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Musa do Verão

Conclamo o povo a eleger essa pálida poção como a Musa desse Verão

Aquele nefando 2020 entrou para a história como o Ano do Vírus. Vamos rezar e redobrar esforços para que não haja nenhum outro depois dele – mais esforço do que reza, ou não precisaríamos de cinto de segurança. Portanto, que 2021 seja o Ano da Vacina, e que outras venham, capazes de nocautear todos os vírus futuros ou imediatos que a irresponsabilidade humana dispersa sobre nossas cabeças. Conclamo o povo a eleger essa pálida poção como a Musa do Verão, o que seria bem apropriado para um começo de ano tão desprovido das alegrias do verão – quem está trancafiado em casa continua pálido e triste, quem está se divertindo em praias, boates e restaurantes não dorme bem à noite.

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A vacinação é a solução, pelo menos a curto prazo. A longo prazo, ou seja, deixa como está pra ver como é que fica, corre o risco de não ter audiência. Nunca a humanidade reuniu tanto dinheiro, esforço, preces, e tecnologia para alcançar um mesmo objetivo. Finalmente ela chegou, e embora usando roupagens diferentes, é uma só. Qual vai se sair melhor e superar as outras, só o tempo dirá. No momento atual, todas são ansiosamente aguardadas e muito bem-vindas.
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Quando a luz afinal brilha no fim do túnel, a pergunta que mais ouvimos – O que aprendemos com a pandemia? Infelizmente não está recebendo boas respostas. Os países mais ricos abocanharam as maiores quotas de vacinas, como antes haviam abocanhado máscaras e respiradores. Embora todos os governos tenham estabelecido prioridades, tem muita gente furando fila, não importa a língua que se fale e o governo que governe. Políticos unidos no esforço de superar a crise? Só rindo para não chorar. Administração honesta dos recursos destinados aos hospitais, ao tratamento de doentes e na prevenção do contágio? Pois sim!
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Tudo como dantes no quartel de Abrantes, ainda é meu dito favorito, porque as crises vêm e vão, os governos sobem e caem, nasce gente e morre gente, e tudo continua igual. Quem paga a conta é o povo, esse desconhecido que, feito um poderoso deus indiano de 8 bilhões de faces, não sabe a força que tem. Quando iniciamos um emprego, o empregador tem o poder de rescindir o contrato se não trabalharmos como prometido e esperado. O mesmo deveria acontecer com nossos contratos políticos – votamos no sujeito que promete mudar o mundo caso seja eleito. Se não cumprir o que prometeu vai pro olho da rua. O eleitor deveria ter o direito de restringir esse contrato, caso não seja bem servido. Quem pôs tira.
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Precisa-se urgente: Vacina contra a corrupção, obrigatória para assumir qualquer cargo público. Seria um espanto ver como esse sofrido e dilapidado país tem potencial para se tornar uma nação respeitada pelo resto do mundo. Enquanto não inventam essa, vamos rezar para que aquela, a do Covid, chegue finalmente a todos os braços. Tarefa hercúlea: 8 bilhões plus segunda dose: 16 bilhões de ampolinhas, mais seringas, mais algodão e álcool. Junte-se a isso transporte onde o povo anda a pé, água potável, refrigeração onde não tem eletricidade, paciência e paz entre as pessoas de boa vontade. Entre ofensas mútuas e largos sorrisos para as câmeras, os políticos fazem política, enquanto o povo, um imenso Jeca Tatu indolente e amarelado, cochila na sombra.

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