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Projeto de ciclovia da Avenida Rio Branco desagrada cicloativistas

Projeto anterior para trecho na Praia do Canto foi substituído depois de pressão de moradores e comerciantes 

Motivo de polêmica nos últimos anos, a ciclovia da Avenida Rio Branco, em Vitória, teve um novo projeto apresentado pela prefeitura na noite dessa terça-feira (9), no salão da Igreja Católica da Praia do Canto, com presença do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), vereadores e líderes comunitários. Com limitação a 50 participantes devido à pandemia do coronavírus, a audiência, porém, não abriu espaço para as perguntas de internautas, conforme prometido.

O resultado apresentado aponta para uma vitória da luta de uma parcela dos comerciantes e moradores da Praia do Canto para que não fosse removida nenhuma vaga de estacionamento e que a ciclovia ocupasse o canteiro central da pista, junto às 74 árvores existentes no local.

As duas faixas de estacionamento sairiam da lateral das pistas para ficarem junto aos canteiros, com os motoristas estacionando à esquerda. Segundo Marcelo de Oliveira, secretário de Desenvolvimento de Vitória, a ciclovia será elevada com duas vias sobre os canteiros separadas pelo espaço das árvores e utilizará pela primeira vez na cidade um piso permeável, para melhorar a drenagem e permitir reduzir a área de terra em torno das árvores sem prejudicar sua irrigação.

Disposição das faixas de rolamento e estacionamento e ciclovias no novo projeto. Foto: PMV

Nos trechos em que não há espaço suficiente de 1,5 m para cada via de bicicleta devido ao tamanho das árvores, algumas vagas de estacionamento serão retiradas em prol da instalação de canteiros e abertura de mais espaço para a ciclovia. Ainda assim, o número de vagas seria mantido próximo do atual, já que com o estacionamento próximo ao canteiro se ganharia o espaço de vagas que hoje não existem por conta dos portões de garagem dos edifícios da avenida.

Mas a solução não agradou a todos. “O projeto ficou pior do que o último apresentado pela prefeitura”, analisou Renan Ferber, integrante do coletivo Pedalamente, que discute mobilidade urbana na Grande Vitória. Para ele, a proposta considerou como prioridade manter vagas de estacionamento, embora documentos como o Estatuto das Cidades e Plano Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) preconizem a prioridade a pedestres e veículos não-motorizados.

“Na Avenida Rio Branco há seis trechos para carros, quatro faixas de rolamento e duas de estacionamento, o que representa mais de 60% da via para os automóveis”, reclama Renan. Em seu entendimento, para manter as vagas de estacionamento, o projeto prejudica pedestres e ciclistas.

Um dos principais pontos questionados na audiência foi que, para estacionar, os motoristas tenham que caminhar pela ciclovia até chegar à faixa de pedestres, além do risco de que a abertura de portas dos automóveis possa causar acidentes com as bicicletas, o que o secretário afirma ser solucionado com um recuo de 40 cm entre a ciclovia e o estacionamento. Também será necessário demarcar bem o ponto de espera dos pedestres no canteiro, já que por vezes acabam tendo que esperar sobre ele entre um sinal e outro da via.

A proposta da ciclovia na Avenida Rio Branco, contemplado no Plano Diretor Urbano (PDU) da cidade, conecta pontos cruciais da cidade, ligando desde a Ponte Ayrton Senna até a Avenida Leitão da Silva, passando pela Reta da Penha. O primeiro projeto foi apresentado em 2015 pela gestão de Luciano Rezende (Cidadania). As críticas de moradores e comerciantes da avenida na região da Praia do Canto, porém, levaram ao adiamento da implementação do projeto.

Contrários ao projeto que reduzia em cerca de 80 o número de vagas de estacionamento na via, um grupo liderado pelo hoje vereador Armandinho Fontoura (Podemos), aliado de primeira hora de Pazolini, apresentou um projeto alternativo para que a via fosse implementada no canteiro central e não em uma das faixas de rolamento.

A equipe da prefeitura havia considerado a opção tecnicamente inviável, mas em 2019, numa nova audiência pública com ânimos acirrados e pressão de setores políticos e econômicos importantes, a gestão de Rezende recuou e optou pelo fatiamento das obras, que incluiriam numa só licitação a construção da ciclovia em toda extensão da Avenida Rio Branco.

A prefeitura iniciou então em 2020 o trecho de Santa Lúcia, onde não havia maiores polêmicas, que foi executado de forma rápida no final da gestão no ano passado, embora ciclistas ainda reclamem da falta de sinalização na via para as bicicletas. A outra parte da Avenida, na Praia do Canto, foi jogada para frente e não tocada em ano eleitoral.

Ao assumir, a gestão de Lorenzo Pazolini agiu rapidamente. “Logo que iniciamos os trabalhos, o prefeito pediu para que pudéssemos avaliar e analisar cada um dos projetos estruturantes de impacto para a cidade que havia sido paralisado”, diz o secretário Marcelo de Oliveira. A reforma da Avenida Rio Branco foi uma delas. “Nos baseamos em três pilares: a manutenção das árvores existentes, a preservação dos estacionamentos e a instalação da ciclovia no canteiro central, atendendo o desejo da comunidade e o respeito às normas técnicas de segurança”.

Divulgação/PMV

De fato, a prefeitura aprimorou o projeto proposto por moradores da Praia do Canto, mas ainda encontra problemas a serem solucionados e sinaliza politicamente para a vitória de um modelo mais conservador de mobilidade urbana, que ativistas apontam como “carrocrata”ou “carrocêntrico”. Curiosamente, as vagas de estacionamento deixaram de ser um grande problema no bairro desde a implantação do sistema de estacionamento rotativo. Mas nem por isso, o grupo de moradores e comerciantes desistiu de lutar por elas.

Embora a obra de mobilidade atenda a toda cidade e quem circula por ela, o poder de pressão dos moradores da região é grande, pois além de empresários e juristas, é o bairro em que mais moram vereadores da capital, incluindo os que estiveram presentes na audiência: Armandinho, Delegado Piquet (Republicanos), Karla Coser (PT) e Davi Esmael (PSD), presidente da Câmara, também morador do entorno.

Agora, segundo Marcelo de Oliveira, as sugestões levantadas por participantes durante a audiência pública serão analisadas pela prefeitura para incluí-las ou respondê-las tecnicamente. Ele não confirmou a realização de novas audiências, mas afirmou que o projeto final deve ser terminado no final de fevereiro e será apresentado à sociedade, de forma ainda não definida. O prazo de execução, segundo o secretário, ainda não pode ser previsto, pois necessita de passar pelos trâmites legais.

Ele garantiu que conversará com todos atores e que “ninguém será atropelado”. Espera-se que nem politicamente, como os ativistas de mobilidade que não tiveram suas questões feita pela internet apresentadas na audiência, nem fisicamente, com o risco a que o projeto pode expor os pedestres.

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