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​Armado até os dentes

Engana-se quem pensa que a cena do deputado marombeiro Daniel Silveira é uma coisa isolada

O país entrou nos últimos 15 dias em uma atmosfera de guerra mais pesada, a partir do decreto de liberação de armas para a população civil, que vem a público quase ao mesmo tempo da confissão do ex-comandante do Exército, general Villas Bôas. Ao assumir a participação no movimento golpista de 2016, que impediu o ex-presidente Lula de disputar as eleições de 2018 e a sua prisão, possibilitando a vitória de Bolsonaro, o militar coloca a nu a engrenagem usada para transformar o Brasil numa republiqueta submetida ao capital financeiro e aos planos imperiais dos Estados Unidos para a América Latina, que poderá desencadear um regime totalitário neofascista.

Outros acontecimentos somados a esses fatos, como a reprimenda a Villas Bôas do ministro do Supremo Tribunal Federal (SFF), Edson Fachin, sinalizam desdobramentos com impacto em áreas sensíveis à vida nacional, já profundamente abalada com o desemprego e a fome em taxas elevadíssimas, resultantes de uma economia em frangalhos. A prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes, e a indicação de um general para presidente da Petrobras colocaram mais ingredientes no cenário da tragédia brasileira.

O Brasil tem um governo militar, arquitetado no golpe que tirou Dilma Rousseff e abriu caminho para a militarização, também, na política, como pode ser observado em casas legislativas em todos os níveis, e na área educacional, por meio da proliferação de escolas cívico-militares, amparados pela enganosa pauta de costumes disseminada por camadas religiosas.

No Espírito Santo, o lançamento mais recente foi o de uma escola em Cariacica, com a presença do ministro da Justiça, André Mendonça, um pastor evangélico bolsonarista tipo “você manda eu obedeço”, mesma doutrina desses estabelecimentos, que sequestra o pensamento crítico e, em consequência, suprime o diálogo, o debate democrático.

Usa-se a capa da disciplina, da honestidade, da generosidade, o saber fazer para justificar a implantação desses estabelecimentos. A questão é que na hora do vamos ver, nem todos apresentam essas características, pois o uniforme e a patente não tornam ninguém santo ou eficiente. A história mostra um exemplo sólido: na ditadura militar, a dívida externa saltou de US$ 3 bilhões para US$ 102,7 bilhões, ou 53,4% do Produto Interno Bruto (PIB), fora os escândalos de meter a mão na coisa pública, fatos nem sempre divulgados por força da censura imposta à imprensa.

Com esses personagens, o cenário só tende a piorar, por meio de milicianos cada vez mais armados, principalmente na zona rural, sob o disfarce de “caçador”, com direito a 30 armas de fogo legalizadas. Por isso, engana-se quem pensa que a cena do deputado marombeiro Daniel Silveira é uma coisa isolada, saída da cabeça de um indivíduo mais acostumado a praticar cenas de quebra-quebra, como fez com a placa da rua Marielle Franco, em 2018. Ele vai ficar pelo caminho, assim como Moro, Dellagnol e outros.

Apesar disso, a engrenagem continua a se mover, pois vem de muito tempo a sua construção, ampliando o clima de ódio no país e despertando instintos selvagens. O Judiciário e a imprensa corporativa têm culpa no cartório, e, agora, buscam realizar a difícil tarefa de livrar-se desse pesado fardo ante a ameaça de um endurecimento por parte de um comando que ajudaram a construir.

Bolsonaro se arma e seus seguidores seguem na cruzada, sustentada por um eficiente sistema de comunicação de massa, responsável por manter seu público-alvo adormecido com a aversão ao PT, ao comunismo e a tudo o que represente avanço civilizatório, humanista, solidário, com a ajuda de orações de crentes tresloucados, insensíveis à dor do outro.

Como pano de fundo, os cerca de 250 mil mortos e os mais de 10 de milhões de casos da Covid-19, que não param de subir estimulados pelo descaso e a ineficiência do governo para garantir vacinas para toda a população, ameaçada de perder mais 700 mil vidas até o final deste ano, segundo a estimativa de infectologistas, caso permaneçam os entraves decorrentes da incapacidade de gestão do Ministério da Saúde, comandado por outro general, um dos cerca de 11 mil incrustrados na área federal. Estamos em guerra, e, para agravar o quadro, a intromissão do governo na Petrobras, sem que haja alteração na política de preços dos combustíveis, vai gerar mais confusão, que poderá deflagrar conflitos maiores. Pelo bem do Brasil, é urgente tirar Bolsonaro do poder.

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