O engenheiro Cláudio Oliveira, ativista contra o desmonte da estatal, diz que diretores têm bônus por cada venda
“Diretores da Petrobras recebem bônus por cada negócio e estão vendendo os ativos lucrativos da empresa, as refinarias e tudo, para gerar 35 bilhões de dólares de dividendos, para atender aos acionistas norte-americanos”. Assim se manifestou o engenheiro da Petrobras aposentado Cláudio Oliveira, ativista de movimentos contrários ao desmonte da estatal, ao comentar o contrato de venda dos campos de produção de Peroá e Cangoá, localizados na bacia do pré-sal no Espírito Santo, assinado nessa segunda-feira (1º).
Para o Sindicato dos Petroleiros no Espírito Santo (Sindipetro-ES), “o novo mercado de gás é muito bom para as negociatas. O ‘choque’ da energia barata, de Paulo Guedes [ministro da Economia], é para os empresários. Ao pobre resta pagar R$100 pelo botijão de GLP. Cangoá e Peroá não foram vendidos, foram entregues, a preço de banana!”.
Segundo a entidade de classe, “os campos de Cangoá e Peroá produzem 658 mil metros cúbicos de gás por dia. Convertendo metros cúbicos para barris de óleo, na relação de 1.000 m³ de gás, equivalem a 6,29 barris de óleo, esses mesmos campos produzem 4.138 barris de óleo/dia, gerando 227.635 dólares por dia de receita. O valor da venda equivale a 241 dias de produção”.
A transação, para Cláudio Oliveira, está no plano de negócios da Petrobras para 2021 a 2025. “Fica claro no plano que o pagamento de dividendo está sendo feito com venda de ativo e foi determinado lá nos Estados Unidos”, diz Cláudio, que aponta o recebimento de bônus pela direção da empresa. “Na verdade, eles [os diretores da Petrobras] são corretores, recebem bônus para entregar os ativos lucrativos para o mercado financeiro, uma maravilha”, ironiza, acrescentando: “No mundo inteiro a democracia é do povo para o povo; no Brasil é do povo para o mercado”.
Em nota publicada em novembro de 2020, informa Cláudio, a direção da Petrobras informou que o Conselho de Administração havia aprovado o Plano Estratégico para o quinquênio 2021-2025 (PE 2021-25). “Entretanto a nota fornecia números incompletos, deixando de informar dados fundamentais como quais os valores previstos para venda de ativos (dizendo apenas que o portfólio contém mais de 50 ativos) e, principalmente, para distribuição de dividendos aos acionistas”.
Segundo o engenheiro, somente no dia 30 de novembro, no Petrobras Day, em Nova Iorque, foi informado que o PE 2021-25 planeja pagamento de dividendos de US$ 35 bilhões, praticamente mantendo o mesmo valor do plano anterior (PE 2020-24). “Ocorre que com a queda do preço do brent, a estimativa do geração de caixa caiu de US$ 168 bilhões (PE 2020-24) para US$ 125 bilhões (PE 2021-25)”.
Com esse cenário, para manter o mesmo nível de distribuição de dividendos e fechar a conta do Quadro de Usos e Fontes, foi necessário reduzir os investimentos de US$ 76 bilhões (PE 2020-24) para US$ 50 bilhões (PE 2021-25) e aumentar a venda de ativos de US$ 30 bilhões (PE 2020-24) para US$ 35 bilhões (PE 2021-25). “Ou seja, tudo pode ser mudado, menos o pagamento de dividendos”, comenta.
A compra dos campos de produção de Peroá e Cangoá, denominados conjuntamente de Polo Peroá, foi feita pelas empresas OP Energia Ltda. e DBO Energia S.A e corresponde à totalidade das participações da Petrobras. O valor da transação foi de 55 milhões de dólares, sendo 5 milhões pagos de imediato, 7,5 milhões no fechamento da transação, e 42,5 milhões em pagamentos contingentes previstos em contrato, relacionados a fatores como declaração de comercialidade, preços futuros do petróleo e extensão do prazo das concessões.