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Estudantes da Ufes relatam sobrecarga emocional e dificuldades de acesso

Universidade encaminhou questionário à comunidade acadêmica para avaliar ensino remoto durante a pandemia

Sete meses após a implementação do Ensino-Aprendizagem Remoto Temporário e Emergencial (Earte), a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) encaminhou um segundo formulário à comunidade acadêmica para avaliar a modalidade de ensino durante a pandemia da Covid-19. Relatos de estudantes apontam sobrecarga emocional e dificuldade de acesso às atividades virtuais.

O ensino remoto foi implementado na Ufes em setembro de 2020. Neste momento, os estudantes cursam o semestre 2020/2 que se encerra no dia 15 de maio. Após sete meses de adaptação a um novo modelo de aprendizagem, os alunos relatam experiências desanimadoras.

“Os estudantes sabem da necessidade das aulas remotas e que o mundo inteiro adotou, mas transformaram o Earte em mais um dificultador neste momento difícil. Recebemos muitas demandas de estudantes que, com suspeita de Covid-19 ou algum familiar, precisam dar conta dos prazos e pressões”, ressalta o coordenador-geral da gestão provisória do Diretório Central dos Estudantes (DCE) na Ufes, Hilquias Crispim.

Karini Bergi

Para implementar o ensino remoto, a Ufes ofereceu auxílios de inclusão digital e acessibilidade para os estudantes em vulnerabilidade social. A diretora de Assistência Estudantil do DCE, Elissa Soeiro, conta que as ações possibilitaram que boa parte dos alunos tivesse condições de acesso aos equipamentos e internet, mas alguns continuaram enfrentando dificuldades.

“Os maiores problemas que chegam até nós pelo conjunto dos estudantes é que a conexão do chip de internet é ruim, o que dificulta na frequência das aulas e também, por exemplo, na abertura da câmera nas aulas síncronas. Muitos professores têm coagido os alunos por conta disso, não entendendo a realidade que está colocada para nós. Sem contar na quantidade exacerbada de atividades cobradas num momento pandêmico, em que nos encontramos bastante esgotados, assim como a nossa saúde mental”, relata.

Para Hilquias, os professores deveriam se sensibilizar mais com o contexto mundial e a Pró-Reitoria de Graduação precisa ser rígida no acompanhamento desses docentes. “O momento de pandemia não acabou, neste ano já morreram mais pessoas que no ano passado por Covid-19 e o que temos hoje é um pacto de silêncio em que seguimos estudando e trabalhando na expectativa de um dia termos vacinas para todos e, assim, voltarmos ao ensino presencial”, aponta o estudante.

Esse é o segundo questionário encaminhado pela Ufes à comunidade acadêmica. O primeiro foi enviado no final de 2020. Desta vez, também pretende avaliar o ensino híbrido, implantado em 9 de dezembro pela Resolução nº 56/2020. A pesquisa tem o objetivo de recolher as demandas físico-estruturais e psicoemocionais da comunidade acadêmica durante a pandemia e pode ser respondida até o dia 9 de maio.

Inclusão de alunos com deficiência

Outro ponto de discussão entre os estudantes é a inclusão de Pessoas com Deficiência (PCd’s), durante a pandemia. No último dia 20, o coletivo “Mães Eficientes Somos Nós” e o DCE denunciaram a situação de um estudante de Ciências Sociais, com autismo, que foi recusado em todas as matérias que solicitou e descobriu somente no final do semestre.

Samuel Martins denunciou o caso nas redes sociais, relatando que enfrenta dificuldades como essas de forma recorrente, assim como os demais alunos com deficiência. O coletivo realizou uma ocupação na Reitoria, deixando o local somente após uma reunião que garantiu a inclusão desses estudantes.

“Acessibilidade é um direito assegurado pela legislação brasileira, presente também na política das universidades do país, mas somente uma lei de acesso é o suficiente? Após ingressar no ensino superior, a realidade que as pessoas com deficiência encontram não corresponde às expectativas propostas pelas políticas de inclusão”, informou o DCE em nota.

Problemas vão além da pandemia

Apesar de terem sido agravadas neste momento, as demandas dos estudantes de universidades públicas são anteriores à pandemia. Elissa lembra que os cortes constantes por parte do Governo Federal têm sido uma preocupação para os alunos, e ainda há muitos estudantes que precisam do suporte financeiro e não são assistidos.

“No que se refere aos auxílios que já existiam na universidade como moradia, transporte e material, a Ufes está sobrevivendo a cada ano, desde a aprovação da PEC [Proposta de Emenda Constitucional] do teto de gastos, no limite. Hoje, enfrentamos um cenário de corte orçamentário de 2021, em que não sabemos se teremos como receber o auxílio estudantil a partir do mês de novembro”, denuncia.

Em 2020, a Ufes chegou a oferecer um auxílio pecuniário para atender estudantes que dependiam do Restaurante Universitário (RU) antes da pandemia. No entanto, o benefício teria sido cortado sem aviso prévio.

Na última semana, o DCE realizou uma reunião com a Administração Central para que os recursos para a assistência estudantil e as bolsas de apoio ao ensino, pesquisa e extensão sejam priorizados, visando a permanência dos estudantes. “Após a reunião, solicitamos que a reitoria da Ufes exerça, de fato, o diálogo conosco para que possamos discutir e decidir sobre os rumos da nossa universidade em conjunto com a comunidade acadêmica”, informa Elissa. 

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