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O divulgador da Geração Beat

Lawrence Ferlinghetti teve papel ativo na democratização da literatura americana, com sua livraria City Lights

Lawrence Ferlinghetti é a figura de referência da Geração Beat. Foi um agregador da fortuna literária desta geração, o escritor e editor, fundando a livraria-editora City Lights, e quem juntou o trabalho dos escritores e poetas beats e então atuou como o catalisador desta geração, tendo como grande feito o de ter colocado o trabalho literário de Allen Ginsberg em evidência.

Sua vida, contudo, nada tinha de parecido com as loucuras que muitos beats viviam nesta época que fervilhou como prenúncio do que viria a ser sua geração sucessora, os hippies. Lawrence Ferlinghetti morre agora, com uma vida longeva, aos 101 anos.

Ele foi poeta, editor e pintor, um beat norte-americano, que divulgou, através da City Lights, as obras de Allen Ginsberg, Charles Bukowski, Samuel Bowles, Sam Shepard e Antonin Artaud. O centenário beat morreu de doença pulmonar, segundo seu filho, Lorenzo Ferlinghetti, reportando isto ao Washington Post.

Lawrence Ferlinghetti nasceu em Nova Iorque no dia 24 de março de 1919, ficando conhecido pelo seu livro Coney Island of the Mind, que vendeu mais de um milhão de exemplares, e se tornou o maior best-seller de um poeta norte-americano vivo da segunda metade do século XX.

A City Lights foi fundada em 1953 em São Francisco, e ainda hoje persiste viva, e se tornou um lugar histórico, pois era o local dos encontros da Geração Beat, liderados por Allen Ginsberg e Jack Kerouac. A City Lights começou como livraria, e se tornou, também, editora, a partir de 1955, começando a publicar um primeiro volume da coleção “Pocket Poets Series”, com a intenção de agitar o cenário, uma dissidência internacional.

Lawrence Ferlinghetti teve papel ativo na democratização da literatura americana, com sua livraria City Lights, que foi a primeira nos Estados Unidos a vender livros a preços acessíveis, de capa mole, abrindo o acesso do grande público a este material, e que foi uma força importante de influxo para a poesia norte-americana.

Lawrence Ferlinghetti chegou a recusar manuscritos como On The Road, de Jack Kerouac, e Almoço Nu, de William S. Burroughs. Contudo, foi quem publicou Uivo e Outros Poemas, de Allen Ginsberg, em inglês Howl, uma obra polêmica com descrições sexuais e amorais, que provocou a apreensão do material pela polícia, e um julgamento midiático de Ferlinghetti, acusado de obscenidade.

Depois deste julgamento sobre obscenidade, os Estados Unidos tiveram seu caminho aberto para publicações como O Amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence, e Trópico de Câncer, de Henry Miller.

A poesia de Lawrence Ferlinghetti, por sua vez, tem uma adesão aos ritmos de jazz, que tem presente o homem comum das ruas, e os temas dos quais fala são comuns a esta realidade cotidiana e comum. Esta poesia não foi muito referendada pela crítica, o sistema literário não a acolheu, sua poesia não se tornou épica como a de Allen Ginsberg, mas ganhou adesão de jovens estudantes da década de 1980.

Lawrence Ferlinghetti produziu uma poesia baseada na utopia do prazer de leitor, e em suas obra mais conhecida, Um Parque de Diversões na Cabeça (A Coney Island Of The Mind), seu segundo livro, de 1958, são registrados poemas que remetem a procedimentos de escritores como Genet e Rimbaud, surrealistas como Breton, e a pinturas de Van Gogh e Delacroix, dentre outras referências e procedimentos.

Lawrence Ferlinghetti tem como principal procedimento a aproximação via leitura e o afeto artístico. Esta poesia atua como a elaboração de um espaço de afeto nesta sua geração, a Geração Beat, sem colocar a pauta de embate de forças, de movimento artístico ou proposição de nação.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog:
http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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