC, por sua vez, quer ter acesso aos estudos feitos pela Vale, muitos em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), que comprovaram exatamente o contrário do que foi relatado no laudo que ele encomendou.
O militante acusa a mineradora de buscar estudos que comprovem erroneamente que a retirada do passivo ambiental será prejudicial à vida marinha, pois essa já teria se adaptado à condição.
Na última terça-feira (02), a AAPC, a Associação dos Moradores da Ilha do Boi, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) e a Vale se reuniram para discutir a questão do passivo ambiental, que foi despejado pela mineradora na década de 1970 na praia de Camburi.
Em acordo, foi definido que a mineradora terá 90 dias para apresentar uma solução definitiva para a retirada do material.