O sistema hospitalar capixaba irá colapsar em no máximo três semanas, caso medidas mais rígidas de circulação de pessoas não forem implementadas. A previsão é do matemático Etereldes Gonçalves Junior, professor-doutor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), que assessora tecnicamente o governo do Estado na tomada de decisões para enfrentamento da pandemia de Covid-19.
Em 26 dias, entre 13 de fevereiro e 11 de março, as Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) dedicadas ao tratamento de pacientes com Covid-19 no Estado internaram 143 pessoas a mais. “Não estou falando de fluxo, quem entra e sai da internação. São pacientes a mais, demanda extra. Nessa taxa, é uma regra de três: se houve incremento de 143 pessoas em 26 dias, quanto tempo leva pra ter um incremento de 107 pessoas, que é o número de leitos disponíveis hoje? A resposta é: no máximo três semanas até o colapso”, explica o professor.
No Painel Covid-19 desta sexta-feira (12), um dia após o cálculo, já foram cinco internações a mais nas UTIs Covid, com taxa de ocupação atual de 84,53%. Etereldes afirma que somente um pacto social pode evitar o colapso já verificado em outras unidades da federação, como São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Amazonas e Rondônia.
“Temos que construir essa pactuação com a sociedade, para convencer de que é necessário colocar medidas mais restritivas. Não é possível fazer isso de uma hora para outra, é preciso construir esse processo, mas não pode passar da semana que vem, senão será inócuo. Esse é o nosso apelo”, diz.
Em seu balanço semanal da Covid-19, a epidemiologista Ethel Maciel, também professora-doutora da Ufes e integrante do NIEE, reforçou o alerta do colega cientista sobre a iminência do colapso e o pedido de coesão social para reduzir a circulação de pessoas imediatamente, além de ressaltar o lockdown de 21 dias.
O cenário brasileiro atual é o mais grave desde o início da pandemia, ressaltou Ethel, com muitas mortes diárias. “Batemos recordes, viramos ameaça global, pela possibilidade de novas variantes e aceleração da doença no nosso país”, resumiu, salientando que o Espírito Santo também tem registrado aumento grande da ocupação hospitalar, com possibilidade de muitas mortes nas próximas semanas e o crescimento exponencial dos casos, com a taxa de reprodução (Rt) voltando a ficar acima de 1.
“Nesse momento seria importante que todas as empresas, todas as repartições públicas, todos os locais que podem ter ações remotas, não presenciais, que voltem a ser remotas, homeoffice. Evitar ao máximo o presencial nesse momento. Nós precisamos restringir a circulação de pessoas, senão a nossa previsão é de que daqui a no máximo três semanas a gente tenha um colapso dos serviços de saúde aqui no Espírito Santo”, orientou.
“Eu espero que hoje nós tenhamos anúncio de vários governadores para aumentar as medidas restritivas em todo o Brasil, para que a gente possa salvar vidas. É muito importante um pacto social, um pacto de todos, para que nós possamos nesse momento tão delicado, tão grave, salvar o maior número de pessoas que pudermos”, pediu.
Mais jovens internados
Além da maior demanda por leitos hospitalares, sublinhou a epidemiologista, é registrado um aumento do número de jovens internados, o que eleva o tempo de internação, “porque [os mais jovens] sobrevivem mais, lutam mais, com o sistema imunológico reagindo melhor à doença”. Evitem qualquer tipo de aglomerações, pediu Ethel ao mais jovens. “É muito importante que você entenda que o risco nesse momento é de todos nós. E sem uma vacinação efetiva, rápida, com muitas doses, como nós não temos, o risco é maior”, rogou.
Máscaras filtrantes
Ethel Maciel voltou a reforçar também a necessidade de usar máscaras filtrantes, chamadas de PFF2 ou N95, e o pedido de que elas sejam distribuídas no Sistema Único de Saúde (SUS). “Se você pode comprar, compre, qualquer marca, o importante é que tenha o selo do Inmetro para PFF2 – peça facial filtrante. Use essa máscara a partir de agora. Ela filtra partículas do vírus, impede que você se infecte, e nesse momento isso pode salvar vidas. Se você não tiver como utilizá-las, coloque duas máscaras de tecido”, orientou.
Medidas de governo
Articulações com o objetivo de construir “um pacto capixaba de enfrentamento à Covid-19”, com diálogo com diversos setores da sociedade, como o empresariado e a sociedade civil organizada, foram anunciadas pelo governador na noite desta sexta-feira, ao anunciar o novo Mapa de Risco, que não tem nenhum município em risco baixo e 17 em risco alto, incluindo os dois mais populosos: Serra e Vila Velha, na região metropolitana.
A possiblidade de lockdown nas próximas semanas foi aventada pelo secretário de Estado de Saúde, Nésio Fernandes, também nesta sexta-feira.
O governador pediu ainda a adoção do trabalho em homeoffice em todas as empresas que o puderem e, inclusive, já se antecipou à vigência do mapa, que inicia na próxima segunda-feira (15), e transformou em remoto os eventos presenciais agendados para este próximo fim de semana.