Toda a cena norueguesa é baseada no Euronymous e no testemunho dele em sua loja
Ainda segue: “Na costa oeste da Noruega se encontra a antiga cidade de Bergen, famosa por sua atitude aristocrática de independência em relação às outras áreas do país – especialmente Oslo. Bergen era o lar de Kristian Vikernes (que posteriormente mudaria seu nome legalmente para Varg), um adolescente carismático com um entusiasmo explosivo por qualquer assunto que fosse sua fixação no momento”.
O relato continua: “Tendo tocado guitarra por anos, ele se juntou à banda de death metal Old Funeral, mas rapidamente se cansou da superficialidade e dos shows juvenis da banda”.
Ao tocar com o conjunto, Vikernes, aponta Lords Of Chaos, teve contato com muitos dos que mais tarde se tornariam importantes para o mundo do black metal. Ele conheceu os músicos que posteriormente formariam a banda Immortal, e também o lendário Euronymous.
“Depois de sair do Old Funeral, Vikernes formou uma one-man band para poder ter controle total sobre sua obra. Originalmente chamada Uruk-hai, em uma referência à obra de J.R.R.Tolkien, ele posteriormente mudou o nome do projeto para Burzum, outro termo cunhado por Tolkien que significa ‘escuridão”.
Segue Lords Of Chaos, “o Burzum não foi a única banda nova de black metal a surgir. Um conjunto de Oslo, Darkthrone, estava começando a chamar atenção e fez alguns shows nessa época. Alguns membros da banda ainda usavam roupas de ginástica, entregando as suas origens no death metal; outros começaram a usar trajes mais alinhados com a estética do black metal que começava a se desenvolver”.
Outros conjuntos, prossegue, logo reivindicaram o título de black metal, incluindo o Immortal (que também surgiu do que sobrou do Old Funeral) e um jovem grupo do interior de Telemark, Emperor. “Essa última banda, junto de Vikernes, estava destinada a cumprir um papel importante no processo de trazer ao gênero a atenção não só de colecionadores de discos, mas também das delegacias de polícia”, completa.
Euronymous abriu uma loja de discos que também virou gravadora, a Helvete, e que foi ponto de encontro das figuras mais importantes do cenário black metal que evoluiria naquela época.
Metalion diz: “Esse foi o momento da criação de toda a cena do black metal norueguês – está tudo conectado àquela loja, à influência que o Euronymous tinha sobre os clientes mais jovens, e a como ele os convencia do que era real ou não nesse mundo”.
Muitos dos caras do Immortal e do Darkthrone curtiam death metal normal e o Euronymous mostrou pra eles o que o black metal era de verdade, como as coisas deviam ser, e eles o seguiram.
Olhando para o primeiro álbum do Darkthrone e comparando com o segundo, dá pra ver a influência do Euronymous no segundo, A Blaze in the Northern Sky. Esse foi o primeiro álbum de black metal norueguês depois do Deathcrush, que foi realmente uma influência grande para o resto da cena.
Depois veio o Immortal, que era uma banda de death metal que virou black metal, também por influência do Euronymous. Mesmo que eles não admitam, é verdade. Mesma coisa com o Emperor – eles tinham uma banda chamada Thou Shalt Suffer, que era death metal, e virou Emperor, que era black metal. Toda a cena norueguesa é baseada no Euronymous e no testemunho dele em sua loja.
Ele convenceu do que era certo e do que era errado. “Sempre dizia o que pensava; seguindo os próprios instintos sobre o que seria o black metal verdadeiro tipo usar corpse paint e spikes, idolatrar a morte e ser extremo. Era isso que ele falava pra todo mundo”.
O livro Lords Of Chaos registra, neste trecho, o que gerou e desenvolveu o cenário black metal norueguês, e as sementes do mal que logo chocariam o mundo, numa versão diabólica do rock nunca antes vista.
O black metal norueguês daquela geração noventista que surgia ultrapassou a barreira da teoria, como o perverso psicanalítico, e alguns membros do que viria a ser o inner circle foram às vias de fato para produzir a polêmica e o caos.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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