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Mãe-Bá: lagoa e mar se encontram em Anchieta

Trabalho de coletivo tem ajudado a fomentar o turismo em local que era apenas ponto de passagem no litoral sul

Localizada no litoral sul, entre Guarapari e Anchieta, a Lagoa Mãe-Bá, segunda maior em extensão no Espírito Santo, está em um lugar ainda muito pouco conhecido pelos capixabas e turistas. Porém, em 2020, um grupo de moradores começou ações para divulgar o local e já vem colhendo resultados.

Surgido há apenas seis meses e em meio à pandemia de Covid-19, coletivo Mãos que Fazem Mãe-Bá, formado por moradores do bairro de Anchieta que leva o mesmo nome da lagoa, está realizando ações dentro da comunidade e também sinalizando o entorno para chamar a atenção para as belezas do lugar.

Divulgação

Além da lagoa, a região possui a Praia de Mãe-Bá, que possui uma paisagem pouco comum no litoral capixaba, com a formação de falésias. Porém, o local sempre foi mais um ponto de passagem entre praias importantes do litoral capixaba do que um lugar para visitas e turismo.

Isso começou a mudar sobretudo com a instalação de balanços de madeira ao ar livre, três na praia e três na lagoa, a maioria deles à beira da Rodovia do Sol (ES-060). Junto às belas paisagens naturais, os balanços viraram ponto de parada para fotografias de quem passa por ali. A eles se somam placas coloridas indicando os atrativos da região e o endereço do Instagram do Mãos que Fazem Mãe-Bá, que vem conquistando mais de mil seguidores por mês na rede social.

As intervenções físicas e digitais interagem, pois a partir da sinalização que chama atenção, as pessoas que transitam param por um momento e se conectam com as redes do coletivo, que em sua página divulga diversos atrativos da região, desde as belezas naturais até os estabelecimentos comerciais, estimulando a que visitem ou voltem depois.

De acordo com moradores, o fluxo aumentou bastante neste verão por conta da estrutura que está sendo montada. A entrada e o estacionamento na praia foram otimizados, foram feitos pórticos e sinalização, espaços para estacionar bicicletas, legalização de comerciantes. Todas essas melhorias são recentes, feitas durante a pandemia”, aponta Moisés da Cruz Costa, integrante do Mãos que Fazem Mãe-Bá,. 

Transformar o local de passagem em ponto de parada e estadia tem sido o grande mérito. Ele conta que nesses poucos meses recebeu relatos de turistas que sempre passaram por ali, mas só agora pararam e se encantaram com a beleza do local. O trabalho de divulgação também tem atraído profissionais como fotógrafos para realização de ensaios de casamentos, gravidez, aniversários de 15 anos e outros aproveitando as belezas do cenário natural.

Além de sinalizar o local, o coletivo atua ajudando a conectar moradores e turistas aos empreendedores locais, desde os que fazem aluguel de caiaques ao restaurante à beira da lagoa, o vendedor de comidas e bebidas na praia e os pequenos comércios úteis no dia a dia.

O bairro de Mãe-Bá possui pouca estrutura turística. A principal é o Deck Lagoa, empreendimento familiar localizado na beira da lagoa. Iniciado em 2019 e paralisado por meses durante a pandemia, o estabelecimento vive seu melhor momento e vem atraindo visitantes com ajuda da divulgação da página do coletivo. 

Claudina Freire da Cruz, que comanda o restaurante junto com o esposo e o filho, conta que o carro-chefe do cardápio é a moqueca de dourado. O local ainda serve outros pratos que vão do peixe às carnes e lanches e não vende bebidas alcoólicas, embora permite que os clientes levem com moderação a sua própria. Claudina diz se impressionar com a diversidade crescente de aves que podem ser avistadas no local, especialmente pela manhã.

Foto: Divulgação

Moradores acreditam que a paralisação por cinco anos da operação da Samarco depois do crime socioambiental com o rompimento da barragem de rejeitos em Mariana (MG), ajudou a lagoa se recompor. A empresa que possui usina e porto em Ubu, logo após o bairro, voltou a operar ainda com capacidade reduzida em dezembro de 2020.

Provocado por visitantes, Moisés observa que o turismo náutico é uma possibilidade ainda a ser explorada no local, segundo Moisés, que tem observado alguns usuários de jet ski frequentando o local. Um projeto de moradores oferece a possibilidade de aluguel de caiaques e pranchas de stand-up paddle para serem utilizados na lagoa.

O Mãos que Fazem possui quatro integrantes ativos e uma série de colaboradores, desde comércios que apoiam com doações de materiais, pessoas que ajudam nos mutirões para melhorias ou entidades parceiras em alguns projetos, com a associação de moradores local. 

Juntos fizeram pequenas obras de forma voluntária, como a melhoria de locais que eram pontos viciados de lixo por meio do uso de estruturas com pneus, tintas e plantas, a instalação dos balanços dentro e fora da comunidade e a sinalização com placas dos pontos mais importantes da comunidade.

Mas a principal realização até o momento foi a construção e adequação de uma escadaria com doação de materiais e trabalho coletivo, finalizado com um projeto artístico de pintura que envolveu cinco artistas de Guarapari que pintaram elementos da fauna e flora locais e imagens de antigos moradores já falecidos, fortalecendo a memória local.

Atrair visitantes sem descuidar do fortalecimento comunitário local é o principal desafio.

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