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UTI

Um relato de quem foi e saiu de uma Unidade de Terapia Intensiva nessa pandemia

Um relato de quem foi e saiu de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nessa pandemia. Para chegar a esse ponto, passei por duas vezes em um Pronto Atendimento (PA). Da segunda vez, a situação tinha piorado e não deixaram mais sair. Na noite seguinte tive a informação de que tinha uma vaga em um dos melhore hospitais do Estado, o Vila Velha Hospital. Ali começava meu real contato com a Covid, e senti isso dentro de uma ambulância, cruzando a Terceira Ponte em silêncio, pois já era madrugada. Só as luzes ligadas. Eu que nunca tinha andado de ambulância ou entrado em um hospital por necessidade.

Deixei pra trás pessoas acometidas da doença e esperando transferência. Deixei pra trás a maioria das enfermeiras e suas devoções, paciência e amor, deixei pra trás familiares transtornados, mas amparados por Deus. Parentes só ficam sabendo depois.

Chegando ao hospital, fui carregado para um apartamento, isso depois de ter convivido com demais infectados numa enfermaria. Era o máximo, embora não sentisse isso. A Covid tira toda sua vontade e bloqueia sua visão de aquilatar o que é bom. Acamado, não dá vontade nem de falar ao celular ali na cabeceira.

Chegou o médico e fez suas perguntas, enfiou ar no meu nariz e visou que possivelmente eu teria de ir para UTI, que era para aguardar. Me preocupei. Depois veio uma enfermeira velha, com uma máscara, daquelas que tem uma focinheira e dois tubos do lado, parecendo um ET. Com foi curta e grossa. “O Sr. sabe da gravidade desta doença, então faça todo o possível para seguir as normas para que a gente possa lhe atender bem”. E saiu.

Passei o resto da noite, o dia seguinte e na noite seguinte aconteceu: UTI. Quando eles entram com uma cama, só avisam rispidamente, “Vamos para UTI Sr. Jose”. Apavora um pouco. São uns quatro, entre homens e mulheres. Pegam suas coisas, colocam no pé da cama, um tubo de oxigênio e você. Quis pegar o celular pra avisar em casa. Até então eles não sabiam que teria de ir para a UTI. Consegui avisar, mas não pude explicar. Estava entrando na UTI e lá não pode ter nada.

No caminho pelos corredores dessas alas, pude ver o teto à medida que ia pelo caminho. Tive lucidez de lembrar de filmes assim. Para passar para a cama da UTI, que é preparada, eles se juntam. Eu lembro que disse: “Deixa que posso tentar”. Com alguns me amparando, deitei na cama.

Em seguida entrou a turma da assistência de UTI para colocar eletrodos, aparelho DRT8 ou oxímetro, soro e demais remédios. Atrás da cama, numa prateleira, tem os aparelhos que medem tudo isso. O que controlava minha falta de ar tinha hora que ficava bipando incessantemente. Não se podia dormir.

Todas envidraçadas as UTIs são monitoradas por enfermeiras médicos e assistentes. Eu via toda essa movimentação. Via enfermeiras bonitas, bondosas, atenciosas, ativas, preocupadas. Via médicos entrando e saindo de outras UTIs. Na porta da minha estava o aviso: Covid Suspeito.

Quem fazia minhas necessidades era eu mesmo, mas com preparo da enfermeira Jéssica, uma alegre e brincalhona assistente. Nunca mais vou esquecer essa pessoa e tenho um compromisso de encontrá-la novamente e agradecer. Até banho ela me deu e banho na UTI é o maior barato. (Não é deboche e sim alívio no momento).

O chato numa UTI é o incômodo de virar pra dormir. De repente o aviso na porta indicava: Covid Confirmado. Meu único medo era a intubação. E toda vez que um médico e uma médica chegavam no vidro e me olhava e também aos aparelhos, eu rezava.

Foi na UTI que comecei a ingerir só líquido, mingau, sopa, suco. Ordem do médico superior. Dos sete dias que passei no hospital, emagreci oito quilos.

Em uma manhã, quando menos esperava, entrou uma médica bondosa, educada e de repente disse uma das mais importantes palavras que já ouvi na vida. Ela disse: E aí, vamos tirar os aparelhos de respiração? Você não precisa mais”. Eu ainda disse: “Sério Dra.”?

Ela Respondeu: “Sim, está tudo bem com o senhor, mas vai ficar essa noite em observação e amanhã vai para um quarto. Olhei para o canto do teto e consegui ver Jesus olhando pra mim.

Na manhã seguinte, Jéssica já entrou me zoando. Estava feliz. Também estava ansiosa para me transferir. Levou até a cadeira de rodas. Quando foi meio-dia, saía eu da UTI. Entramos num quarto da ala nova, quarto de enfermaria para duas pessoas, mas não tinha ninguém. Entrei, tudo novo, mas não tinha TV!!! Reparei que havia um janelão e dava pra ver parte de Vila Velha. Ouvia também barulho do recolhimento do lixo hospitalar lá embaixo. Devia ser o terceiro ou quarto andar.

Por incrível que pareça, foi a parte mais angustiante dos dias que passei no hospital. Eu me sentindo bem de respiração, mas ali, naquele quarto branco, sozinho, sem saber quando poderia ter alta. Mas a assistência continuava impecável: Remédios, medições, soros. Começa às 4h30 e a última era 23h30.

Foram dois dias e duas noites. Às vezes rezava com fé, às vezes imaginava coisas. Comecei a levantar da cama e ir até o janelão. Mas voltava logo para deitar. Ou sentava na cama, que dava para ver o sol sumindo. Um dia recebi a visita de Monica. Deixaram-na entrar um pouco. Trouxe o carregador do celular. Aí comecei a mandar mensagem pra todo mundo. Me preocupava muito com a mais velha Ranuze, sofreu muito.

Depois soube que algumas pessoas, entre parentes e conhecidos, se articularam muito enquanto eu estava por lá. Mas foi a mais nova, Zaira, que acertou tudo para eu ir para aquele hospital. Não tenho palavras para agradecer ao médico que interferiu e conseguiu o internamento tão rápido. Fora pessoas especiais de outros estados que se preocuparam e oraram.

Enfim, na última tarde apareceu o médico, conversou, me ouviu com aparelhos, e disse: “Você esta bem. Vou te dar alta. Amanhã de manhã passo aqui e te libero”. Nossa, não dormi, avisei ao pessoal de casa e algumas pessoas que deviam saber disso

Pela manhã, após o último soro na veia, entrou um rapaz para fazer a limpeza do quarto ou apê. Eu disse que ia embora e ele agradeceu a Deus. Descobri que ele torcia para o Flamengo. Pronto, o papo rolou enquanto ele passava aqueles produtos cheirosos.

Veio o almoço e nada do doutor. De repente entra uma cama com um doente de Covid no quarto. Ficou do meu lado. Em seguida entra o médico e começa a ouvir e falar com o paciente. Depois vira-se pra mim e fala: “Tudo bem? Vou te dar alta agora e saiu”.

Passadas duas horas, com Monica e Ranuze já esperando, entra um enfermeiro com uma cadeira de rodas e sai comigo. Passo por toda aquela ala novamente, mas desta feita, saindo. Lá fora vi o rosto de alívio de minha filha e o de descanso de Monica. Viemos pra casa.

É assim nos hospitais, principalmente agora, uns saem e outros entram. Comigo fará um ano em maio. Hoje sinto ainda algumas sequelas. Canso um pouco, fico irritado, mas muito indignado com este governo, de como tratou e trata a Covid. Mas dou graças ao SUS, que independente das mazelas do governo, faz o seu papel e faz bem.

E com imensa gratidão, graças a Deus, minha Covid não foi violenta.

Agradeço ao médico Claudio Eduardo Vargas (HVV).
Ao técnico de Enfermagem (PA).
À assistente de Enfermagem Jéssica (HVV).
E todos demais envolvidos nessa luta sem fim.

PARABÓLICAS

O JN tem pecado com algumas reportagens longas, que só interessam aos citados. É pra encher linguiça.

Nero Neto continua em alta com a sua rádio na Web, a RadioNero na web. Atende comercialmente o Rio e fora também.

Café Lindenberg, diretor-geral da Rede Gazeta, Neto, está no seu segundo mandato como presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ).

Fábio Pirajá continua com o locutor capixaba com mais prestígio entre as empresas que anunciam na TV.

ACESSE
http://jrm50anos.blogspot.com.br/

ACESSE TRADUÇÃO JRM YOUTUBE
Luiz Miguel – No Me Pratiques Mas
https://www.youtube.com/watch?v=1ywD0oanaBo

MENSAGEM FINAL
Quando você se move no sentido positivo, seu destino é a estrela mais brilhante. Bob Marley

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