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​Insegurança e saúde mental

Autossuperação e empatia para superação

O ser humano, inacabado por natureza, assimila os valores de seu tempo e constrói seus juízos, dispondo desses valores no objetivo de se autoformar, atingir seus objetivos e viver cada vez melhor.

O agravamento da pandemia do novo coronavírus, com a aceleração do contágio, novas cepas, mudança na performance da doença com a expansão de seus males às pessoas mais novas, “lockdown” e suas consequências na economia, somados ao adensamento das mídias na dimensão dolorosa das mortes, do colapso do sistema de saúde e da irresponsável politização da crise, tem adoecido grande parte da população, principalmente pelos males provindos da insegurança da vida, do desamparo e da banalização do horror.

A população brasileira que tinha uma rotina assimilada, com sua enorme capacidade de adaptação e superação de dificuldades, encontra-se esgotada. Essa sequência de ondas da pandemia e a lentidão no processo de vacinação comunicam desesperança, na exigência de maiores sacrifícios a cada dia, contrariando o pathos de “bonança após a tormenta”. Transparecem uma impressão de ausência de amanhã, não só no sentido temporal, mas na perspectiva de autossuperação para superação da pandemia.

Durante o primeiro ano, a percepção da pandemia como questão passageira, que em algum momento seria resolvida e a “normalidade” retornada, produziu soluções também instantâneas e precárias em todos os setores da sociedade. O auxílio emergencial, o socorro financeiro às empresas, a flexibilização dos contratos para segurar as demissões, a suspensão das aulas presenciais, o estabelecimento de aulas remotas, hibridas, etc. Também a solidariedade de empresas e pessoas produziu um sentimento de conformação apropriado ao evento, indesejado, mas passageiro.

A virada do ano de 2020 para 2021 aconteceu com a exaustão, no senso comum, da compreensão da necessidade de prevenção, principalmente com o distanciamento social, uso de máscaras e álcool gel. A população precisava respirar um pouco, se nutrir com a sensação de alívio, mas a realidade concreta era outra, o fortalecimento do vírus com novas e mais agressivas variantes encontrou nesse “alívio” terreno fértil ao seu desenvolvimento e chegamos em março com índices ainda piores que 2020.

Os sintomas do adoecimento mental mais visíveis são o estresse, que pode ser reconhecido no elevadíssimo índice de atrito nas relações familiares e sociais, e a depressão, que vem isolando ainda mais as pessoas e movimentando os consultórios terapêuticos.

Diante desse quadro de desesperança, a população precisa encontrar forças para enfrentar esses desafios, voltando a atenção para a vida no plano individual e supra individual de nossa cultura solidaria e empática, no cuidado de si e de todos.

Esse reforço, das atitudes eminentemente humanas voltadas a empatia, nos transparece como única possibilidade de, à revelia de todo o desmando que os tempos atuais denotam, resistirmos ao apelo do adoecimento mental e também da Covid, num movimento de autossuperação, para então, de forma coletiva, somarmos os esforços individuais para superação de toda a dramaticidade do momento que vivemos.


Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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