Atos no Palácio Anchieta e nas redes sociais incluem protesto contra medidas que atingem a Ufes
Diversas entidades estudantis do Espírito Santo e do Brasil realizam nesta terça-feira (30) a Jornada de Luta da Juventude. No Estado, os estudantes se organizaram na capital Vitória, onde foram feitas intervenções urbanas com colagens e faixas, incluindo algumas estendidas em frente ao Palácio Anchieta, sede do governo estadual, e ainda nos municípios de São Mateus (norte) e Alegre (sul). O lema é “Vida, Pão, Vacina e Educação”, em protesto contra os cortes no orçamento educacional e de ciência e tecnologia a nível federal e na defesa da vacinação em massa e auxílio emergencial de ao menos R$ 600 até o fim da pandemia.
A jornada segue tendo como agenda uma Plenária Virtual Unificada em Defesa da Educação Pública nesta quarta-feira (31) e o Dia de denúncia: Ditadura Militar Nunca Mais, na quinta (1), data do golpe militar de 1964. Segundo Hilquias Crispim, coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE-Ufes), as organizações estudantis vêm denunciando desde 2016 os cortes na educação brasileira. “Para se ter ideia, já são mais de R$ 11,5 bilhões a menos no Ministério da Educação. E a ausência de reposição orçamentária dificulta inclusive o retorno presencial com as condições básicas de biossegurança. A situação é dramática!”, afirma o dirigente.
Entidades fundamentais para a área de pesquisas, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), tiveram cortes de 8,3% e 33%, respectivamente, sendo que parte dos recurso está condicionado a créditos suplementares. Considerando que já havia déficit acumulado desde 2019, as entidades consideram que há um esvaziamento e paralisação de políticas públicas importantes para o setor, como o Programa Nacional de Pós-Doutorado.
O orçamento para as despesas discricionárias foi reduzido em 17,5% e 16,5% nas universidades federais e nos institutos federais, respectivamente. Na Ufes, os cortes representam perdas de 16,5% na assistência estudantil e quase 30% nos recursos de investimento. Ainda assim, parte do orçamento está condicionado e só pode ser liberado mediante aprovação do Congresso Nacional, o que os estudantes avaliam que pode colocar em risco o funcionamento das instituições federais de ensino.
Karini Bergi Albanez, Diretora de Comunicação e Cultura do DCE-Ufes aponta que os cortes na assistência estudantil ferem o direito de permanência dos estudantes, principalmente aqueles de baixa renda. “O desmonte da educação e das universidades públicas aumenta as desigualdades e impacta diretamente na produção de ciência, tecnologia e no combate à pandemia”, disse.
Conselhos se manifestam contra cortes
Os Conselhos Superiores da Ufes, compostos por estudantes, servidores e docentes da universidade, também se manifestaram sobre os cortes e contingenciamentos de orçamento, apontado “enorme preocupação” e afirmando que eles “colocam em risco o funcionamento da instituição”.
“As universidades federais são instituições estratégicas para a promoção dos direitos sociais, em especial o direito à educação, e responsáveis pela quase totalidade do desenvolvimento científico e tecnológico do País, além da prestação de serviços essenciais e complementares à sociedade”, aponta a nota assinada pelo reitor da Ufes, Paulo Vargas, como presidente dos Conselhos Superiores, formados pelo Conselho Universitário, Conselho de Curadores e Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão.
“Nestes tempos de grande sofrimento para toda a população brasileira, de mortes e adoecimento em massa, é mister que as instituições promotoras de ações e políticas públicas, como as universidades federais, sejam protegidas e fortalecidas para que possam contribuir efetivamente para a superação dos graves problemas que enfrentamos. É preciso também assegurar que, ao final desse período excepcional- e esperamos que chegue breve -, elas estejam preparadas para repor os prejuízos que vêm se acumulando em decorrência da pandemia de Covid-19, a qual se alonga por mais de um ano”, continua.
A nota dos conselhos considera que o orçamento de 2021 aumenta a margem de alocação de recursos próprios da universidade, que geralmente são utilizados para projetos próprios. A preocupação é que a Ufes, assim como outras instituições federais de ensino, possam não conseguir dar conta de despesas elementares para seu funcionamento básico, como as contas de água e luz e a assistência estudantil. Tudo isso enquanto o país tem que seguir um teto de gastos imposto por pressões do mercado financeiro, alega o documento dos conselhos.
“Os desafios que enfrentamos hoje nos colocam numa situação de extrema excepcionalidade e vulnerabilidade, que exige dos governantes atuação compatível com as ameaças que estão postas. Nesse tipo de batalha, o amadorismo, as crendices, as ações desprovidas de fundamento científico, as soluções mal dosadas ou adotadas com atraso custam milhares de vidas”, questionam numa referência ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
A carta termina com um apelo aos governantes e legisladores nas diversas esferas para que se mobilizem e tomem todas medidas possíveis tanto para combater a pandemia e salvar vidas, como para reverter as perdas de investimentos em educação, ciência e tecnologia. “É preciso defender e fortalecer a ciência, para que possamos avançar e superar os desafios de hoje. É preciso fortalecer os sistemas de educação e de saúde públicos e, principalmente, garantir a vida e o futuro de todos”, conclui a nota.