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Espírito Santo tem primeira cooperativa de motoristas de aplicativo do Brasil

Motoristas são sócios e participam das decisões do Podd, aplicativo que funciona na Grande Vitória

As mudanças na mobilidade urbana e nas relações de trabalho têm sido muito debatidas nos últimos anos, incluindo temas como a superexploração do trabalhadores pelos aplicativos de mobilidade, construídos por grandes empresas de tecnologia que negam vínculo empregatício e têm relação pouco ou nada democrática com seus “colaboradores”. Em meio a tudo isso, uma experiência pioneira no Brasil teve início no Espírito Santo: o Podd, primeira plataforma de transporte de passageiros que funciona no modelo cooperativista, no qual os motoristas são sócios.

O projeto foi criado a partir de cerca de 500 cooperados da Cooperativa de Transporte Rodoviário (Coopertran), presente em três estados e no Distrito Federal, que decidiram investir os lucros para a criação do Podd, sigla para Pay On Demand (Pagamento sob demanda). As operações começaram oficialmente em 12 de outubro de 2020, e aos poucos o número de motoristas e clientes vêm crescendo. Atualmente são mais de 520 cooperados e cerca de 25 mil downloads do aplicativo. O funcionamento até o momento é nos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica.

Cooperativa funciona em nova sede
em Bento Ferreira. Foto: Divulgação

Mas quais as vantagens defendidas pela cooperativa em relação aos aplicativos convencionais? Primeiramente, por funcionar como cooperativa, o Podd possibilita que os motoristas participem das decisões relacionadas com seu trabalho, como por exemplo o valor das tarifas, algo impensável nos outros aplicativos. A taxa administrativa cobrada por corrida está em 15% do valor total, enquanto outros aplicativos cobram entre 25% e 40% e inclui seguro de vida, seguro veicular para terceiros e acesso facilitado a plano de saúde e odontológico, seguro veicular, plano telefônico e desconto na compra de automóvel.

Para se associar, o motorista precisa ter carteira de habilitação há mais de dois anos, realizar exames médico e psicotécnico, vistoria veicular, passar por treinamento e pagar a chamada quota-parte, que se refere à sua participação na empresa, hoje no valor de R$ 1.500, que pode ser parcelado em 15 vezes e é devolvido após o balanço anual caso o cooperado decida sair da sociedade. A participação, a princípio, não exige exclusividade, e os condutores podem trabalhar com outros aplicativos simultaneamente, o que inclusive serve para ajudar na divulgação do Podd.

Em relação aos passageiros, a cooperativa promete preços competitivos em relação a outros aplicativos, mas um atendimento mais qualificado por conta da série de treinamentos que os motoristas participam e maior segurança, por ser um serviço monitorado, dirigido pelo próprio “dono do app” e por vezes com plotagem do carro, que é opcional mas ajuda também na segurança do próprio motorista. Se importar ainda ao passageiro, o recurso por ele investido no transporte é aplicado e reinvestido localmente, ao contrário da maior parte dos custos administrativos dos outros apps, que geralmente beneficiam investidores estrangeiros.

Treinamentos e assembleias fazem parte da cooperativa, em que os motoristas são sócios e têm poder de foto sobre as decisões. Foto: Podd

Como parte do processo de implementação do Podd, foi criada a Casa do Motorista de Aplicativo, em Bento Ferreira, Vitória, onde acontecem as atividades administrativas, atendimento a passageiros e motoristas e as assembleias de cooperados da Podd.

“Não existe hoje nenhum outro aplicativo no Brasil que possa ser comparado com o Podd. O intuito não é ser mais um aplicativo. O cooperativismo trabalha para trazer solução para cooperados e a sociedade. O cooperado é sócio, dono do aplicativo. É outro patamar”, aponta Ana Katia Covre, da comunicação do Podd. “No valor da tarifa se busca um preço justo, se estiver mais caro do que outros apps, é porque eles baixaram de repente”, diz ela, sobre as políticas de estrangulamento que vêm sendo feita pelos aplicativos.

É justamente pela insatisfação dos motoristas com esse tipo de prática que surgiu o Podd, a redução dos ganhos deles, além dos bloqueios injustificados, da falta de representatividade nas decisões e dos casos de assaltos e outras violências. O desafio, porém, ainda é grande, pois se trata de uma disputa com agentes com volumoso capital para investir em propaganda, no desenvolvimento dos aplicativos e nos valores praticados.

Apesar do início considerado positivo, Ana Katia Covre aponta a necessidade de um crescimento exponencial para a consolidação do Podd. Se será competitivo, se implicará numa melhoria significativa nas condições de vida e trabalho dos motoristas, ainda será necessário mais um tempo para saber. De todas maneiras, vale ficar atento, pois Vitória é palco de um primeiro experimento no país em que os motoristas são sócios da empresa de aplicativo e não mais “colaboradores” precarizados e sem poder de decisão.

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