Assumção e deputados de mais quatro estados são apontados como lideranças da PM que tentam incitar tropas contra governadores
Desobediência às medidas de isolamento social e tentativas de incitar a tropa contra governadores adversários do presidente Jair Bolsonaro. Esses são os movimentos apontados pelo jornal O Globo que ocorrem em pelo menos cinco estados, envolvendo sete deputados estaduais que são lideranças de baixa patente da Polícia Militar (PMES), entre eles o capixaba Capitão Assumção (PSL), oposição ferrenha a Renato Casagrande (PSB). No primeiro ponto, os protestos contra o lockdown e restrições ocorrem diariamente, no outro, envolve a politização também de pautas específicas da categoria para conservar o apoio ao presidente, como questões salariais e condições de trabalho. As investidas ganharam fôlego nos últimos dias após a morte na Bahia do soldado Wesley Soares Góes, quando bolsonaristas ligaram o fato a um ato de resistência às restrições estabelecidas nos estados em decorrência do momento mais grave da pandemia do coronavírus. Além da convocação de um motim na Bahia, o caso repercutiu no Espírito Santo, Ceará, Paraíba e Pernambuco. “Essa hipocrisia que está acontecendo na Bahia, acontece também no Espírito Santo. Estão jogando nossos amigos, nossos heróis, policiais militares, bombeiros e guardas civis, contra o trabalhador”, apontou Assumção em vídeo, como se estivesse falando com o presidente da República. “Nossos policiais não podem cair no engodo do governador, que não soube ou não quis se preparar para esse caos na saúde”, emendou, disparando também contra comandantes de polícia e secretários de Segurança, que estariam “castigando” e colocando a tropa numa “guilhotina”. O deputado, lembrado pelo O Globo também por sua participação na greve da PM de 2017, vem explorando essas questões insistentemente, tanto no plenário da Assembleia Legislativa como em manifestações nas ruas e nas redes sociais, estratégias incrementadas por pedido de impeachment e inúmeras acusações. Analistas e membros da bancada da bala ouvidos pelo O Globo apontam que as investidas têm eco nas forças de Segurança e resistem mesmo diante de insatisfações com o governo federal decorrentes da PEC Emergencial, que prevê congelamento de salários. No Espírito Santo, o cenário não se distancia: entidades representativas da área fazem sucessivas cobranças e críticas ao governo do Estado, com avisos de “grave crise institucional”, mas passam longe de Bolsonaro.
Efeitos internos II
Na Bahia, os movimentos são protagonizados pelos deputados Soldado Prisco (PSL) e Capitão Alden (PSC); no Ceará, pelo Cabo Sabino (Avante) e Soldado Noelio (Pros); na Paraíba por Cabo Gilberto Silva (PSL); e em Pernambuco, por Alberisson Carlos (DEM), presidente da Associação de Cabos e Soldados.
Reações
Wesley Góes foi abatido no último dia 28 por agentes do Bope, após sofrer um aparente surto psicótico e atirar em policiais no Farol da Barra, em Salvador. Ele portava um fuzil e um revólver. As reações de bolsonaristras ligando o fato às restrições da pandemia geraram uma carta assinada por 16 governadores contra o “estímulo a motins policiais e a divulgação de fake news”. Casagrande é um dos signatários.
Balança
Nesse cenário de conflitos, é considerado fator que pode aliviar a tensão a vacinação dos profissionais das forças de Segurança, que começou em alguns estados e, no Espírito Santo, nesta terça-feira (6). Também não se pode desconsiderar, por aqui, a anistia garantida por Casagrande a policiais envolvidos na greve realizada no governo Paulo Hartung. Mas será que ainda pesa na balança? Pelos últimos capítulos…não!
Urnas
Assumção, preso após a greve de 2017, atua como porta-voz da PM e foi eleito em 2018 com 27,2 mil votos. Nas últimas eleições, porém, ao tentar a prefeitura de Vitória apostando alto no bolsonarismo, atingiu apenas 7,22% – 12,3 mil -, e ficou em quarto lugar.
Urnas II
O deputado já pavimenta há tempos o campo para 2022, ao lado do “time do presidente”. Leia-se, principalmente, Carlos Manato (sem partido) e sua mulher, a deputada federal Soraya Manato (PSL), e o deputado estadual Torino Marques (PSL). Manato diz que será, novamente, candidato ao governo.
Oficial
O prefeito de Cachoeiro de Itapemirim (sul do Estado), Victor Coelho (PSB), tomou posse nessa segunda-feira (5) como presidente da Associação dos Municípios do Estado (Amunes). Candidato em chapa única, ele dá assim um salto no campo político, resultado das relações fiéis a Casagrande. A entidade é estratégica para as próximas eleições.
Oficial II
Victor foi eleito por unanimidade na última quarta-feira (31), com participação de 45 dos 78 prefeitos capixabas. O nome foi costurado pelo Palácio Anchieta junto com o ex-presidente da Amunes, Gilson Daniel (Podemos), atual secretário de Estado de Governo.
Até 2023
A nova diretoria conta ainda com o prefeito de Ibatiba, Luciano Pingo (Republicanos), como vice-presidente; Jailson Quiuqui (Cidadania), de Águia Branca, como secretário; e Wanderson Bueno (Podemos), de Viana, como tesoureiro. Pingo é do partido do presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, que está alinhado ao governador, e Wanderson o sucessor de Gilson Daniel. O grupo permanecerá no comando da Amunes até 2023.
Muro
Por falar em Erick, o deputado mandou recado em seu Twitter: “Líder é quem tem coragem de tomar decisão, com pulso firme e sempre em favor do povo. O muro foi feito para gato andar e para caco de garrafa”.
Nas redes
“Essa decisão de liberar os cultos nada tem a ver com dízimos como querem nos fazer acreditar. Tem a ver com reduto político de fácil dominação. Esta é uma base importante do bolsonarismo e é preciso manter em constante domínio pelo medo. Etereldes Gonçalves Júnior, matemático da Ufes.
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