Moradores do Morro da Capixaba transformaram pontos viciados de lixo em áreas de plantio
“A horta surgiu da necessidade de produzirmos parte do nosso alimento de forma saudável e ocupar um espaço que era usado para descarte de lixo, poluindo um pedaço da Mata Atlântica”, diz Antônio Carlos Oliveira da Fonseca, morador do Morro da Capixaba, localizado no entorno do Centro de Vitória. É uma motivação similar a outras iniciativas que vêm surgindo no país e no próprio município, que nesse caso deu origem à horta comunitária Jardim Capixaba.
O início foi há seis meses em frente às casas de um grupo de moradores. Como o local de plantio era difícil acesso, muitos na comunidade viam e até traziam mudas, mas não se sentiam à vontade para acessar o espaço e participar da horta.
Em outros recipientes, os moradores realizam compostagem, usando resíduos orgânicos para gerar adubo que voltará a alimentar a horta. Com isso, pretendem expandir e mobilizar mais moradores, contribuindo para a redução de parte do lixo.
O novo canteiro na parte mais alta acabou virando um ponto de fotos para moradores e visitantes, primeiro com a instalação de placas coloridas com mensagens de cuidado para a horta e mais recentemente com a instalação de um espantalho.
“Instalamos ele com a ideia de criação de afeto, de gerar um vínculo com a horta. Pensamos muito nas crianças mas quem primeiro foi tirar foto foram os adultos, pois despertou a memória afetiva dos mais antigos. As crianças vinham perguntar o que era aquele boneco, porque não conheciam um espantalho”, conta Daiane Eilert, integrante do coletivo Mobilize, que está organizando as ações da horta. Apelidado até então de Hortelão, o plano é que o espantalho tenha seu nome definitivo escolhido em votação pela comunidade.
Na parte “vigiada” pelo espantalho, o intuito inicial do coletivo era começar ali um trabalho para divulgar as Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANCs) geralmente vistas como “mato” mas que podem servir de alimento e possuem bons valores nutricionais. “A gente já fez um mapeamento do que cresce de PANC na região. A ideia é deixar exposto o que é acessível para a comunidade. Para que conheçam e possam atribuir valor alimentício”, explica Ione Duarte, também integrante do coletivo.
Na prática, não saiu exatamente como haviam pensado: os moradores acabaram trazendo suas mudas e sementes e plantando alimentos. O que todos integrantes do coletivo acharam muito bom. Entre plantados e colhidos no local estão feijão, quiabo, abóbora, batata doce, abacaxi, tomate cereja, milho, rúcula, ervas medicinais como cidreira, temperos como manjericão e PANCs como bertalha, ora pro nobis e taioba.
Para fortalecer a divulgação das plantas não convencionais o grupo pretende realizar oficinas que incluam caminhada pela comunidade para identificá-las e preparação de receitas com elas. Mas diante da pandemia, a atuação tem sido mais cautelosa para não gerar aglomerações.
A riqueza do entorno é grande e, passando a pandemia, o Mobilize quer mostrar e impulsionar a comunidade também para quem é de fora, que muitas vezes não vê ou nem sabe que existe o Morro da Capixaba. O entorno da horta é cercado de Mata Atlântica entre os parques municipais da Gruta da Onça e da Fonte Grande. Para o outro lado, a vista permite enxergar parte da região portuária e de Vila Velha, incluindo o mar da Praia da Costa.
“Aqui é tido como Centro mas é uma realidade totalmente diferente da parte baixa. As iniciativas culturais ou de qualquer outro tipo não chegam aqui. A ideia é visibilizar o morro para que as iniciativas cheguem e para que a comunidade produza ações que também cheguem lá fora”, considera Antônio.
Os planos do coletivo são muitos: começar uma horta em outro espaço demandado pela comunidade, aproximar a escola ao lado na volta às aulas, fortalecer o grupo de mulheres, realizar mostras de filmes, promover pintura de graffitis que possam trazer arte para comunidade e serem vistos desde o asfalto.
E claro, seguir produzindo o próprio alimento e cuidando do entorno natural para que não seja destruído pelo urbano. Entre as dificuldades estão a necessidade de limpeza e poda de parte do terreno, ainda não atendido pela prefeitura, e também a necessidade de equipamentos próprios para as atividades com a terra. O coletivo se diz aberto a quem queira contribuir como voluntário ou realizar doações de mudas, sementes, adubo e ferramentas novas ou usadas como enxada, facão, rastelo e outros que possam ser úteis.