O Conselho Deliberativo da Federação dos Trabalhadores, Agricultores e Agricultoras Familiares do Espírito Santo (Fetaes) pôs fim à Secretaria de Mulheres em reunião realizada nessa terça-feira (20). A medida, segundo a então titular da pasta, Augusta Búffolo, está entre as alterações feitas no estatuto da entidade. “A Fetaes deu voz ao machismo e votou pela invisibilidade das mulheres”, protesta.
O argumento para a extinção da secretaria, relata, foi o fato de a paridade entre homens e mulheres ter sido aprovada no ano passado, passando a valer para a próxima gestão, que começa em 2022. Por isso, o Conselho Deliberativo decidiu que, para garanti-la, teria que reduzir o número de cargos de sete para seis, possibilitando, então, três homens e três mulheres na diretoria. Assim, foi extinta a secretaria.
“A paridade é importante, é um avanço, mas ela por si só não resolve. Tem que dar visibilidade à luta das mulheres do campo, das águas e das florestas. Perdemos um espaço integrado à diretoria, um espaço que tem visibilidade, autonomia, que nos dá poder de voz e fala. Agora não teremos mais orçamento próprio para ações específicas. Seremos apêndice de outras secretarias”, afirma Augusta.
Ela aponta que, por meio da secretaria, é possível, por exemplo, discutir processos formativos para que as agricultoras possam ocupar espaços de poder e decisão, como o movimento sindical e o legislativo. “Com a decisão do último dia 20, a luta das mulheres sai enfraquecida, mas a perda momentânea de uma conquista não nos calará. Continuamos na luta”, destaca Augusta.
A agricultora recorda que a Fetaes é de 1968. Entretanto, somente em 1995 uma mulher ingressou na entidade, mas não como diretora, e sim, em uma coordenação vinculada à Secretaria de Formação. Em 1998 uma trabalhadora passou a compor a executiva, na Secretaria de Políticas Sociais. No ano de 2013 foi criada a Secretaria de Mulheres e da Terceira Idade. Quatro anos depois, em 2017, ela passou a ser somente Secretaria de Mulheres.
Augusta atribui o ingresso tardio das trabalhadoras na estrutura da Fetaes ao fato de que somente em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, as mulheres foram reconhecidas como trabalhadoras rurais. A partir daí, relata, passaram, por exemplo, a poder se sindicalizar e ter acesso a crédito rural. Porém, ainda hoje as mulheres passam pelo desafio de serem reconhecidas como pessoas que produzem.
“A sociedade enxerga o trabalho da agricultora como uma ajuda ao do homem, mas a mulher trabalha, produz, contribui com a renda da família”, destaca.
A Fetaes informa, em seu site institucional, que representa cerca de 500 mil trabalhadores e trabalhadoras rurais do Espírito Santo, organizada em 54 sindicatos filiados e 19 extensões de base.