A Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Vitória acredita que a solução encontrada para garantir a alimentação da população em situação de rua de Vitória “não atende à demanda principal, que é a alimentação, um direito humano”, conforme relata o integrante da Pastoral, Carlos Fabian de Carvalho. A afirmação é porque a gestão do Delegado Pazolini (Republicanos) disse que esse grupo pode se dirigir ao Centro de Referência para Atendimento das Pessoas em Situação de Rua (Centro-Pop), no bairro Mário Cipreste, próximo ao Sambão do Povo, para ter acesso a serviços como oferta de alimentos e banho.
A Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) divulgou essa informação por meio de seus canais oficiais de comunicação. Segundo a gestão pública municipal, equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social estão atuando nos locais de maior concentração da população em situação de rua para dar a informação sobre o Centro Pop. A ação, informa a Prefeitura, tem como foco a Praça do Papa, na Enseada do Suá; e a Pedra da Cebola, em Goiabeiras; onde funcionavam as chamadas Tendas do Bem, que tinham como um de seus objetivos distribuir, diariamente, marmitas para a população de rua, mas que tiveram suas atividades encerradas no dia nove de dezembro, pois o contrato com o Projeto Sol, que organizava as Tendas, não foi renovado.
Fabian qualifica a iniciativa de conduzir as pessoas para o Cetro Pop como “irracional e desumana”. De acordo com ele, exigir que alguém se desloque da Enseada do Suá ou de Jardim da Penha, onde costumam estar as pessoas que eram assistidas pelas Tendas, é uma estratégia equivocada. “Essas pessoas terão que se deslocar a pé uns 10 km em busca de uma refeição. As Tendas nasceram pensando em pontos diferentes, com um deslocamento viável, mas agora a prefeitura quer que as pessoas atravessem a cidade a pé para poder comer”, diz.
O agente de pastoral destaca que se todo mundo se deslocar até o Centro Pop essas pessoas não irão retornar e vai ter uma grande concentração de pessoas em situação de rua na região, o que pode causar tensionamento com os moradores. Ele afirma, ainda, que o Centro Pop é deficitário, não comportando atender mais assistidos. Segundo a secretária municipal de Assistência Social, Cintya Schulz, o contrato firmado na gestão de Luciano Rezende (Cidadania), que viabilizou a realização das Tendas, definia o encerramento no último dia 9, sem previsão de aditamento ou de recursos para sua continuidade.
“Se continuássemos com o projeto, não teríamos respaldo legal. Estamos trabalhando com toda agilidade possível para definirmos nosso plano de ação, que será submetido a todos os trâmites legais”, explicou. Fabian afirma que a Pastoral compreende o problema de ordem legal, mas ratifica que a solução encontrada não é eficaz. “Esse problema precisa ser resolvido imediatamente”, reivindica. De acordo com ele, a Pastoral e outras entidades, além da população em situação de rua, “clamam por diálogo por parte da prefeitura”.
As Tendas do Bem atendiam cerca de 150 pessoas. Sua extinção ganhou repercussão nacional após matéria
publicada com exclusividade por Século Diário ter sido divulgada nas redes sociais pelo padre Júlio Lancelotti, referência no Brasil na luta pelos direitos da população em situação de rua.
A Câmara de Vitória já está pedindo respostas da gestão do Delegado Pazolini por meio dos mandatos das vereadoras Karla Coser (PT) e Camila Valadão (PSOL).
Nessa sexta-feira (15) Camila requereu uma visita de seu mandato ao Centro Pop para acompanhar os serviços e conhecer a realidade do local. Karla enviou um pedido de informação para a Prefeitura sobre o fechamento das Tendas. No ofício, a vereadora pede informações sobre o encerramento do serviço e pergunta sobre quais medidas estão sendo tomadas para “manter e, inclusive ampliar, o atendimento humanizado à população em situação de rua”.