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Quantas hortas urbanas agroecológicas existem no Espírito Santo?

Rede Urbana Capixaba de Agroecologia convoca hortelãs e hortelãos para autocadastro no mapeamento estadual

Roícles Coelho

Quantas hortas urbanas agroecológicas existem no Espírito Santo? O movimento cresceu muito nos últimos cinco anos e a necessidade de conexão e fortalecimento mútuo das diversas iniciativas de agricultura nas cidades é inegável. Com esse objetivo, a Rede Urbana Capixaba de Agroecológica (Ruca) realiza, nesta quinta-feira (1) às 19h, o lançamento do Mapeamento Colaborativo da Agroecologia Urbana no ES.

Durante o evento virtual, a equipe de Mapeamento da Ruca apresentará o passo a passo para o autocadastro das experiências, contando, ainda, com a participação de duas ONGs parceiras: a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) e a plataforma Agricultura em Rede (Era).


Educadora popular da Fase, conselheira do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea/ES), coordenadora do Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH/ES), coprodutora do Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) e ativista da campanha Nem Um Poço a Mais, a geógrafa Daniela Meireles é uma das convidadas.

Trabalhando há anos com o universo da agroecologia no meio rural com quilombolas, grupos de mulheres e povos tradicionais que lutam contra os impactos da indústria do petróleo, a Fase e Daniela foram se aproximando mais do meio urbano por intermédio das reflexões e ações da campanha Nem Um Poço a Mais.

“Pensar agricultura urbana e agroecologia na cidade é repensar esse modelo petrodependente e criar alternativas em termos da alimentação, acesso à água e cobertura verde”, elenca. “E nessas cidades cobertas por pó preto, na Grande Vitória, é ainda mais necessário aumentar a cobertura verde, pra tornar o ar mais respirável”, sublinha.

O mapeamento da Ruca incluirá, além das hortas, as iniciativas de compostagens e de produção e comercialização ligadas à Agroecologia, como os CSAs. “Sobretudo funcionará como uma ferramenta de demandas de políticas públicas”, acredita. “O Estado não tem investido em agricultura urbana, não existe investimento público, tem apenas contribuições, de um técnico aqui e acolá”, observa.

De fato, o Plano Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica, lembra, ainda não foi concluído para publicação e implementação, e está, neste momento, recebendo contribuições da Ruca. “Estabelecemos diálogo com as instâncias que o têm elaborado para incluir aspectos da agricultura urbana”, informa.

Um recente projeto de Lei, nº 87/2021, da deputada Iriny Lopes (PT), que propunha implantar hortos destinados à produção de mudas de plantas medicinais, foi declarado inconstitucional pela Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, que orientou pela transformação do PL em uma indicação parlamentar ao executivo.

Apoio técnico

Há um mês, a Ruca lançou um edital para selecionar um projeto de horta comunitária agroecológica na periferia da Grande Vitória para receber apoio com assistência técnica popular e insumos. O vencedor foi a Horta Agroecológica e Comunitária de São Torquato, em Vila Velha, que se soma aos já apoiados Jardim da Capixaba, no Morro da Capixaba, e o projeto comunitário de plantio e meliponário no Morro do Cabral/Santa Tereza, ambos em Vitória.

Responsável técnico pelo projeto em São Torquato, o técnico agrícola Roícles Coelho, do Instituto Rede Expertise, ressalta a conjunção de interesses e colaborações que se formou para a implementação do projeto-piloto do Expertise no bairro canela-verde.

“O projeto desde o início teve o apoio da Associação Comunitária de São Torquato, cuja presidente é a vereadora Patrícia Crizanto [PSB]. Mais recentemente o Incaper [Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural] destacou um técnico para nos apoiar”, conta, citando ainda possíveis parcerias com entidades com as quais o Instituto se relaciona, como as Federações da Indústria e do Comércio (Findes e Fecomércio/ES), além da atração de voluntários e convênios com instituições públicas.

Os apoios, ressalta, possibilitaram alavancar o sonho, mesmo sem dinheiro em espécie. “Recursos financeiros praticamente nenhum. Trabalhamos na raça. Conseguimos basculantes e garis da prefeitura, através da vereadora, e a cessão do terreno por uma empresa”, relata.

O terreno está situado ao lado de um campo de futebol comunitário, o que pode suscitar envolvimento com as crianças e adolescentes da escola de futebol que funciona ali, além de envolver pessoas de todas as idades e variados interesses em saúde e vida comunitária de São Torquato.

Além da horta de verduras e legumes, está sendo criado um pomar, canteiros de plantas medicinais e ornamentais, criação de abelhas, tanque para criação de peixes, banheiro, forno e fogão a lenha, entre outros “atrativos”.

“Para além da produção de alimentos e da geração de trabalho e renda, o projeto visa uma ação transformadora na sua área de influência, contemplando questões como reeducação alimentar, economia doméstica, reciclagem e reaproveitamento de materiais, interações sociais e conscientização ecológica”, descreve.

Tendo criado sua primeira horta há 66 anos, na Praia do Suá, em Vitória, Roícles lembra que o resgate do rural na cidade é cada vez mais necessário. “Por muito tempo, quem era do interior era desprezado. Quem era da agricultura era o caipira, matuto. Vir para a cidade era status, então as pessoas foram perdendo as suas raízes rurais. O supermercado intensificou isso, pois permitiu comprar ‘de tudo’ num único lugar. Então, mesmo tendo quintal, terreno para plantar, as pessoas foram perdendo o interesse. Mesma coisa acontece na Medicina. As farmácias se multiplicaram como coelhos e a gente foi esquecendo que tem muita medicação diretamente das plantas”, pondera.

A intenção da Rede Expertise, revela, é, a partir do piloto em São Torquato, é estimular o interesse dos gestores público e “replicar o projeto de segurança alimentar e inclusão produtiva em outros municípios da Grande Vitória e interior capixaba”. 

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