O desenvolvimento nacional, atualmente paralisado, recebe mais um golpe patrocinado pela direita e a extrema direita
Mais um golpe se arma contra a democracia e a soberania nacional, com o Projeto de Lei Complementar que prevê a autonomia do Banco Central, em votação no Congresso Nacional. Nas articulações políticas, assistimos parlamentares da extrema direita unidos com aqueles que se autointitulam da nova política no esforço para colocar o sistema monetário nacional nas mãos dos banqueiros. Cumpre-se o velho ditado, a raposa tomou conta do galinheiro e os que aparentemente pareciam cordeiros não passam de lobos.
O quadro é pior: aprovado o projeto, como deve ocorrer, teremos um condutor da economia totalmente livre para gerir a política monetária acima de todos os ministérios ou órgãos de controle e até mesmo do presidente da República. Enquanto isso, vemos a maioria dos congressistas bem à vontade para cumprir o acordo vergonhoso formalizado na eleição de Arthur Lyra (PP-AL) na presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM) no Senado, que irá ampliar em muitas vezes o processo de entrega de nossas riquezas ao capital transnacional, seguindo a política do inominável capitão presidente, o maligno.
Do Espírito Santo, exceção do deputado federal Helder Salomão (PT), a bancada tende a mergulhar fundo na aprovação do projeto, seguindo uma prática costumeira. E não poderia ser diferente, em decorrência da essência de direita e de extrema direita de seus integrantes, ampliada com a saída do ex-deputado Sérgio Vidigal (PDT), eleito prefeito da Serra. Assumiu a vaga o candidato derrotado a prefeito de Vila Velha, Neucimar Fraga (PSD), antigo correligionário do capitão presidente.
Nesse cesto cabem perfis cujas diferenças são, apenas, aparentes. No fundo, seguem a mesma cartilha de Paulo Guedes, dito ministro da Economia, comandante do processo de desmonte da nação brasileira. Nesse cenário se inclui em destaque o deputado Felipe Rigoni, da nova leva de políticos, formado no instituto RenovaBR, eixo da direita endeusado na mídia corporativa criado pelo megaempresário da área da Educação e sócio de Paulo Guedes, o dito ministro da Economia, Eduardo Mufarej.
O grupo reúne conhecidas figuras, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, a atriz Maitê Proença e o técnico de vôlei Bernardinho e, mais recentemente, o ex-governador Paulo Hartung em torno do apresentador de TV Luciano Huck, incensado como o candidato a presidente da República em 2022, que, para eles, seria a salvação do Brasil. É de deixar perplexo qualquer pessoa medianamente bem informada. A coisa está feia.
Como me falou um amigo morador de um país distante, nessa semana, na conversa que tivemos via WhatsApp, confirmando noticiário dos jornais e emissoras de TV de lá: “As coisas vão mal por aí, estou sabendo!”, me disse ele, e relatou um cenário tenebroso do Brasil, escamoteado pela mídia corporativa daqui, eficiente em censurar relatos essenciais, na estratégia montada para manter o público mal informado.
E assim, fatos sobre a autonomia do Banco Central, a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro e os crimes dele e do grupo de procuradores da operação Lava-Jato, liderados por Deltan Dallagnol e Globo, praticados na cara do Judiciário, a venda do pré-sal e das refinarias de petróleo, os14 milhões de desempregados, a crise das vacinas, são mostrados com bastante discrição e sob uma capa apropriada para mascarar a realidade.
A história segue, de mal para pior, e cabe uma reflexão sobre a frase: “E como a história ainda não terminou, ninguém pode estar seguro de quem será o último a rir ou a chorar”. Com essa declaração, o economista Celso Furtado (1920-2004) no livro Brasil, a construção interrompida, publicado em 1992, já sinalizava para a “degradação sem precedentes na economia dos países do terceiro mundo”-, termo muito usado na época -, e expressava o “sentimento de angústia gerado pelas incertezas que pairam sobre o futuro do Brasil”.
Vinte e nove anos depois, o cenário previsto vai se configurando diante da omissão generalizada quanto ao avanço da “lógica dos mercados”, interrompendo a “construção de um sistema econômico nacional”. O processo de formação do Estado Nacional se interrompeu precocemente, já sinalizava Celso Furtado antevendo a investida do capital especulativo e aniquilador de projetos políticos mais abrangentes, em franco desenvolvimento no Brasil.
E ganha novos e potentes aliados, comprados com o dinheiro das emendas parlamentares. Portanto, o bloco da esquerda precisa chegar rápido às ruas, a fim de sacudir a sociedade e salvar o Brasil com um programa voltado para o coletivo e não somente para um reduzido número de privilegiados. O golpe de 2016 interrompeu o processo democrático, é preciso resgatá-lo logo, a partir da devolução dos direitos políticos do ex-presidente Lula, a prisão de Moro e Dallagnol, e, mais do que nunca, a defenestração de Bolsonaro do poder.