domingo, novembro 24, 2024
23.3 C
Vitória
domingo, novembro 24, 2024
domingo, novembro 24, 2024

Leia Também:

Lords of Chaos – A sangrenta história do metal satânico underground – Parte V

“O Bathory conseguiu criar o rascunho para o black metal escandinavo em todas as suas diversas facetas”

As bandas Venom, Mercyful Fate e Bathory foram as pioneiras no que deu inspiração e sustento para o som que caracterizaria as bandas de black metal dos anos 1990. Essas bandas, ainda nos anos 1980, plasmaram a temática e a sonoridade que, depois, seria desenvolvida pelas bandas norueguesas, por exemplo. Podemos, mais arbitrariamente, incluir também bandas como Hellhammer, Slayer e Sodom.

O Venom surgiu entre 1979 e 1980, em Newcastle, na Inglaterra, e os membros da banda adquiriram pseudônimos, o que seria uma prática de muitas bandas de black metal, depois, nos anos 1990. A banda então se formou como trio, com os músicos Cronos, Mantas e Abaddon. Uma música exagerada e anormal logo surge, com Abaddon dizendo que as fontes do som vieram de bandas como Black Sabbath e Deep Purple.


No livro Lords Of Chaos, podemos ler: “Além de serem os pioneiros de um som mais sujo do que qualquer outra banda de rock ou punk da Europa da época, a notoriedade do Venom era duplamente assegurada pelo seu elaborado endosso do satanismo a um grau que causaria sonhos molhados em inquisidores medievais”.
E segue o livro: “Tais polêmicas reverberam com seus fãs, e os antigos álbuns do Venom, Welcome to Hell (1981), Black Metal (1982) e At War with Satan (1983) chegaram a vender centenas de milhares de cópias ao longo dos anos. Com o título de seu segundo álbum, Black Metal, um estilo futuro de música satânica havia encontrado seu nome.
O disco também talhou em pedra alguns dos aspectos essenciais do gênero. O principal seria uma política declarada de oposição violenta ao judaico-cristianismo, uma blasfêmia interminável, e o abandono de qualquer sutileza em benefício de uma teatralidade grandiosa que balançava na beira de um abismo kitsch e caricatura própria”.
O Mercyful Fate, também uma banda que se desenvolveu na década de 1980, tinha em seu vocalista King Diamond um leitor de LaVey, a banda que teve seu som influenciado por bandas clássicas como o Black Sabbath e o Deep Purple, combinado com um vocal operístico de Diamond, com dois álbuns principais em seu bojo, o Melissa, de 1983, e o Don`t Break the Oath, de 1984, com histórias de ritos mágicos, pactos quebrados e suas consequências e declarações de credo satânico.
A atuação teatral de King Diamond nos palcos vinha com uma pintura facial preta e branca, e como lemos em Lords of Chaos: “Diamond é um dos únicos artistas do metal satânico dos anos 1980 que era mais do que um poser usando uma imagem demoníaca para chocar. Entre sua abertura para falar sobre seu engajamento pessoal e o teatro mascarado da sua persona de palco, sua influência seria óbvia na ressurreição do black metal com sangue novo entre 1990 e 1991”.
Em Lords of Chaos, temos então o livro descrevendo as origens da banda Bathory, no que temos: “O grupo sueco Bathory, junto do Venom, foi inaugural na evolução do black metal moderno. O Bathory tirou seu nome da “Condessa de Sangue” Erzebet Bathory, uma nobre húngara do século XVIII que foi julgada pelo assassinato de centenas de garotas jovens, em cujo sangue ela supostamente se banhava para manter sua beleza juvenil.
É muito provável que uma canção antiga do Venom, “Countess Bathroy”, do álbum Black Metal, tenha sido a inspiração direta para o nome, já que o Bathory deve muito da sua sonoridade e aparência inicial aos ingleses fundadores do black metal. O motor por detrás do grupo é um homem que usa o nome artístico Quorthon (curiosamente, o Bathory nunca em sua carreira tocou um show ao vivo para o público)”.
O Bathory surgiu com um som ainda mais potente do que era o Venom, uma música que veio como um arsenal de distorção, no livro podemos ler “a seção rítmica hipermovimentada fica borrada até se transformar em um turbilhão rodopiante de frequências – o pano de fundo perfeito para os vocais vociferados de natureza indecifrável”.
Em Lords of Chaos, podemos ler em seguida: “Conforme o Bathory amadureceu ao longo dos seus álbuns seguintes, The Return … (1985) e Under the Sign of the Black Mark (1987), a música desacelerou notavelmente, as canções ficaram mais elaboradas, e os assuntos começaram a comunicar um grau de sutileza e ambiguidade que estava a quilômetros de distância dos primeiros singles. A essa altura, ocorreu uma notável mudança de foco que, da mesma forma que o primitivismo do primeiro álbum, também influenciaria profundamente a cena black metal do futuro”.
Em 1988, o Bathory lança o álbum Blood Fire Death, com uma sonoridade ainda potente e barulhenta, mas saindo da temática de um satanismo infantilizado, e entrando na seara do paganismo com foco nos antepassados escandinavos, sendo que esta exploração de arquétipos ancestrais seria um dos eixos centrais que inspirariam bandas de black metal que surgiriam anos depois, se tornando um componente essencial do gênero.
Em 1990 sai o álbum Hammerheart, que coloca foco na exploração da mentalidade de um praticante da religião Ásatrú na Era Viking. Ásatrú que é traduzido por “lealdade ao AEsir (o panteão de deuses nórdicos pré-cristãos), segundo o livro Lords of Chaos, “é a palavra moderna para o ressurgimento e a reconstrução das crenças religiosas dos europeus nórdicos e teutônicos do norte do continente.
Ela é frequentemente acompanhada por um forte ódio ao cristianismo, considerado uma religião estrangeira que foi imposta aos antepassados sob ameaça de morte”. Em Hammerheart temos músicas mais longas e um vocal mais claro, com cantos corais.
Segue a narrativa de Lords of Chaos: “O último lançamento da “trilogia Ásatrú” do Bathory veio em 1991, com Twilight of the Gods, que enfatiza ainda mais os elementos musicais de composição clássica europeia.
Os temas das letras eram inspirados pelos terríveis alertas de Nietzsche sobre a doença espiritual que afetava a humanidade contemporânea. Além disso, elas continham também referências veladas às divisões da SS da Alemanha na Segunda Guerra Mundial na canção “Under the Runes”, que Quorthon admite ser uma provocação deliberada”.
E podemos encerrar a análise sobre o Bathory, aqui, com mais um trecho de Lords of Chaos: “Apesar de não estar consciente de sua própria influência, o Bathory conseguiu criar o rascunho para o black metal escandinavo em todas as suas diversas facetas: da cacofonia alucinada à grandiloquência melódica orquestrada; da farra nos excessos da adoração medieval ao Diabo à explorações profundas do paganismo viking; das inspirações das tradições europeias ao flerte deliberado com a iconografia fascista e nacional-socialista. Os primeiros seis álbuns do Bathory resumiriam os temas que causariam uma erupção sem precedentes na juventude da Escandinávia e de outros lugares do mundo”.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Mais Lidas