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Bancários do BB no Estado se vestem de preto em sinal de luto contra reestruturação

Além da perda de emprego, sindicato prevê dificuldades de agricultores familiares acessarem crédito agrícola

Funcionários do Banco do Brasil (BB) no Espírito Santo, inclusive os que estão de home office, trabalharam de preto nesta sexta-feira (15) em sinal de luto por causa da reestruturação anunciada pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na última segunda-feira (11). A ação faz parte do Dia Nacional de Luta, que contou também com um tuitaço da hashtag #MeuBBvalemais e foi organizada pela Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), pelas federações e sindicatos.

Bancários do BB se vestiram de preto em sinal de luto. Créditos: Divulgação

A reestruturação conta com o Programa de Adequações de Quadros (PAQ) e o Programa de Desligamento Extraordinário (PDE). Além desses programas, com a demissão de 5 mil empregados, a medida visa o fechamento de 361 unidades. No Espírito Santo ainda não se sabe quais serão os reais impactos da reestruturação. O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Espírito Santo (Sindibancários) chegou a se reunir com gerência de Gestão de Pessoas do Banco nessa quinta-feira (14), que afirmou acreditar que cerca de oito agências fecharão, quatro se transformarão em posto de atendimento e outras quatro em loja. 

Entretanto, afirma a diretora do sindicato, Maria Gorette Barone, não há confirmação de fato desses dados nem quais agências específicas serão afetadas. A entidade, afirma Maria Gorette, ainda espera dados oficiais concretos sobre a situação do BB no Espírito Santo diante da reestruturação. Apesar disso, uma das informações já obtidas pelo sindicato é de que as lojas terão caixas recicladores, ou seja, que fazem o depósito e creditam na conta, não precisando da mão de obra humana para a contagem das cédulas, que será substituída por um robô. 

A função de caixa nas agências de negócios será descartada. Maria Gorette acredita que a ausência desses trabalhadores pode causar a elitização do BB, uma vez que pessoas mais simples e idosos têm dificuldade com tecnologia. Ela afirma que no mesmo dia do anúncio da reestruturação foram retiradas as gratificações de todos os caixas no Brasil, o que reduziu o ganho mensal deles em cerca de 50%. Outro problema, relata a diretora do sindicato, é que com o fechamento de agências bancárias os funcionários podem ser transferidos para outros municípios ou até mesmo estados. Essa possibilidade de transferência é uma das ações que fazem com que a reestruturação deixe de promover demissão voluntária para, na verdade, promover “demissão forçada”, conforme relata Maria Gorette. 

De acordo com ela, a impossibilidade de mudança do local de moradia pode fazer com que muitos desistam de trabalhar no banco. Não estão descartadas mais possibilidades de manifestação no Espírito Santo. O assunto será discutido em uma plenária geral com os funcionários do Banco do Brasil nesta sexta-feira (15). Maria Gorette destaca que a reestruturação trata-se de um projeto de privatização. “Não se tem mais privatização no modelo de venda do patrimônio público, mas sim, de sucateamento. A reestruturação é o encolhimento da atuação do Banco do Brasil para favorecer bancos privados”, diz a diretora do Sindibancários. 

Pressão pode barrar reestruturação

Segundo Maria Gorette, a pressão dos partidos do chamado “centrão”, dos prefeitos e do agronegócio podem impedir a reestruturação ou pelo menos diminuir seus impactos. Os partidos do “centrão”, afirma, cobram de Bolsonaro cargos na diretoria do banco, o que pode culminar na queda do atual presidente do BB, André Brandão, já que o presidente não quer se desgastar com alguns partidos para eleger Arthur Lira presidente do Congresso. Maria Gorette também relata que prefeitos têm reclamado com parlamentares, que por sua vez têm falado sobre isso com Bolsonaro. 

Maria Gorette explica que a insatisfação dos prefeitos é porque quando se fecha um banco se impacta a economia local, há queda na concessão de crédito e nas oportunidades de negócio. Ela afirma que no Espírito Santo há municípios com apenas uma unidade do BB. Em São Roque do Canaã, norte do Estado, por exemplo, existe uma do BB, da Caixa, do Banestes e um posto do Bradesco. Caso a agência feche, as pessoas que precisam de crédito agrícola terão que se deslocar para outro município, pois os demais bancos não trabalham com esse tipo de serviço, exemplifica Maria Gorette. 

É justamente por ser referência em crédito agrícola, não somente com foco na agricultura familiar, mas também no agronegócio, que esse setor tem pressionado o governo Bolsonaro quanto a reestruturação. “Os interesses do agronegócio são diferentes dos nossos, da classe trabalhadora, mas apesar disso pode impedir a reestruturação ou diminuir seus impactos”, diz Maria Gorette.

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