Resolução da universidade determina abertura de no mínimo uma vaga por curso, com seleção simplificada
Nos próximos dias 28 e 29 de janeiro, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) abre inscrições para um processo seletivo especial destinado a solicitantes de refúgio, refugiados, portadores de visto humanitário e migrantes de localidades onde há grave violações de direitos humanos. A inscrição é simplificada, mediante apresentação de documento com foto que comprove situação de refugiado ou solicitante de refúgio e comprovante de conclusão do equivalente ao ensino médio em seu país de origem, com tradução para português caso esteja em outra língua.
Os postulantes devem indicar o curso no qual tem interesse em cursar graduação. As vagas oferecidas são suplementares, sendo que a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) recebe os pedidos e encaminha aos colegiados dos cursos solicitados, que realizam análise e seleção. Cada curso estabelece o número de vagas destinadas, que deve ser no mínimo uma. A política está respaldada por uma resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da universidade datada de 2010.
Brunela Vicenzi, professora do Departamento de Direito e presidente da Comissão Interdisciplinar de Apoio aos Refugiados e Migrantes da Ufes, conta que essa iniciativa vai ao encontro dos compromissos da universidade com a Organização das Nações Unidas (ONU) para integração de pessoas em situação de refúgio. “É com muita alegria que todos os anos abrimos vagas para esse público-alvo e contamos cada vez mais com a sua adesão. Esperamos que esse ano não seja diferente, ainda mais porque vivemos num momento muito delicado para a humanidade e toda a forma de inclusão e acolhimento é bem-vinda”, diz a professora, que também coordena a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, parceria da Ufes com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
“É dar uma nova chance. Seja para iniciar um curso ou dar continuidade ao que fazia em seu país de origem. Refugiados vindos da Síria, que ingressaram em especial de 2013 a 2016 no Brasil, passando pelo Espírito Santo, enfrentaram muitas dificuldades no acolhimento da língua, do emprego, mesmo sendo qualificados. Muitos haitianos, em especial no Paraná e Rio Grande do Sul, também enfrentaram”, diz o estudante de Direito e membro do Conselho Universitário da Ufes, Hilquias Moura, que é estudioso da questão dos refugiados.
Ele conta que a partir desse diagnóstico a Acnur incentivou, durante o governo de Dilma Rousseff (PT), que as universidades e institutos federais pudessem acolher essas pessoas em seus cursos e revalidar diplomas. “É complicado pensar em pessoas que tiveram que sair fugidas, ou às pressas, pensarem em seus documentos, formação, que dificulta o acesso aqui no Brasil”, lembra Hilquias.
As aulas na Ufes recomeçam no dia 1º de fevereiro de forma remota, dando início ao calendário referente ao segundo semestre de 2020, atrasado por conta da paralisação diante da pandemia do novo coronavírus. Os estudantes acolhidos na condição de refugiados têm os mesmos direitos e deveres dos demais alunos da Ufes.
As inscrições de candidatos devem ser enviadas para o e-mail [email protected].