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​Apostou no milhão

Faria uma delação premiada envolvendo algum político corrupto, e tudo acabaria bem

Apostamos à toa, por tudo e por nada. Aposto que chove, aposto que vai ter sol. Fica nisso, sem valores envolvidos ou amizades ameaçadas. Ou não. Por um toma lá dá cá, pisa aqui ou pisa lá, todo mundo briga. Aposto que essa pandemia não vai acabar nunca. Que nada, aposto que é uma gripezinha à toa. Apostas há que envolvem questões mais relevantes, e se esticam até virar feudos. Uma aposta sobre quem cuspia mais longe foi a verdadeira razão do feudo entre Montéquios e Capuletos – resultando na mais famosa história de amor de todos os tempos.

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As apostas fazem parte das histórias de amor: Aposto que não casam. Casaram? Aposto que não dura um ano. Dois anos!? Aposto que não chegam aos cinco. Dez anos, seis filhos? Quem diria! Apostamos na loteria e na qualidade do pão nosso de todo dia. Ali na padaria da esquina, aposto que vai fechar! Tinha até um sambinha do Morengueira – Etelvina, acertei no milhar. Se acertou, apostou. Não apostou e acertou: quatro mendigos ganharam 325 mil euros com bilhete que ganharam de esmola.

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Neuzinha fez uma aposta mais simples: O feriado de Thanksgiving ocorre na última quinta-feira de Novembro. Davelina esclarece que é raro, mas pode ocorrer em outras dias, embora sempre no final de novembro. Aposto que sim, grita uma, aposto que não, grita a outra, e Neuzinha se excede – Aposto um milhão! Dalvelina pergunta se ela tem um milhão para pagar, e Neuzinha garante que sim. Aposto que não, diz Dalvelina, e tenta racionalizar: Vamos baixar para dez dólares. Um milhão! Teima Neuzão. Era um tempo sem Google, quando dúvidas e dívidas demoravam a serem resolvidas. Dia seguinte, Neuzinha faltou ao serviço: Dalvelina ganhou. Obviamente, Neuzinha não pagou, como aliás não pagaria nem dez dólares.

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Os anos passaram, coincidentemente dez, e Dalvelina leva um tremendo susto ao conferir a conta bancária – um milhão de dólares depositados assim, sem mais nem menos, de uma só tacada. O que fazer? Ir ao banco informar o erro ou deixar que descobrissem por conta própria? Estava aposentada, viúva, sem filhos e ganhando o mínimo. Precisando de um implante dentário urgente, e com o telhado da casa desabando.

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Dalvelina fez as contas – uns zerinhos à toa, poxa! Pagou adiantado e à vista o conserto do telhado e o implante – sem recibo. O IR não iria nunca rastrear esses valores. E se mandou para o Caribe com o passaporte da prima: eram muito parecidas. Viveria como sempre sonhou viver, e quando a encontrassem, faria uma delação premiada envolvendo algum político corrupto, e tudo acabaria bem. Aí pipocou uma mensagem em seu email – Demorei mas paguei! Mais nada. Tudo isso por uma aposta boba.

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