Locais garantiriam acolhimento desse público e, consequentemente, resultados mais efetivos no tratamento de drogadição
“Não respeitavam meu nome social, me chamavam pelo nome de registro. Eu fiquei lá, mas é um espaço que eu não me senti 100% acolhida”. Este é o relato de uma travesti atendida em uma clínica de tratamento para pessoas em situação de rua no Espírito Santo. Falas como essas têm mobilizado entidades capixabas para a reivindicação de um espaço em que pessoas LGBTQIA+ possam ser amparadas e respeitadas.
O local funcionaria como um espaço de tratamento e acolhimento para os usuários, também oferecendo cursos de capacitação e qualificação. “Entendo que é um diálogo necessário e urgente, principalmente durante a pandemia de Covid-19”, afirma Viviana Corrêa, presidenta da Câmara Técnica de Monitoramento, Prevenção e Combate à Violência LGBTIfóbica.
O Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Gold), que realiza projetos de atendimento à população de rua em Cariacica, Vitória e na Serra, já entrou em contato com deputados estaduais e senadores da bancada capixaba com ideias relacionadas ao assunto.
A coordenadora do Grupo Gold, Déborah Sabará, salientou que, na maioria das vezes, os espaços de tratamento para pessoas em situação de rua se misturam com espaços religiosos, e reforçam os estigmas em relação a essas pessoas.
“Precisa ser criada uma rede com o movimento social para que, ali, LGBTs possam visitar, dialogar e levar capacitação para aquela população”, enfatiza.
Viviana Corrêa acredita que um tratamento específico é essencial. “Pessoas LGBTQIA+ em nossa sociedade já sofrem preconceito e discriminação por serem quem são independentemente de classe social, mas a minha percepção é de que isso se acentua na população mais vulnerabilizada”, ressaltou.
Protocolo Sanitário
O Grupo Gold também está desenvolvendo um protocolo sanitário para profissionais do sexo no Espírito Santo. O objetivo é divulgar medidas de proteção para amenizar o contágio da Covid-19 entre pessoas que, sem outra fonte de renda, precisam recorrer à prostituição durante a pandemia.
Esse tipo de protocolo já tem sido divulgado em coletivos de outros estados e inclui a aferição da temperatura dos clientes, o uso de máscara, banhos mais frequentes, dentre outras medidas de higienização. “Nós estamos conversando com prostitutas da Paraíba para incluir outras ideias”, conta.
A Secretaria de Estado de Direitos Humanos (SEDH), questionada se existe algum projeto de implementação dessas políticas públicas no Espírito Santo, informou que, até o momento, não foi acionada oficialmente sobre as reivindicações, mas “está sempre aberta ao diálogo e monitorando de perto, para que suas ações e articulações atendam à população mais vulnerável”.
Entre seus vários objetivos, como informa, está “o de garantir acesso permanente à água e alimentação de qualidade, estratégias sanitárias, bem como estratégias para a geração de emprego e renda para esta população”.