As documentações e argumentações apresentadas pelo Organização Não Governamental (ONG) Juntos SOS ES Ambiental e a Companhia Espírito- Santense de Saneamento (Cesan) em relação à denúncia de presença de compostos químicos nocivos à saúde na água consumida na Serra, Vitória, Cariacica e Fundão, serão encaminhadas para o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), conforme decidido em reunião da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, nesta terça-feira (6).
O caso também apura a deficiência no tratamento de esgoto por parte da empresa Ambiental Serra, concessionária responsável pelo saneamento no município, em parceria público-privada com a Cesan.
A ONG apresentou matérias jornalísticas e documentos oficiais sobre a baixa qualidade da água fornecida, sobretudo na Serra, apontando a constatação da presença de trihalometanos e ácidos halocéticos (subprodutos da cloração). A presença das substâncias, segundo a entidade, foi atestada por nota técnica da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), que as classificou como responsáveis por “diversos danos à saúde”.
A Juntos SOS afirma que as substâncias podem causar câncer, sendo que os halocéticos teriam relação com problemas reprodutivos nas pessoas que fazem uso continuado.
Informações da Assembleia apontam que a pesquisa sobre a qualidade da água na Serra partiu de demanda apresentada pela Secretaria Municipal de Saúde e envolveu dados coletados pela Cesan entre novembro de 2016 e novembro de 2020.
Monitoramento
Na reunião, a gerente de Qualidade da Água da Cesan, Juciane da Silva Motta, destacou que “a prevenção e a solução de anomalias são acompanhadas diariamente por profissionais especializados, também utilizando equipamentos de alta tecnologia em cumprimento à legislação sanitária vigente”.
O chefe da Gerência Metropolitana Norte da Cesan, André Lima, disse que “anomalias ocasionais e pontuais podem ocorrer”, mas são resolvidas “o mais rápido possível”. Ele contou que, após a crise hídrica entre 2014 e 2016, observaram-se alterações das características das águas dos mananciais no Estado.
“Essas alterações influenciaram diretamente nos processos de tratamento já utilizados anteriormente, como, por exemplo, a etapa de pré-cloração, em que nós utilizamos o produto químico cloro”, explicou. “Tão logo a gente observou a formação desses subprodutos na água tratada, começamos a investigar, através do nosso corpo técnico, novas tecnologias para remoção”.
De acordo com ele, após diversos testes, a companhia passou a optar, desde 2019, pela utilização do peróxido de hidrogênio, substituindo o cloro na pré-oxidação da água. “Temos obtido nesse período excelentes resultados, minimizando a formação do THM, os trihalometanos, e dos ácidos halocéticos”, garantiu André Lima.
Tratamento de esgoto
Além de ser encaminhada para o MPES, a questão do tratamento de esgoto feito pela Ambiental Serra, empresa do grupo Aegea Saneamento, também será discutida na Comissão de Meio Ambiente da Assembleia. A iniciativa é do vice-presidente da comissão, o deputado estadual Bruno Lamas (PSB), que também quer que o assunto seja debatido na Frente Parlamentar Público Privada, a qual preside.
A ONG Juntos SOS ES Ambiental denuncia que a Ambiental Serra não vem prestando serviço de tratamento de esgoto de forma adequada, fazendo com que ele desague em lagoas e mares. Essa é a mesma crítica feita pelo biólogo e integrante da Comissão de Meio Ambiente da Associação de Moradores de Manguinhos, David Silveira.
“O esgoto doméstico está sendo jogado diretamente nos córregos Laripe, Maringá e Guaxindiba, este último divide Manguinhos e Bicanga. Causa poluição na praia, é um esgoto que deveria ser coletado e tratado. Se em Manguinhos está assim, imagine nos pontos mais distantes da estação de tratamento, que fica em Carapina?”, questiona o biólogo.
O início da parceria público-privada foi em janeiro de 2015, com previsão de término das obras de saneamento em 2023. O contrato vai até 2040 e a Serra Ambiental também é responsável pela operação, manutenção e ampliação da rede.