domingo, novembro 24, 2024
22.1 C
Vitória
domingo, novembro 24, 2024
domingo, novembro 24, 2024

Leia Também:

Murais na Ilha do Príncipe ganham animações em realidade aumentada

Parceira de coletivos de Vitória mudou paisagem urbana e criou arte colaborativa e interativa

Há meses, quem passa em frente à Ilha do Príncipe, na entrada sul de Vitória, vem se deparando com a transformação da paisagem com a construção de grandes murais, que somam 1.311 metros quadrados. O local é de trânsito, mas vale dar uma parada para curtir outra novidade: as animações em realidade aumentada, pelas quais usando um aplicativo de celular as pessoas podem ver as imagens pintadas com movimento e ainda saber mais sobre a história do bairro por meio de uma linha do tempo animada num dos muros.

Uma panorâmica do trabalho foi registrada num vídeo recém publicado, realizado pela Karatapa Films, formada por jovens da comunidade.

O projeto geral das pinturas foi desenvolvido pelo grupo Cidade Quintal, usando uma metodologia participativa, que inclui uma pesquisa e diálogos com as comunidades para enriquecer o processo da elaboração das pinturas e fortalecer o pertencimento das comunidades junto a essas artes. Com vários projetos pela cidade, o trabalho na Ilha do Príncipe não só é um dos de maior visibilidade como também traz a inovação da realidade aumentada, fruto da parceria com outro grupo, o Made In China, que reúne grafiteiros que começaram a usar animações e realidade aumentada em suas obras.

As três principais obras que enchem a região de cores e perpassam 11 edifícios representam um catraieiro em seu barco, trazendo a memória da ilha antes do aterro, Maria Tomba Homem, uma cafetina que marcou época tanto por sua simpatia como por brigar com os homens que faziam arruaça, e de Joia, ex-jogador nascido no bairro, que se consagrou no beach soccer e atuou no futebol de campo e salão, mas acabou morto tragicamente por assassinato.

Cada uma dessas grandes obras possui uma animação que pode ser vista no local ao apontar o celular para os muros usando o aplicativo Made In China, disponível gratuitamente nas plataformas de download. Infelizmente o local de visualização ainda não é ideal, já que pelo seu tamanho é necessário estar do outro lado da avenida de grande fluxo, numa calçada estreita e esburacada onde se realizam as obras do Portal do Príncipe, que promete transformar o local em uma praça com quadras, que aí sim teria uma vista privilegiada.

Vitor Taveira

Mas nos prédios abaixo da obra, com o mesmo aplicativo é possível acompanhar uma linha do tempo que conta a história da Ilha do Príncipe, desde o início do bairro em 1926, com a construção das Cinco Pontes, passando pelo aterro que acabou com a praia que os moradores usavam, e contando sobre aspectos históricos e culturais. A linha passa por 2020 mas termina em 2026, anos em que a Ilha, agora anexada ao continente comemorará seu centenário.

Ainda ligado no celular, é possível jogar um jogo criado pelo Made In China apontando o aplicativo para a imagem de um fliperama pintado no portão de um dos prédios.

Vista da linha do tempo pelo aplicativo. Imagem: Divulgação

Novos projetos

Embora a publicação do vídeo marque o encerramento desta etapa do projeto, novas atividades virão por parte dos coletivos envolvidos. Fotos do processo de produção das pinturas estarão em breve disponíveis no Bar da Graça, que fica localizado no térreo de um dos prédios pintados, mostrando o antes, durante e depois da intervenção artística.

Além disso, com recursos da Lei Aldir Blanc, será desenvolvido um plano de difusão de conteúdos e temas do bairro com as escolas locais, por meio da formação dos professores para se apropriarem do trabalho de arte urbana. “Colocar a arte e a tecnologia na rua não garante que o público vai acessá-la em sua totalidade. Queremos que as pessoas vejam as obras e entendam quem foi Maria Tomba Homem, por exemplo. Por isso é preciso uma mediação”, explica Juliana Lisboa, do Cidade Quintal.

Ela considera que os professores podem ser excelentes mediadores e a projeto pode ser explorado de forma transversal nas escolas, abordando diferentes disciplinas e contribuindo para fazer conhecidas histórias do bairro e da cidade. “O projeto é bastante replicável. É super possível de levar para outros locais e cidades”, comenta Juliana sobre o processo de construção que implica pesquisa, pintura e animação, que claro, traria obras distintas de acordo com a região e suas histórias.

Enquanto recém finaliza o projeto na Ilha do Príncipe, o Cidade Quintal já prepara o início de outro projeto de intervenção junto a outra comunidade, a Piedade, também em Vitória, cujas pinturas devem ter início em fevereiro.

O Made In China também está envolvido com novos projetos para 2021, que incluem a instalação de um novo game que poderá ser jogado num paredão do Centro de Vitória usando o aplicativo, que vai incluir um ranking dos melhores jogadores. Outra novidade será um projeto de realidade aumentada dentro de uma casa, no espaço cultural Sala Pós-Cirúrgica.

Gabriel Hendrix conta que o projeto na Ilha do Príncipe foi importante para o coletivo conseguir testar a tecnologia, enfrentando o desafio de realizar a realidade aumentada em paredes não só muito amplas como também em superfícies com várias irregularidades, que aumentam o tamanho do desafio. Também ampliou a divulgação da tecnologia e os processos educativos, já que a realização de oficinas com jovens da região despertou a atenção de muitos sobre as ferramentas utilizadas pelo grupo.

Vitor Taveira

“Na linha do tempo desenvolvemos mais uma experiência de programação interativa, foi bem legal. Vemos projetos de realidade aumentada em murais em outras cidades, mas não têm o apelo de trazer as pessoas para interagir contando a história do local e se aproximando de quem mora perto, gerando informação e entretenimento”, diz Gabriel.

O resultado do trabalho trouxe novas pontes para o Made In China, ele conta. Não só a possibilidade de trabalhar e conhecer a metodologia do Cidade Quintal mas também de outros grupos, como o Karatapa Filmes, que será parceiro em do Made In China em num novo projeto.

Além deste, o Karatapa também irá desenvolver um novo projeto com a produção de uma websérie reunindo depoimentos sobre a memória e história da Ilha do Príncipe. Muitos desdobramentos de um projeto

Mais Lidas