Bruno Lamas mandou Capitão Assumção “baixar o dedo” e disse não ter medo da farda dele
“Baixe o dedo. Não tenho medo do senhor. A sua farda não me mete medo. O senhor precisa de um tratamento psiquiátrico imediatamente”, disse o deputado Bruno Lamas (PSB), ao repreender o também deputado Capitão Assumção (Patri) na Assembleia Legislativa nesta quarta-feira (17). A sessão ordinária foi marcada por um clima de tensão, registrado também no dia anterior, em decorrência da politização do combate à pandemia da Covid-19 promovida por parlamentares seguidores do presidente Jair Bolsonaro.
Bruno e Assumção estavam na sessão híbrida, com outros deputados presentes no plenário, e presidida pelo deputado Marcelo Santos (Podemos), que foi obrigado a chamar seguranças para evitar que os ânimos ficassem mais acirrados. A agressão ocorreu quando Bruno Lamas falava em um aparte concedido pelo líder do governo, Dary Pagung (PSB). Com o dedo em riste, Assumção aproximou-se do deputado com palavras ofensivas.
“O senhor faz a pior oposição que eu já vi na minha vida. É uma oposição destrutiva. É a oposição que aponta o dedo. Uma oposição que agride a deputada Iriny [Lopes, PT] a todo momento”, declarou Bruno Lamas.
Tudo começou com uma discussão em torno da nota de repúdio, de autoria de Lamas, aprovada pelo legislativo estadual na sessão dessa terça-feira (16), com os votos contrários somente de Assumção e Torino Marques (PSL). O documento condena a atitude agressiva de um grupo de manifestantes favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro, que foram até a casa onde mora Anna Venturim Casagrande, 88 anos, mãe do governador Renato Casagrande (PSB).
Para Assumção, o episódio foi apenas uma “representação teatral do governador”. Ele argumentou que não houve agressão ou insultos à Dona Anna, como relatou a nota, e que o protesto foi “pacífico”. Acrescentou que iria requisitar as imagens de uma câmera da Prefeitura de Vitória instalada no local para comprovar a veracidade de suas declarações.
Em sua fala anterior, Assumção se referiu várias vezes a Bruno Lamas com a seguinte frase, ao negar que ele e os bolsonaristas tenham ofendido a mãe do governador: “O deputado que me antecedeu”. Bruno reagiu: “Eu tenho nome, deputado. Me chamo Bruno Lamas Silva. Respeite a minha fala, que eu não tenho medo do senhor, não. O senhor está vendo fantasmas em pleno meio-dia. Entre a sua palavra e a palavra do governador, eu confio na do governador”, afirmou Bruno.
O deputado do PSB criticou a atitude do colega: “Quero dizer ao Capitão Assumção que não tenho dificuldade nenhuma para dialogar. Ele citou várias vezes um deputado que o antecedeu. Eu tenho nome e ele é Bruno Lamas Silva!”, reiterou.
Neste momento, Assumção tentou interromper Bruno, que pediu a garantia da sua fala à Mesa Diretora. “Senhor presidente, garanta a minha fala, por favor”, mas Assumpção insistia, ao elevar o tom de voz.
“Ninguém tem medo de grito aqui, não, capitão! A sua fala não nos assusta. O que queremos é respeito ao contraditório. Queremos é paz, sem grito, sem ameaças. Ninguém citou o seu nome na nota. O senhor vê fantasma ao meio-dia e com a luz acesa. Tenha paciência e respeite os seus colegas. Aliás, este parlamento tem paciência até demais para com o senhor”, desabafou.
“Não se pode perder o respeito, nem de uma parte e nem de outra. Estou aqui como presidente e não permitirei que nós passemos do limite”, declarou Marcelo Santos. Dary Paung, por sua vez, lembrou que “vivemos um momento em que precisamos ter muita calma e equilíbrio”.
O deputado Hércules Silveira (MDB), ressaltando que não queria entrar no conflito e sim defender a paz, disse, com base na frase de “um pensador: “Tem muito inteligente em dúvida; tem muito idiota com muita certeza”, afirmou, completando em seguida: “Não tenho palavras para isso que está acontecendo”.
Desde o último domingo, quando teve início no Estado os anúncios sinalizando necessidade de quarentena para conter a transmissão do coronavírus, grupos bolsonaristas vêm intensificando, em todo o País, as manifestações contra as medidas adotadas por governadores, que contrariam a política do governo federal, apontada como desastrosa e responsável pela situação de guerra no país e colapso no sistema de saúde.
A falta de uma coordenação central, a ineficiência do Ministério da Saúde e o descaso em relação à vacinação em massa colocam o Brasil entre os mais atrasados do mundo no controle da doença, com aumento vertiginoso do número de mortos. Na sessão da Assembleia dessa terça-feira, os deputados oposicionistas Capitão Assumção e Torino (PSL) protestaram contra a quarentena, exibiram dados desatualizados sobre a pandemia, e elogiaram a política do governo federal.
A nota apresentada por Bruno Lamas foi submetida ao Plenário e aprovada pela maioria dos parlamentares para ser publicado no Diário do Poder Legislativo (DPL).
Em momento algum cita o nome dos parlamentes que estiveram na casa da mãe de Renato Casagrande. Destaca, no entanto, que “o ato cívico teve palavras e atitudes agressivas e ofensivas, que avançaram sobre a intimidade e vida privada da vítima, causando-lhe violência psicológica”.
O documento lembra que a vítima é mulher e pessoa idosa, e cita a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) e o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003).
“Buscaremos sempre abolir a impunidade e acabar com todas as formas de violência praticada contra a mulher, como ocorreu no evento ocorrido no último domingo na porta da residência da senhora Anna Venturim Casagrande. Reiteramos que continuaremos lutando para que ações aflitivas como essa, que causam dor e sofrimento psicológico à mulher idosa, não continuem ocorrendo em nosso país”, diz a nota lida por Bruno Lamas.
Antes do ataque de Capitão Assumção a Bruno Lamas, o discurso estava sob a responsabilidade de Dary Pagung. Ele elogiou a coragem do governador pelas medidas de restrições anunciadas no dia anterior, para evitar uma calamidade na saúde pública diante do crescimento da pandemia do novo coronavírus no Espírito Santo. “Parabenizo o governador e o secretário Estadual da Saúde [Nésio Fernandes] pela atitude que tomaram. Atitude corajosa, que visa salvar vidas. Precisamos defender a economia, mas em primeiro lugar vem a vida. Sem a vida, só nos resta orar e pedir para ir para o céu”.
Para Dary Pagung, quem critica a quarentena em todo o Estado decretada pelo governador Casagrande “só vê um lado; o lado eleitoreiro”. Segundo ele, este não é o momento de eleição: “É o momento de defender vidas, não se trata de defender o bem e o mal. A decisão que o governador tomou foi difícil. Se ele esperasse mais 14 dias para tomar tal decisão, o que essa oposição iria falar?”.