Bolsonaro sai mais fraco e há quem estime que ele não conseguirá chegar até o final do mandato
Essas articulações representam o ápice de uma crise que tem sua origem desde o início da gestão Bolsonaro, que também foi obrigado a se desfazer do chanceler Ernesto Araújo, figura abjeta e principal condutor da política externa para colocar o Brasil no rol das nações mais marginalizadas do planeta. Ele teve que aturar a nomeação de um novo ministro do Exército com pensamento contrário à sua visão de controle à pandemia da Covid-19, responsável pela tragédia que atinge o Brasil. O general Paulo Sérgio defende medidas opostas às do governo federal.
O ex-capitão Jair sai mais fraco e há quem estime que ele não conseguirá chegar até o final do mandato. Avizinha-se, como tudo parece indicar, mais um tombo na estrutura do comando da nação. O impeachment já começa a ser admitido nas altas rodas da direita neoliberal, com o apoio de integrantes da cúpula militar, que desembarcaram da aventura de isolar governadores contrários ao descompasso e da irresponsabilidade da gestão federal no combate da pandemia, que chegou a quase quatro mil mortes em apenas um dia, muito próxima de ficar fora de controle.
Um cenário de horror, mas incapaz de aplacar movimentos oposicionistas a governadores que seguem as recomendações médico-sanitárias de combater a doença. Isso ocorre em vários estados, inclusive no Espírito Santo, com os deputados Capitão Assumção (Patri) e Torino Marques (PSL) na linha de frente dos que incentivam aglomerações e defendem o tratamento precoce com medicamentos rejeitados pela ciência. Fazem parte do grupo, também, a deputada federal Soraya Manato e seu marido, o ex-deputado federal Carlos Manato, e o senador Marcos do Val (Podemos).
O golpe de 2016, resultante de um festival de mentiras digno de qualquer Primeiro de Abril, ainda hoje arraigado entre os brasileiros, retirou o Brasil do bloco das nações respeitadas e soberanas, transformando-a em exemplo de atraso e obscurantismo com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro. Por meio dele ocorreu o crescimento de milícias e o estímulo à violência e à militarização da política, com representantes da área de segurança pública nas casas legislativas, levando o conceito autoritário do “nós contra eles”.
No Congresso Nacional, assembleias legislativas e câmaras de vereadores, o clima que despreza o diálogo, o debate e abomina o contraditório, de natureza fascista, está presente, numa representação de considerável parcela da sociedade alimentada pela manipulação da informação, a cargo da mídia convencional, mentirosa e comprometida com interesses do capital financeiro e a política neoliberal.
Um Bolsonaro enfraquecido ou até mesmo fora do governo não significa, no entanto, que o país reencontre de pronto o clima da democracia. A desinformação disseminada seguidamente pela mídia, por lideranças religiosas e políticas obscuras, que possibilitou a eleição de uma figura tão bizarra quanto o atual o presidente da República, ainda está ativa em grande parte da sociedade.
Basta olhar para a Assembleia Legislativa, a Câmara de Vitória, prefeitos e congressistas para ver que o fascismo está bem vivo, e, por isso, precisa se combatido. Nesse cenário, em que muitos pedem a intervenção das Forças Armadas, comemoram o regime de extermínio e debocham dos mortos da Covid, não tem como não lembrar a frase do deputado Ulissses Guimarães na proclamação da Constituinte de 1998, quando a ditadura militar foi sepultada. “Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações. Principalmente na América Latina”. Que assim seja..