Em meio a uma pandemia que exige cuidados ainda maiores com a higienização, moradores de alguns bairros da Grande Vitória têm convivido com a constante falta d’água. Essa realidade está presente, por exemplo, em locais como Manguinhos, na Serra; Vila Prudência, em Cariacica; e no Território do Bem, localizado na capital e composto pelas comunidades de São Benedito, Bairro da Penha, Itararé, Bonfim, Consolação, Gurigica, Jaburu, Floresta e Engenharia.
A professora Darlete Gomes do Nascimento, moradora de Vila Prudêncio, relata que a falta d´água é constante, sendo que a última durou cerca de 10 dias, ocorrendo de 12 a 21 de abril. Embora tenha contatado a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) para resolver o problema, a única iniciativa da empresa foi encaminhar, somente uma vez, um carro-pipa, relata.
Darlete afirma também ter recebido a promessa por parte da Cesan de envio de uma equipe técnica até 24 horas após as ligações que fez relatando o problema, mas não foi cumprida em nenhum momento. A professora relata que abriu um protocolo no guichê da Cesan no Faça Fácil, sendo garantido a ela que receberia a resposta para sua demanda no período de 30 a 60 dias, além de ter acionado o Procon.
Não bastassem as inúmeras interrupções no abastecimento de água, quando ela cai, denuncia Darlete, é principalmente de madrugada, no período entre meia noite e 5h, que o abastecimento é retomado, fazendo com que a família tenha que adequar sua rotina a essa realidade. A moradora de Vila Prudêncio relata que tem que utilizar a máquina de lavar roupa de madrugada, pois se usar a água que chegou na caixa à noite para isso durante o dia pode ficar sem uma gota para outras atividades domésticas.
A professora, inclusive, já contou com a solidariedade de amigos para enfrentar a situação, por exemplo, com a doação de inúmeros potes com água. Ela também já teve que comprar, embora pague a taxa mínima mensalmente, tendo água na torneira ou não. Em Manguinhos, o diretor da associação de moradores, David Silveira, relata que, muitas vezes, a água acaba sem aviso prévio por parte da Cesan.
De acordo com ele, há inconstância no abastecimento, já que em alguns momentos a água fica disponível somente em uma parte do dia. “Normalmente acontece com a água que vem da rua, que não depende da caixa, mas quando falta em um longo período, a caixa esvazia”, reclama.
Ofícios para a Cesan e Prefeitura de Vitória
Após realizar o atendimento de mais de 20 famílias que relataram a falta de acesso à água no Território do Bem, a Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo (DPES), por meio do Núcleo de Defesa Agrária e Moradia (Nudam), oficiou a Cesan, a Prefeitura de Vitória e a Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação solicitando informações. As instituições oficiadas têm o prazo de cinco dias para responder as solicitações.
Segundo relatos dos moradores para a DPES, as casas não recebem água e naquelas que chegam, o abastecimento é feito em apenas uma parte do dia, em muitos casos durante a madrugada. “Desde o final de 2020, o acesso ao recurso tem sido cada vez mais escasso, sendo fornecido em intervalos cada vez maiores. Alguns residentes relataram ainda que estão sem água há duas semanas”, diz a DPES.
Para evitar que a situação se prolongue e as famílias sejam ainda mais prejudicadas, a Defensoria solicitou à Cesan, por meio de ofício, que esclareça os motivos da falta de água no Território do Bem e as providências que têm tomado para normalizar a prestação do serviço.
À Prefeitura de Vitória e à Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação, a Defensoria pede que sejam informadas, entre as demais solicitações, se há conhecimento do problema de falta de água no Território do Bem; se há projeto para a implementação de um sistema de abastecimento de água nos bairros da região e previsão para a implementação desse projeto.