O Coletivo Mães Eficientes Somos Nós divulgou nota nesta sexta-feira (30) em que denuncia agressões de seguranças da Prefeitura da Serra contra as integrantes do grupo, crianças e adolescentes especiais nessa quinta-feira (29). O Coletivo, que luta pela inclusão das pessoas com deficiência, afirma que foi impedido, com violência física, de entrar na sede do executivo municipal, ao tentar se reunir com o prefeito, Sérgio Vidigal (PDT), e a secretária de Saúde, Sheila Cristina de Souza Cruz. As mães foram ao local após saberem que a gestora da pasta não participaria de uma reunião virtual marcada desde 12 de março.
Na nota, o Coletivo explica que, ao entrar na reunião virtual, foi informado de que a secretária Sheila Cruz estaria em uma reunião do secretariado com o prefeito. Em março, recordam as mães, foi firmado compromisso por parte da gestão municipal de realizar toda última terça e quinta do mês, reuniões com os gestores das pastas de educação e saúde, respectivamente. “Mediante a esse fato, as mães decidiram coletivamente que iriam para a prefeitura fazer a reunião presencial com o prefeito e a secretária de Saúde, já que nossas demandas tinham menor importância”, afirmam.
Uma das exigências do Coletivo para a realização das reuniões é a participação do secretário da respectiva pasta. “Em nossa experiência de anos de militância, observamos muito jogo de empurra dos técnicos, que sempre diziam que iriam levar nossas demandas para serem discutidas com os secretários, e não obtínhamos nenhuma resposta. Desta forma, desde a gestão anterior, já tínhamos este compromisso coletivo de não aceitarmos reunião sem os gestores”, apontam.
De acordo com as mães, foi entregue em 12 de março, nas mãos de Vidigal, uma carta de compromisso de realização das reuniões, assinada por ele. Antes de ir até a prefeitura, as integrantes do Mães Eficientes avisaram para representantes do governo que iriam para a sede da administração pública, além de informar, no grupo de WhatsApp do Coletivo com o prefeito e seu secretariado, que queriam ser recebidas por Sérgio Vidigal e a secretária de Saúde após a conversa dele com o primeiro escalão.
“Mesmo em horário de funcionamento, o portão da prefeitura estava trancado e não quiseram abrir, mesmo com as mães estando embaixo de chuva. A primeira mãe ficou cerca de 20 minutos com sua filha criança, com deficiência intelectual, aguardando a liberação para entrar. Outras mães que chegaram depois também passaram pelo mesmo dissabor. Depois de entrarem na parte externa da prefeitura, as mães aguardavam ali o término da reunião do secretariado para entrarem e se reunirem com o prefeito e a secretária de Saúde”, narram.
As mães afirmam que informaram a um representante do governo que queriam conversar com o prefeito. “Ainda assim, quando menos esperávamos, os seguranças da PMS [Prefeitura Municipal da Serra] tentaram fechar a porta no intuito de nos impedir de entrar. Por esta razão, as mães que perceberam a ação se enfiaram entre a porta para impedi-los de fechá-la, já que o prefeito já tinha sido avisado de que não sairíamos dali sem a nossa reunião”, dizem.
O Coletivo aponta “despreparo e truculência” por parte dos seguranças. “Mesmo com as mães fazendo barreira corporal para impedir o fechamento da porta da casa do povo, os machos ali ficaram forçando a porta contra nossos corpos, nos machucando, sem se importarem com nossos filhos, que ali viam tudo, muitos dos quais crianças”, denunciam.
O relato prossegue: “Um dos seguranças pegou no seio de uma das mães do coletivo que estava na barreira humana. Este sujeito não usava sequer máscara de proteção contra a Covid. Aliás, toda a ação gerou aglomeração tanto de nossas famílias quanto dos seguranças que tentavam nos impedir de entrar, e também de muitos curiosos que estavam dentro da prefeitura e não tiveram qualquer iniciativa sobre a situação, a não ser ficar observando”.
Houve uma ocasião, segundo as mães, que “a porta afrouxou”, e três mulheres conseguiram entrar na recepção da Prefeitura. “Outras foram impedidas pelos seguranças de entrarem. Em determinado momento, um dos seguranças da Prefeitura saiu e agrediu um adolescente autista que estava ali lutando com sua mãe para ter o seu direito à saúde garantido. Outra criança de nove anos com deficiência intelectual relatou chorando que bateram na barriga dela. E um jovem com deficiência intelectual foi empurrado”, denunciam.
As mães informam, ainda, que uma delas ligou para a polícia. “Para nossa surpresa, quando a Guarda Municipal, chegou ficou nos escoltando, guardando o patrimônio público e nos impedindo de subir até o gabinete, ao invés de irem atrás do segurança que bateu em nossos filhos com deficiência. Mediante ao ocorrido, decidimos que iríamos ficar acampadas na Prefeitura, se fosse o caso, para aguardar o prefeito retornar no outro dia, caso não voltasse para nos atender, já que mesmo sabendo que ali estávamos, preferiu ir embora”.
Depois de algum tempo, afirmam as mães, representantes da gestão de Sérgio Vidigal tentaram convencê-las a voltar para a casa, dizendo que o prefeito e a secretária tinham ido embora e as atenderiam no outro dia, o que foi recusado pelas manifestantes. Após muita insistência, elas foram recebidas pelo prefeito em seu gabinete. “A reunião aconteceu, as pautas saúde foram colocadas, escutamos explicações sobre a reunião, segundo ele marcada de urgência. Mas estamos fartas das pessoas com deficiência nunca serem prioridade em lugar nenhum. Tudo que temos de direitos das pessoas com deficiência tem sido historicamente conquistado com muita luta”, desabafam.
“Ouvimos de tudo na reunião, mas não ouvimos qualquer pedido de desculpas por parte do prefeito sobre a truculência com que fomos recebidas. Mesmo ouvindo nossos relatos sobre a agressão de três pessoas com deficiência e contra as mães, a resposta do prefeito é que fossemos fazer um BO [Boletim de Ocorrência]. Pedimos a ele neste momento que nos cedesse as imagens internas e externas gravadas por câmeras da Prefeitura e, rapidamente, o chefe da Segurança veio até a ele dizer que não iam ceder, a menos que fosse com pedido da polícia”, contam.
“Gostaríamos de saber como faremos BO com nossos filhos em crise, surtados, depois do que passaram?”, questionam, apontando dificuldades enfrentadas por mães de pessoas com deficiência, como a impossibilidade de levar os filhos ao médico quando estão em crise; de fazer exames preventivos por não conseguir ir ao posto de saúde agendar, já que não têm com quem deixar os filhos; e o desamparo por parte do Estado.
Criminalização do movimento social
O Comitê Capixaba da Campanha Nacional pelo Direito à Educação no Espírito Santo divulgou nota nesta sexta-feira (30) afirmando que repudia “o confronto com as mães, crianças e jovens com deficiência na Prefeitura Municipal de Serra”.
O Coletivo, segundo a nota, “busca sempre dialogar e incidir nas lutas e causas da pessoa com deficiência. O tempo de pandemia é duro e sempre necessitou e exigiu do poder público uma escuta sensível e ação de políticas articuladas para as famílias, o que não ocorre na Serra e nem em nenhuma outra prefeitura municipal na Grande Vitória”.
Para o Comitê, o ocorrido na prefeitura foi um ato de “criminalização do movimento social”. “Sempre denunciaremos e repudiaremos”, ressaltam.