Assumção comandou carreata que foi até a casa do governador e de sua mãe de 88 anos
Depois de ressaltar que “nenhum deputado citou o meu nome” e pedir “respeito aos movimentos de rua”, o deputado Capitão Assumção (Patri), dirigindo-se à deputada Iriny Lopes (PT) na sessão da Assembleia Legislativa desta segunda-feira (15), disse: “Não admito que use o meu nome”. Referia-se à fala da parlamentar, que, como outros deputados, se posicionou contra a manifestação de um grupo de seguidores do presidente Jair Bolsonaro contrários às recomendações do governo do Estado para conter a Covid-19. Nesse domingo (14), eles saíram em carreata até a casa da mãe do governador Renato Casagrande (PSB), Dona Anna, de 88 anos, proferindo agressões verbais, depois de permanecer por longo tempo em frente ao prédio onde reside o governador.
A fala de Assumção na Assembleia contradiz postagens no Instagram sobre a manifestação, onde ele aparece em cima de um carro de som, em meio a uma multidão, proferindo palavras agressivas a Casagrande, com a camisa verde amarela, dando o comando: “Nós estamos agora em frente à casa do governador: lockdown na casa do governador; quero ver se o covarde vem pra cá”. Em seguida chama Casagrande de “frouxo”, enquanto o carro de som repercute uma voz de elogios a Bolsonaro.
Assumção prossegue: “Vem pra cá, governador, Bolsonaro vai pra rua, eu quero ver se você vem também”, dizia, em meio aos gritos da multidão de “sai debaixo da cama, Renato”. O deputado então chama a atenção dos manifestantes e dá voz de comando: “O governador se acovardou, fugiu daqui e foi pra casa da mãe lá em Bairro República, é um covarde, e a gente vai atrás dele…”.
O ato é parte de carreatas ocorridas no domingo em várias cidades e foi realizado dois dias depois de o governador anunciar, na noite da última sexta-feira (12), que algumas cidades do Estado deverão adotar medidas mais rígidas para combater o avanço da pandemia. A manifestação começou em Vila Velha, com cerca de 200 veículos, que se encontraram com outro grupo na praça do Papa, em Vitória, de onde seguiram para a casa do governador, no bairro de Bento Ferreira.
Em pronunciamento nas redes sociais na noite desse domingo (14), o governador Casagrande afirmou: “Manifestantes que negam os efeitos do coronavírus saíram às ruas hoje contra medidas que tomamos para frear a transmissão e salvarmos vidas. Legítimo. Mas é inaceitável irem até a residência de minha mãe, uma idosa de 88 anos, com diversas comorbidades, com atitudes agressivas, colocando em risco a vida dela. Mais uma demonstração de que não possuem nenhum respeito à vida. Vamos seguir protegendo a população capixaba”. Sua fala repercutiu em veículos nacionais, na classe política e também na Assembleia Legislativa, que analisa se divulga uma nota de repúdio, o que deve ser definido nesta terça-feira.
Nessa segunda-feira, deputados se pronunciaram condenando a forma como ocorreu a manifestação, principalmente as agressões verbais registradas em frente à casa de D. Anna Casagrande. O deputado Emílio Mameri (PSDB), médico, lamentou o fato, defendeu o isolamento social e as medidas anunciadas pelo governo, e apontou para o risco de um colapso no sistema de saúde: “Vamos esquecer a ideologia”, disse.
Mameri apelou para a coerência, para “não acontecerem outras situações de agressão” provocadas por pessoas sem “a mínima sensibilidade, ameaçando e falando palavras que não deveriam”. O deputado Freitas (PSB) também se manifestou em solidariedade ao governador, seguido pelo líder do governo, Dary Pagung (PSB), Bruno Lamas (PSB), e Iriry Lopes (PTY), que citou nota de repúdio divulgada por seu partido e citou Capitão Assumção.
“Não sou contra manifestações. Mas não há espaço para isso na porta do cidadão Renato Casagrande”, disse a deputada, para quem “Dona Anna não deveria ter sido visitada por esse grupo de arruaceiros, incitado por um membro desse parlamento”. Acrescentou em seguida: “Me refiro ao deputado Capitão Assumção”.
Na nota de repúdio, o PT afirma: “Repudiamos a manifestação intolerante e negacionista do grupo bolsonarista que visa constranger quem segue as orientações de usar máscara e fazer o isolamento social para preservar suas vidas. Enquanto o mundo inteiro adota medidas que protegem a vida e asseguram emprego e renda, a política de Bolsonaro asfixia governadores e prefeitos, promovendo um estado de caos, humilhação social e ignora o sofrimento da população”.